As comemorações dos 150 anos do nascimento de Jorge Rey Colaço, autor dos painéis de azulejos da Estação de São Bento, no Porto, iniciam-se esta segunda-feira, e vão prolongar-se até ao final do ano.

A investigadora Cláudia Emanuel está a fazer a tese de doutoramento, na Universidade Católica do Porto,  sobre a vida e a obra azulejar de Jorge Rey Colaço. Através deste estudo encontrou mais de mil painéis do autor em 127 locais.

“Neste momento, posso dizer que existem painéis em todos os distritos do país, incluindo Açores e Madeira”, afirma a investigadora ao JPN.

Jorge Colaço é considerado um inovador por pintar sobre o azulejo vidrado já cozido, dando um aspecto aguarelado aos painéis. A pintura tradicional é feita sobre o azulejo e dificilmente se consegue retificar o que se pinta.

“[O pintor] conseguiu arranjar forma de colocar o azulejo como se estivesse a pintar sobre uma tela.”

“Temos que ter em atenção que Jorge Colaço era pintor de telas e começa a pintar sobre o azulejo. Como não dominava muito bem essa técnica conseguiu arranjar forma de colocar o azulejo como se estivesse a pintar sobre uma tela”, explica Cláudia Emanuel.

Estação de São Bento – a ilustração da história do Norte do país

A encomenda partiu da administração dos caminhos de ferro. Depois de verem os trabalhos de Colaço na Faculdade de Ciências Médicas de Lisboa, resolveram adotar uma decoração idêntica para revestir a Estação de São Bento. “Fernando de Sousa, que era um dos membros do concelho de administração, disse que essa ideia partiu dele” , afirma a investigadora.

A técnica de pintar em azulejo vidrado já cozido também foi levada para a Estação de São Bento, o que permitiu que os azulejos encomendados pudessem sofrer alterações. A abertura da estação, projetada pelo arquiteto José Marques da Silva, data de 1896. Os azulejos foram instalados entre 1905 e 1906.

Os painéis do átrio principal da estação representam temáticas históricas e, principalmente, ações passadas no Norte do país.

Para além da Estação de São Bento, existem também outros trabalhos de Jorge Colaço na Invicta, como o Exterior da Igreja de Santo Ildefonso e da Igreja dos Congregados.

Jorge Colaço, o pintor e a obra

Jorge Colaço nasceu em Tânger, a 26 de fevereiro de 1868, filho de José Manuel Colaço, ministro em Marrocos. Casou com dona Branca de Gonta, poetisa, que era influente nos círculos culturais portugueses da época. Juntos tiveram três filhos que seguiram as pisadas artísticas dos pais e do avô Tomás Ribeiro, pai de dona Branca.

O pintor fez os estudos preparatórios em Lisboa na escola académica e prosseguiu os estudos artísticos em Madrid e Paris, onde teve formação académica com o pintor Ferdinand Cormon, representante da Escola de Paris.

Em 1893, conseguiu expor uma tela no conceituado salão de Paris, o que, para qualquer artista, era considerado uma grande consagração. Começa a sua carreira artística como caricaturista, onde teve grande destaque no campo do humorístico português, chegando a dirigir o suplemento humorístico do jornal “O Século”.

Em 1902 e 1903, em Lisboa, começou a experimentar um novo suporte para as suas pinturas, o azulejo, que o levou a conhecer a família Gilman, proprietária da fábrica de Sacavém.

Em 1904, o rei dom Carlos e o conde de Paçô Vieira em visita a uma exposição na Sociedade Nacional de Belas Artes, em que Colaço participou pela primeira vez como pintor de azulejos, solicitaram vários painéis expostos e surgiram as primeiras encomendas.

Pouco depois, surge também a conhecida encomenda para a decoração do Palace Hotel do Buçaco, feita por Emídio Navarro. A terceira grande encomenda foi para a Estação de São Bento.

Em data incerta, o pintor vai para Sacavém trabalhar e monta aí o seu ateliê, onde permanece até 1924. Colaço chega ainda a trabalhar para a fábrica Lusitânia até 1942, ano em que faleceu.

Importância de preservar e dar a conhecer a obra de Jorge Colaço

Questionada sobre a importância de preservar e dar a conhecer o trabalho de Jorge Colaço, Cláudia Emanuel responde: “duvido que haja mais algum pintor, em Portugal, que tenha pintado quer com tanto esplendor quer sobretudo com esta quantidade. Quando comecei o estudo conhecia cerca de 70 painéis, portanto, ter ultrapassado a barreira dos mil era impensável.”

“Jorge Colaço conseguia fazer alterações nos azulejos com técnicas inovadoras e é justamente a valorização desse trabalho e dessa técnica que tem de ser preservado. Ele foi o único pintor a trabalhar assim”, remata.

Existem outros locais com painéis tão relevantes quanto a Estação de São Bento, mas pouco conhecidos.

A história de arte, diz a investigadora, “tem-se limitado a falar do clássico como São Bento, Pavilhão Carlos Lopes, algumas estações de comboio e pouco mais”, mas acredita que existem outros locais tão importantes quanto esses que não são tão conhecidos pelo público.

As celebrações dos 150 anos do nascimento de Jorge Rey Colaço são coorganizadas pela Câmara Municipal de Loures, Infraestruturas de Portugal, Comboios de Portugal, Museu Nacional do Azulejo, Fundação Instituto Marques da Silva e pela investigadora Cláudia Emanuel.

Artigo editado por Filipa Silva