O Dia da FMUP foi celebrado esta quarta-feira na Aula Magna da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto. Durante a sessão, Maria Amélia Ferreira, diretora da instituição, sublinhou a necessidade de assegurar a sustentabilidade da faculdade com recurso a um maior investimento por parte do Estado.

Só no que diz respeito a despesas com funcionários, Maria Amélia Ferreira afirma que “a FMUP necessitaria, no mínimo, de mais três milhões de euros por ano de Orçamento de Estado”.

A diretora da faculdade sublinhou ainda a importância de serem criadas estruturas por parte do Sistema Nacional de Saúde e do Ministério da Saúde para que se possam ensinar médicos, porque “ensinar medicina é muito especial e tem de ser assumido exatamente como tal”.

Apesar das dificuldades, a professora louva a capacidade de superação da instituição e, mais especificamente, dos docentes, porque “conseguem trazer as verbas – que são deficitárias através das propinas – através dos cursos que fazem, através da prestação de serviços e através de projetos”.

Em conversa com o JPN, Maria Amélia Ferreira, admite que a resolução para o problema tem de passar pelo Ministério do Ensino Superior da Ciência e Tecnologia e pelo Ministério da Saúde. A diretora da instituição defende ainda que a sustentabilidade da FMUP tem de ser discutida também dentro da própria Universidade do Porto de maneira a que se perceba o porquê do apoio financeiro ser “insuficiente e desajustado”.

“Estou disponível para continuar a liderança da FMUP num novo mandato”

Maria Amélia Ferreira aproveitou o discurso na Aula Magna para anunciar publicamente que estaria disposta a prolongar as suas funções enquanto diretora da FMUP, faculdade que a acolheu enquanto estudante e professora. Uma nova eleição permitiria realizar dois grandes projetos que no atual mandato não foram executados.

Os dois projetos em causa são: a construção de um centro de simulação biomédico e a criação de um instituto de investigação clínica. O primeiro vai ser realizado em breve nas estruturas da pediatria, uma vez que esta foi transferida para a ala pediátrica do Centro Hospitalar São João.

As perspetivas de quem celebrou o dia da FMUP em cinco pontos

A sessão da celebração dos 193 anos de ensino médico no Porto contou com a presença de Walter Osswald (professor jubilado), do reitor da Universidade do Porto (UP), Sebastião Feyo de Azevedo, do presidente do Conselho de Administração (CA) do Centro Hospitalar São João (CHSJ), António Oliveira e Silva, do representante do pessoal não docente e não investigador, Armando Jorge e da presidente da Associação de Estudantes (AEFMUP), Inês Azevedo.

1) Walter Osswald: Máquinas “serão sempre as nossas escravas

O professor jubilado iniciou o discurso fazendo uma analepse para o tempo em que a faculdade se dedicava a “servir a sua causa, de maneira mais eficaz e humana, tendo sempre as melhores bases científicas”. Já numa perspetiva sobre a atualidade da medicina, o orador convidado afirmou que o cuidado, nos dias de hoje, é centrado no doente: “não há doenças, só há doentes”.

Walter Osswald reconheceu a necessidade das faculdades garantirem uma boa preparação aos seus alunos para a inteligência artificial: “É preciso que os nossos estudantes se preparem, não tanto para um futuro distante, como sobretudo para uma realidade do aqui e agora”.

O professor jubilado disse, ao JPN, a existência de máquinas serve exclusivamente para auxiliar o trabalho de um médico e não para o substituir: “Nunca nos podemos deixar dominar por elas [máquinas] como se fossem as nossas donas, elas serão sempre as nossas escravas”.

2) Sebastião Feyo de Azevedo: UP precisaria “de ter mais 30 milhões de euros de orçamento”

O reitor da UP lamentou o facto de a Universidade do Porto ter vindo a perder o apoio por parte do Estado desde 2010: “Nós hoje para estarmos ao nível do que tínhamos como referência em 2010 deveríamos de ter mais 30 milhões de euros de orçamento relativamente ao que temos atualmente”.

Sebastião Feyo de Azevedo referiu ainda a intenção do governo de criar uma agência de financiamento para a investigação nas ciências da saúde – Agência para a Investigação Clínica e Inovação Biomédica – que poderá vir a ter sede no Porto e que tem como objetivo “congregar esforços dentro do setor público e privado de forma a aumentar o investimento de menos de seis milhões de euros por ano para qualquer coisa como 20 milhões em cinco anos”.

3) António Oliveira e Silva: “Já não é possível termos um hospital organizado assim”

António Oliveira e Silva partilha a ideia de que o foco é o doente. Para o presidente do Conselho de Administração do São João, para se ser docente clínico é necessário ser um excelente médico de hospital. Para isso, é preciso que exista uma boa organização hospitalar, o que não é o caso. António Oliveira e Silva frisa que os hospitais continuam organizados da mesma maneira que eram há 50 anos, por especialidades médicas: “isto já não é possível termos um hospital organizado assim”.

Oliveira e Silva lançou uma crítica à diretora da FMUP: “Temos de ser radicais, não podemos continuar a ter espaços que estão vazios há anos e que são absolutamente necessários à atividade clínica, mas pertencem a um departamento da faculdade que nunca o usou nem vai usar”.

4) Armando Jorge: “São os desafios difíceis que nos fazem crescer e os tornam mais saborosos”

Armando Jorge,  representante do pessoal não docente e não investigador, admitiu ter sido surpreendido com as adversidades que o cargo implicava, mas agradeceu o voto de confiança para estar à frente do cargo: “As dificuldades foram muitas, mas são os desafios difíceis que nos fazem crescer e os tornam mais saborosos”.

Avançou ainda que não vai continuar a exercer funções no próximo ano letivo, mas deixa um apelo a futuros candidatos: “disponibilizem um pouco do vosso tempo, sejam participativos e não se esqueçam de votar em quem vos merecer a confiança”.

5) Inês Azevedo: “Que não se formatem cérebros, mas que se transformem seres humanos”

Inês Azevedo, presidente da Associação de Estudantes (AEFMUP), alegou que ser estudante de medicina nos dias de hoje é totalmente diferente do que era na semana passada, devido ao facto de a média do curso de medicina não ser incluída no cálculo da nota de acesso à formação específica até 2024.

No entanto, a estudante admite estar preocupada com o facto de a nova prova de acesso à especialidade poder comportar encargos para os estudantes, uma vez que é essencial para ter especialidade médica.

A presidente da AEFMUP aproveitou ainda para lançar um apelo a todos os que integram a instituição: “Que as mentes de todos os contactam de perto com a formação de um médico, estejam suficientemente abertas e predispostas a contribuir com muito mais do que conhecimento clínico. Que não se formatem cérebros, mas que se transformem seres humanos.”

Entrega de Prémios 

Na cerimónia em que se celebraram os 193 anos de ensino médico no Porto os melhores estudantes da faculdade foram recompensados com a atribuição de prémios.

O Prémio Professor Ernesto Morais foi entregue à estudante com a melhor classificação na unidade curricular de imunologia, Ana Sofia Martinho.

O Prémio Maxdata e Excelência em Medicina foi entregue a Diogo Magalhães, uma vez que foi o melhor estudante de mestrado integrado em Medicina no ano letivo 2016/2017.

No Prémio Irmandade dos Clérigos foi atribuída a distinção ao laureado Doutor Pedro Diogo pela realização do projeto “Avaliação das Competências Clínicas” através do Objective Estructure Clinical Examinations.

Artigo editado por Sara Beatriz Monteiro