Desde nova que respira moda. Os pais de Sara Cruz são donos de uma confeção e, por isso, aos seis anos andava no meio de botões. Dez anos mais tarde, já ajudava a fazer alguns desenvolvimentos de peças.

O primeiro coordenado que criou foi um vestido de malha preto, justo ao corpo, com uma capa branca onde estavam pintados os dizeres dos lenços dos namorados. Foi uma produção para um concurso em Vila Verde de lenços dos namorados.

Do distrito de Braga para o Porto, a criadora de 25 anos decidiu participar em mais um concurso. Sendo uma pessoa ambiciosa, que gosta de inovar e aprender, Sara considera que o Bloom “vai servir principalmente para aprender” e a “lançar para alguma empresa ou para outros designers que gostem do trabalho” que realiza.

A concorrente da Trofa afirma que esta plataforma é “uma boa entrada para a indústria da moda”. A prova disso são os próprios jovens designers inseridos neste espaço, que viajaram até Milão para apresentar as suas propostas na Alta Roma, como Inês Torcato e David Catalán.

Ter estudado design de moda na Escola de Moda do Porto ajudou-a “no processo de organização e de como realmente se cria ou se desenha uma coleção”, nota. No final do curso apresentou uma coleção de roupa para o género masculino.

A coleção do Portugal Fashion

O início da história da coleção tem como cenário o local de trabalho de Sara. Um dia, enquanto desenrolava um rolo de tecido, apercebe-se de que este tem defeitos e que estes vêm marcados com uma etiqueta. Isto serviu como mote para uma coleção [de etiquetas] que deu origem à narrativa por trás das peças a apresentar no concurso Bloom.

Através destas etiquetas, Sara Maia transporta uma reflexão sobre a rejeição para os coordenados: “estou a tentar passar para o vestuário aquilo que se passa no nosso dia-a-dia. Nós acabamos por rejeitar e definir certos defeitos nas outras pessoas, mas temos alguma dificuldade em ver os nossos próprios defeitos”.

Todas as peças da coleção de Sara Cruz têm uma etiqueta que representa um defeito. Foto: Cortesia Sara Cruz

Enquanto que o público consegue ver essas falhas, o modelo que a veste não vê os defeitos. As etiquetas, que representam estas imperfeições, encontram-se nas costas ou outros locais que a própria pessoa não alcança.

No entanto, ao longo da coleção vai havendo uma consciencialização dos defeitos individuais. Isto é visível através da colocação das tais etiquetas em espaços visíveis a quem usa a peça.

O clássico contrasta com um estilo mais desportivo, não apenas ao nível das silhuetas como dos pormenores. Há um jogo de xadrez, malhas texturadas e colagens de alta-frequência que encontram, através de tecidos técnicos e materiais de alfaiataria, a simplicidade como adversária.

Artigo editado por Sara Beatriz Monteiro