Jaber Badran, um refugiado sírio que vivia há dois anos no Porto, partilhou com o JPN o desespero pelo facto de não poder exercer em Portugal a sua profissão: médico. Este mês, Jaber engrossou o número de refugiados que acabam por abandonar o nosso país depois do acolhimento.

Jaber Badran nasceu na Síria. Em 1988, especializou-se, enquanto médico, em gastroenterologia e endocrinologia. Em 2014, com o avanço da guerra, fugiu de Deir eiz Zor, perto de Damasco, com a família, depois de sentir a sua vida ameaçada pelas forças do Daesh.

Foi, primeiro, para a Turquia. Mas não encontrou aí descanso. Sentiu-se perseguido pelo Estado Islâmico, por ser médico e prestar apoio aos refugiados ali retidos.

Chegou a Atenas em 2015, onde ficou por um ano, e veio para Portugal no início de 2016. Jaber e a família foram acolhidos no Porto, uma cidade onde, diz, as pessoas são “simpáticas e prontas a ajudar” e o clima faz lembrar a cidade natal. Mas o médico sírio de 55 anos conta também que o Governo lhe falhou e que os processos burocráticos são morosos. Acusa o Serviço Jesuíta aos Refugiados de não ter cumprido, até ao momento, as promessas que alega terem-lhe sido dirigidas.

O principal motivo de descontentamento de Jaber é não poder exercer e não poder viver do seu trabalho. Quer viver como um cidadão comum, sem depender da Segurança Social. Quer, também, que a sua história seja ouvida.

O caso de Jaber está longe de ser único em Portugal. Desde o início da guerra, há oito anos, mais de cinco milhões de pessoas ficaram em situação de requerente de asilo. A Portugal chegaram 1.520 refugiados entre 2015 e 2017. Cerca de metade já abandonou o território nacional.

A história de Jaber, que diz “morrer cem vezes por dia”, ajuda a explicar a integração dos fugitivos da guerra, mas não é o panorama todo. O JPN ouviu André Costa Jorge, diretor do Serviço Jesuíta aos Refugiados (SRF), para compreender o que tem sido feito em termos burocráticos e porque uma pessoa em situação de refugiado não pode residir noutro país que não o que o acolheu.

Jaber vivia no Porto com uma família numerosa de seis filhos, o sétimo a caminho. Vivia, mas não vive mais. Cerca de duas semanas depois da entrevista com o JPN, o sírio deixou o país com a mulher e os filhos. O SRF não tem indicação do seu paradeiro.

Artigo editado por Filipa Silva e Sara Beatriz Monteiro