A greve de trabalhadores de empresas privadas que servem a comida nas escolas ou nos hospitais públicos afetou várias escolas do país. Os trabalhadores queixam-se de precariedade e salários muito baixos. No Porto, pelo menos dez escolas ficaram sem cantina a funcionar nesta segunda-feira.

A greve foi convocada pela Federação dos Sindicatos de Agricultura, Alimentação, Bebidas, Hotelaria e Turismo de Portugal (FESAHT) e, na manhã desta segunda-feira, cerca de 50 trabalhadores das cantinas da região Norte concentraram-se junto às instalações da AHRESP, no Porto, exigindo aumentos salariais.

Em declarações ao JPN, Francisco Figueiredo, dirigente da FESAHT adiantou que há 94 cantinas fechadas na região norte e 83 na região centro.

A greve afeta cantinas de escolas básicas e secundárias e a adesão foi “muito grande”. Para além das cantinas das escolas, há cantinas fechadas em hospitais, centros de formação e algumas fábricas “onde a adesão ronda entre os 60% e os 80%”, garante Francisco Figueiredo.

No Porto são muitos os alunos que não tiveram a cantina aberta nesta segunda-feira. O dirigente sindical mencionou a Escola Secundaria de Fontes Pereira de Melo, a Escola EB 2,3 do Viso, a Escola EB Eugénio de Andrade, a Escola Nicolau Nasoni, a Escola EB 2/3 de Gomes Teixeira, a Escola E B 2,3 De Ramalho Ortigão, a Escola EB 2,3 Dr. Leonardo Coimbra, Escola Secundária Carolina Michaelis, a Escola Básica Augusto Lessa e a Escola Básica Manoel de Oliveira.

Francisco Figueiredo adiantou que ainda “não tem a informação completa” de quais as escolas sem cantina e afirmou que ainda está a ser feito o levantamento das escolas do primeiro ciclo do ensino básico onde se fez greve.

“Os concelhos escolares não têm a autorização dos pais para substituir a sopa, o prato de carne/peixe e sobremesa”

O sindicalista garantiu que a adesão foi elevada no Porto, Gaia, Matosinhos, Póvoa de Varzim (onde as cantinas estão quase todas fechadas) e Gondomar (14 cantinas encerradas).

A greve acaba hoje à meia-noite, mas vão realizar-se “mais ações de luta se as empresas não cederem”, garantiu Francisco Figueiredo. O dirigente da FESAHT adiantou que a Federação “vai pedir reuniões com a associação patronal e se as negociações não evoluírem vai haver mais greves”.

A FESAHT acusa algumas escolas de estarem a fornecer refeições substitutas aos estudantes, algo que o sindicalista considera “ilegal”.

“De acordo com as normas em vigor, quando não há cantinas as escolas encerram. Há certos conselhos escolares a fornecer sandes, sumos e peças de fruta ao preço da refeição na cantina, algo que consideramos uma ilegalidade”, confessou Francisco Figueiredo.

“Os conselhos escolares não têm a autorização dos pais para substituir a sopa, o prato de carne/peixe e sobremesa”, acrescentou o dirigente que garantiu que a FESAHT já “denunciou a situação junto das autoridades de inspeção do trabalho”.

“Para a qualidade das refeições ser aumentada, as escolas precisam de mais trabalhadores nas cantinas”

Francisco Figueiredo disse que os “salários miseráveis” motivaram esta greve: “As greves são manifestações de luta dos trabalhadores e obrigam as empresas a mudar. Não se podem aceitar estes salários baixos, miseráveis”, concluiu o sindicalista.

Filinto Lima, presidente da Associação Nacional de Diretores de Agrupamentos e Escolas Públicas, disse ao JPN que a paralisação”causa constrangimentos às escolas”, mas considerou que a greve é “justa”.

“As cantinas fecharam e os pais dos alunos do primeiro ciclo tiveram de ir buscar os filhos para almoçar. Os estudantes do secundários levaram almoço de cas,a porque alguns já sabiam da greve ou foram comer ao restaurante ou café mais próximo”, afirmou o Presidente.

Na opinião de Filinto Lima, a greve é justa: “Esta greve é justa, porque os funcionários ganham pouco, têm contratos precários e são poucos. Para a qualidade das refeições ser aumentada, as escolas precisam de mais trabalhadores nas cantinas”.

O Presidente da Associação de Diretores de Escolas contou que, por vezes, “as empresas não cumprem com o que celebram com o Ministério da Educação, quer ao nível do número de funcionários, quer ao nível da quantidade e qualidade dos alimentos”.

“Sabemos que muitas das refeições nem sempre têm a qualidade desejável e para muitas crianças é a principal refeição que têm ao longo do dia”

Para Jorge Ascenção, presidente da Confederação Nacional das Associações de Pais (CONFAP), a greve causa “transtorno”, mas espera que sirva para melhorar as condições de trabalho dos funcionários das cantinas.

“Quando a escola fecha não cumpre a sua missão e isso causa algum transtorno. O plano de trabalhos para o ano letivo exige que todo o tempo seja investido no ensino e há pouco tempo para consolidar e tirar dúvidas. É sempre uma preocupação”, explicou Jorge Ascenção em declarações ao JPN.

Na opinião do Presidente do Concelho Executivo, “ninguém deseja as greves, mas elas são um instrumento dos trabalhadores reivindicarem os seus direitos e nós desejamos que todos se sintam confortáveis nos seus locais de trabalho”.

Jorge Ascenção afirmou que a vontade da CONFAP é que esta greve sirva para melhorar o serviço nas cantinas escolares: “Sabemos que muitas das refeições nem sempre têm a qualidade desejável e para muitas crianças é a principal refeição que têm ao longo do dia. Queremos que todos consigam desenvolver um bom trabalho”, concluiu.

Artigo editado por Sara Beatriz Monteiro