O jornal “O Jogo” comemora esta quinta-feira o 33º aniversário. É um dos jornais desportivos com maior tiragem em Portugal e concorre pelas audiências numa luta a três. José Manuel Ribeiro, diretor do título que tem base no Porto, falou de um “jornal honesto”, “bem escrito” e que conseguiu alcançar a credibilidade do público ao longo dos 33 anos de vida.

José Manuel Ribeiro frisa, em entrevista ao JPN, que ao longo dos anos o jornal se manteve na mesma linha no plano editorial, mas a aceitação do diário pelos portugueses revelou-se “uma luta complicada”.

Quais foram as maiores conquista de “O Jogo” ao longo destes 33 anos? A pergunta abriu a conversa e a resposta não se revelou fácil.

José Manuel Ribeiro escolheu a “credibilidade” como palavra-chave nesta viagem de mais de três décadas: “A maior conquista foi a credibilidade. Sendo um jornal do Norte, com a tentação fácil de conotação com o FC Porto, foi sempre uma luta complicada aceitarem-nos como iguais nesta guerra da imprensa nacional. Mas temos conseguido superar”.

Na opinião do diretor, o jornal “foi inovador em muitas coisas”: “Lançamos várias rubricas que marcaram o quotidiano, como o Tribunal d’O Jogo. Fomos o primeiro jornal diário em Portugal e, apesar de não termos resistido muito tempo,  provamos que tínhamos razão e voltamos ao ativo”, contou ao JPN.

O site do jornal também foi uma dor de cabeça para a administração, mas o problema foi resolvido: “Lançámos o site em 2012. Estava entregue à exploração [os conteúdos eram feitos fora da redação] e nós recuperamo-lo, fomos ganhando terreno e em 2017 conseguimos ultrapassar, pela primeira vez na história, um dos nosso concorrentes, o jornal “Record”, no que toca às audiências no online”, explicou José Manuel Ribeiro.

“Lançamos várias rubricas que marcaram o quotidiano, como o Tribunal d’O Jogo.”

A dificuldade do impresso é cada vez maior numa era em que o online parece ser o futuro. Mas “O Jogo” em papel é para manter: “A nossa visão é que o papel é essencial até que nos convençam do contrário. Achamos que o papel tem mais vida”, confessou ao JPN.

Redação do Jornal O Jogo na Rua Gonçalo Cristóvão, Porto. Foto: Filipe Rodrigues Ferreira

José Manuel Ribeiro acredita que a indústria dos jornais tem de fazer mais para valorizar o impresso: “Há um esforço que a indústria ainda não fez para motivar e consciencializar as pessoas de que os jornais são importantes”.

O mundo digital é uma aposta do diário desportivo, mas não tem relação direta com a queda do impresso: “A aposta no digital não vai depender do papel. Temos de explorar bem o online porque é lá que estão as pessoas e isso implica em investir muito nas formas de comunicar e investir na aprendizagem. Mas também temos de fazer o esforço para encontrar novas vias de valorizar o papel”, afirmou.

“Somos o jornal desportivo que vende mais no Norte”

Uma das formas que a administração de “O Jogo” encontrou para agradar ao público foi criar uma edição de domingo mais virada para o “lazer”. A aposta já tem dois anos e “a reação foi muito boa”.

Questionado acerca da média de leitores do jornal, José Manuel Ribeiro revelou que “por dia há meio milhão de pessoas a lerem o impresso e entre 700 mil e 800 mil o online”. O jornal vende “cerca de 18 mil exemplares todos os dias”.

É verdade que a grande fatia dos leitores de “O Jogo” são do Norte do país? A resposta a esta questão não é assim tão linear: “Há uma grande diferença entre papel e online. O impresso é quase só circunscrito à Região Norte, ao ponto de sermos o jornal desportivo que vende mais no Norte”, atirou José Manuel Ribeiro.

No entanto, “de Coimbra para baixo, os números são menos otimistas”. No que toca ao online, a conversa “é completamente diferente”: “Muitas vezes, Lisboa é a nossa maior cidade, a repartição é muito mais uniforme”, contou o diretor.

Algumas das capas mais emblemáticas da História do Jornal O Jogo. Foto: Filipe Rodrigues Ferreira

Nas redações de “O Jogo” – no Porto e em Lisboa – trabalham “à volta de 50 jornalistas profissionais, mais colaboradores regionais, especialistas e colunistas. Ao todo cerca de 80 pessoas, sem falar da equipa gráfica”.

José Manuel Ribeiro destacou “a energia, a imaginação, a inteligência e a capacidade de reação às coisas novas” como pontos positivos da publicação. Como ponto negativo, mencionou “a dificuldade em mostrar esses pontos fortes às pessoas”. “A nossa imagem em muitas partes do país não é aquela que nós sentimos”, rematou ao JPN.

Uma vida dedicada a “O Jogo”

Carlos Flórido entrou para a equipa de “O Jogo” quando o jornal tinha quatro meses de vida. Acompanhou a história do desportivo nestes 33 anos e hoje é editor da secção de Modalidades.

Em declarações ao JPN, Carlos Flórido disse que os tempos trouxeram “imensas mudanças” ao jornal: “Sempre fomos um jornal revolucionário, fomos o primeiro diário em Portugal e isso obrigou ‘A Bola’ e o ‘Record’ a também se tornarem num jornal diário”.

Para além disso, “‘O Jogo’ foi o primeiro a utilizar computadores na redação e o primeiro a ter um site próprio”. As maiores diferenças prendem-se com o destaque dado ao futebol e às modalidades: “Quando abriu, o jornal dedicava 50% do espaço ao futebol e 50% às modalidades. Com o passar dos anos, a aposta no futebol foi crescendo porque a crise obrigou-nos a dar às pessoas o que querem ler”, afirmou o editor de modalidades do desportivo.

Secção Online do O Jogo. Foto: Filipe Rodrigues Ferreira

O ex-estudante de Engenharia Mecânica crê que o “online é o futuro”, mas espera “que o impresso dure muitos anos”. Na opinião de Carlos Flórido, a crise no país obrigou as pessoas a deixarem o papel: “Já tentamos fazer capas só com modalidades, mas quando o fazíamos as vendas baixavam. Temos de dar às pessoas o que elas gostam mais”.

O editor da secção de Modalidades acredita que as Modalidades são mesmo um ponto forte do jornal: “Temos uma secção organizada, todos os dias tentamos apresentar um trabalho que as pessoas gostam, mas nem sempre há espaço para publicar tudo”, concluiu.

Artigo editado por Filipa Silva