Rafael mostrou-se leão mas, numa batalha de futebol, os portistas foram mais eficazes. Marcano e Brahimi fizeram os golos do FC Porto e o Sporting, no fim desta jornada, pode ver a liderança mais longe do que o quarto lugar.

O FC Porto venceu o Sporting por 2-1, esta sexta-feira, no Estádio do Dragão, com Brahimi e Marcano a serem os marcadores de serviço para a equipa da casa. Para o Sporting, de nada valeu o golo de Rafael Leão e os leões já estão a oito pontos da liderança.

Em noite de clássico, o mau tempo que assolou a cidade Invicta durante o dia era, porventura, tão nublado quanto o pensamento dos treinadores na hora de decidir os onzes que avançariam para o relvado do Dragão.  Seria um exercício monótono elencar todos os ausentes de um jogo que, por isso, se podia tornar atípico. Atípico, mas não menos decisivo.

À medida que nos aproximamos da reta final do campeonato, os pontos vão ficando mais caros. Quando questionado se, em caso de derrota, o Sporting ficaria afastado da luta pelo título, Jorge Jesus começou por dizer: “Já sabia que iam fazer essa pergunta”. É verdade: esta pergunta adivinhava-se porque, se ficasse a oito pontos do FC Porto, os dragões teriam de perder, no mínimo, um terço de todos os pontos em disputa para o Sporting poder ser campeão. Isto, claro, sem contar com o Benfica.

Na conferência de imprensa de antevisão do jogo, Sérgio Conceição dissera que, dadas as ausências, não haveria espaço para muitas surpresas entre duas equipas e dois treinadores que se conhecem perfeitamente. Ainda assim, havia prata de casa na manga.

Aboubakar e Ricardo Pereira estavam em dúvida, recuperaram e foram para o banco. Sérgio Conceição, não querendo forçar a condição física de dois jogadores que já foram indiscutíveis, não teve problemas em entregar a titularidade a Gonçalo Paciência (estreia a titular desde que regressou) e Diogo Dalot.

Do lado leonino, a grande dúvida era perceber quem apareceria no lugar de Gelson Martins. A opção avançada pela imprensa como mais provável era a colocação de Rúben Ribeiro a extremo-direito, mas a decisão de Jesus foi a experiência de Bryan Ruiz. Antes do jogo ficava a dúvida: quem jogaria no apoio a Doumbia? Jogaria Bruno Fernandes a médio direito deixando Bryan Ruiz a alternar entre segundo avançado e terceiro médio ou jogaria Bryan à direita deixando Bruno na sua posição mais natural? Os primeiros minutos foram claros: Bruno Fernandes apareceu à direita como já tinha feito na meia-final da Taça da Liga.

Foi com um ambiente incrível que o jogo começou, mas a festa das bancadas contrastava com a tensão que se vivia dentro do relvado: duas equipas a respeitarem-se cautelosamente. Nessas circunstâncias, a equipa mais feliz é sempre a mais eficaz.

Até aos 28 minutos, o marcador não funcionara e a palavra “ineficácia” ganhava contornos de importância: empate a um em oportunidades desperdiçadas, com Doumbia e Marega a serem as vítimas. O Dragão desesperava perante um jogo em que o FC Porto não conseguia impor-se à frente de um Sporting cínico com Bruno Fernandes a aparecer em todo o lado e a causar muita indefinição na defesa portista.

Esse empate de ineficácia acabou quando Marcano voou mais alto que todos e descansou as hostes que lideram a Liga. Boa resposta do espanhol ao cruzamento de Herrera, num lance que nasce de uma segunda bola ganha por Maxi na sequência de um canto.

Empate em cima do intervalo

O FC Porto, com a tranquilidade que a vantagem transmite, partiu para o seu mais tranquilo período da primeira parte. Com o relógio a aproximá-los da cabine, os jogadores portistas cederam à tentação de tentar gerir a vantagem até ao intervalo e, mesmo em cima da hora, deram-se mal e foram feridos por um Leão que não estava nas contas. Chamado para substituir o lesionado Doumbia, Rafael Leão rugiu bem alto e mostrou que um leão ferido não é um leão morto. A segunda parte iria começar como a primeira: empatada. Mas por pouco tempo.

A partir do momento em que Brahimi, logo a abrir a segunda parte, concluiu com classe e frieza uma boa jogada dos dragões e devolveu a vantagem à sua equipa, este jogo de futebol virou uma batalha: muitas quezílias, muitos assobios, muitas faltas e muitos nervos.

Este era, possivelmente, o jogo mais importante do campeonato até ao momento e o Dragão, que já está “adormecido” há quatro anos, quis começar a acordar. Os jogadores do Sporting começavam a perder algum controlo emocional perante a boa postura defensiva do FC Porto e a quantidade de contra-ataques que o FC Porto conseguia fazer só podia ter um destino: o golo da tranquilidade.

Uma equipa que esteja a vencer pela margem mínima nunca está tranquila e, na primeira parte, o FC Porto sentiu isso na pele. Iria a história repetir-se? Voltaria o leão a rugir?

Quando Marega se lesionou a cerca de dez minutos do fim, não se lesionou um jogador: lesionou-se uma ideia. Sem Marega, a capacidade do FC Porto matar este jogo no contra-ataque reduz-se muito e, percebendo isso, Sérgio Conceição decidiu cerrar os dentes e reforçar o meio-campo perante o último fôlego do Sporting. Assim, o chamado a substituir o maliano foi Diego Reyes, mas o santo foi outro.

O Sporting, já dentro dos últimos cinco minutos, teve duas oportunidades incríveis para marcar. Na primeira, apareceu Casillas, que mostrou o porquê de todo o seu estatuto e voltou a agarrar três pontos vitais para o FC Porto. A segunda foi um espelho da segunda parte do Sporting: um pontapé cheio de força dentro da área, mas sem discernimento. Faltou cabeça aos comandados de Jorge Jesus, que tiveram nos instantes finais o seu melhor momento do jogo.

No final do jogo, Sérgio Conceição reforçou a ideia de que nada está ganho e não dá o Sporting como afastado da corrida ao título, apesar dos oito pontos de diferença entre as duas equipas.

Já na opinião de Jorge Jesus, o Sporting “foi melhor”. No final da partida, resignado, o treinador leonino assumiu, mais do que uma vez, que o campeonato está “muito mais difícil”, apesar de falar da importância de estar na Liga dos Campeões da próxima época e garantir que o Sporting não atirará “a toalha ou o lençol ao chão”.

O FC Porto prossegue a sua campanha invicta na Liga e atira o Sporting para mais longe do título. No fim desta jornada, os leões podem ver-se a três pontos do Benfica e a quatro do Braga no quarto lugar.

Artigo editado por Filipa Silva