O Porto tem uma grande componente mitológica que se pode testemunhar dentro e fora dos edifícios da cidade. Dos finais do século XVIII até aos inícios do século XX, a arquitetura clássica influenciou a construção de importantes infraestruturas, como é o caso do Hospital de Santo António, do Banco de Portugal ou da Estação São Bento. O JPN acompanhou uma visita guiada pela historiadora Isabel Andrade Silva para conhecer os mitos que a cidade esconde.

A viagem da historiadora pela mitologia clássica teve início muito antes das sessões que agora organiza. A paixão de Isabel Andrade Silva por um Deus marca o começo dos quatro ciclos de percursos culturais: “Apaixonei-me pelo Deus Mercúrio que está no palácio do Bolhão. Esse foi o primeiro, gostei tanto dele que resolvi ver se havia mais representações do Deus Mercúrio ou de outros Deuses na cidade.”

O Banco de Portugal é um dos edifícios que mais influência sofre da mitologia clássica, através da inclusão de colunas jónicas, cornucópias da abundância, de leões (sinal de poder) ou de um frontão triangular com a presença da Deusa Ceres (à esquerda), de Mercúrio (à direita) e da Majestade (ao centro).

Mitologia Clássica presente na fachada do edifício do Banco de Portugal

O elevado grau de representatividade de Mercúrio, Deus do Comércio, nos edifícios da cidade pode estar relacionado, segundo a historiadora, com a “presença fortíssima dos ingleses no Porto”. A Inglaterra era um dos países com que Portugal mantinha uma relação comercial privilegiada desde o século XI, além de que o povo inglês foi “o que mais fez perpetuar o estilo neoclássico”, refere.

Outro dos edifícios que mais absorve a arquitetura clássica e a componente mitológica é a Estação São Bento, nela estão representadas mais uma vez as cornucópias da abundância, as estações do ano e o Deus Mercúrio, que aqui sofre alterações com o cruzamento da mitologia nórdica.

As cornucópias da abundância estão representadas na Estação São Bento

Isabel Andrade Silva, historiadora e guia de percursos culturais, vê nas sessões de divulgação da história e cultura da cidade um meio de alertar as pessoas para a realidade: “A cidade tem muita história, muita arte e as coisas têm que ser valorizadas e isso não está a acontecer. Não se deve destruir, deve-se aproveitar e valorizar o que há”.

A viagem pela mitologia na cidade do Porto vai a meio, mais dois ciclos culturais estão marcados para os dias 15 e 27 de março.

Artigo editado por Sara Beatriz Monteiro