O programa “Mais Ativos, Mais Vividos Alzheimer” foi criado pelo Centro de Investigação e Atividade Física, Saúde e Lazer (CIAFEL) da Faculdade de Desporto da Universidade do Porto (FADEUP). É a mais recente extensão de um projeto base, “Mais Ativos, Mais Vividos”, coordenado pela professora Joana Carvalho, que existe há mais de 22 anos e é focado na população sénior da região do Grande Porto.

Os idosos com alzheimer têm sessões bissemanais com duração de cerca de 60 minutos e acontecem tanto em horário pós-laboral – para os casos em se pode incluir o cuidador e o idoso que vive na comunidade – como em horário laboral -para os idosos que se deslocam junto com as suas instituições para a faculdade. No primeiro caso, caso o cuidador queira participar os exercícios são adaptados.

As sessões são lecionadas por licenciados em Ciências do Desporto e mestres em Atividade Física e têm a oportunidade de realizar o estágio curricular com esta população. A iniciativa começou em 2016 através do mestrado de Flávia Machado, em Atividade Física para a Terceira Idade.

A importância dos cuidadores é fundamental neste tipo de sessões, explica Flávia Machado, agora aluna de Doutoramento em Atividade Física e Saúde na FADEUP e mentora do programa, e que neste momento é  coordenadora com um trabalho mais ativo na “componente prática”.

As sessões são compostas por grupos mais pequenos que podem incluir um cuidador.

As sessões são compostas por grupos mais pequenos que podem incluir um cuidador. Foto: Miguel Ângelo Afonso

A estudante destaca a importância dos cuidadores “perceberem os benefícios e a importância da prática de exercício físico e que ajudem o seu familiar a incluir este tipo de rotinas no seu dia-a-dia”.

Flávia Machado mentora do programa "Mais Ativos, Mais Vividos Alzheimer"

Flávia Machado mentora do programa “Mais Ativos, Mais Vividos Alzheimer”

“Também ajudam a sabermos de que forma o idoso está a reagir e a garantir a melhor comunicação possível”, acrescenta.

“As pessoas sentem-se incluídas e apoiadas o que geralmente não acontece com esta população que é excluida de qualquer atividade. Notam que fisicamente estão mais aptas e funcionalmente mais capazes”, afirma Flávia Machado.

O filho e cuidador de uma das participantes (que pediu para não ser identificado) confirma as afirmações da investigadora: “A minha mãe tem tido uma reação excelente e está sempre à espera de que haja aula. Os resultados têm sido muito bons e ajudam-na não só a estar ativa e a socializar como também a praticar desporto”.

A seleção do grupo de idosos que atualmente fazem parte do programa foi feita por Joana Meireles em conjunto com uma equipa de médicos neurologistas no hospital de São João.

Assim explica o filho e cuidador de uma das participantes que conta que lhe foi solicitado, durante uma consulta, para “participar num programa de exercício físico” de forma a perceberem se “realmente existiam resultados positivos ou se pelo menos não havia uma evolução negativa” e desde o ano passado que faz parte do programa.

As sessões adotam uma metodologia multicomponente por verificarem já em estudos que “tem um potencial muito grande não só a nível funcional nas atividades do dia-a-dia, mas também por estar associado a níveis de adesão e satisfação muito altos”.

Os exercícios são executados de forma a que ajudem no quotidiano.

Os exercícios são executados de forma a que ajudem no quotidiano. Foto: Miguel Ângelo Afonso

Embora as sessões não se foquem na estimulação cognitiva explica que “o estimulo cognitivo está sempre ligado à parte física”, desta forma tentam incluir nos exercícios pequenos estímulos de cor, de forma, de objetos, “desde que não lhes cause frustração, não diminua a intensidade de treino e que nunca o cognitivo impeça o físico”.

O cuidador com quem o JPN falou destaca, de entre os aspetos positivos, a mobilidade que se “mantém boa” e que “o exercício físico ajuda bastante”. Quanto à memória não demonstra melhorias, mas “não regrediu”, o que é significativo, tendo em conta que “já lhe foi diagnosticado a patologia há cerca de quatro anos e não tem havido uma regressão muito rápida.”

O cuidador acrescenta que, no que depender da sua disponibilidade, quer continuar a trazê-la: “Em termos profissionais vai dando até hoje e espero que continue assim no futuro, pois precisa de ter alguém que a ajude”.

Os estagiários tentam conjugar na atividade física alguns estímulos cognitivos.

Os estagiários tentam conjugar na atividade física alguns estímulos cognitivos. Foto: Miguel Ângelo Afonso

Arnaldina Sampaio, cujos estudos em contexto institucional, nesta vertente, serviram de base para o projeto, orienta agora algumas alunas neste projeto. Depois de algum tempo sem assistir às aulas destacou as diferenças positivas nos idosos.

“Em alguns dos participantes não se veem declínios neurodegenerativos. Vemos que há um ou outro caso em já se nota um declínio o que também é normal, pois temos que nos lembrar que isto é uma doença neurodegenerativa, que com o tempo vai piorando.”

A investigadora alerta ainda para a dificuldade do diagnóstico precoce da patologia. “As pessoas só vão ao médico quando já têm sintomas porque existe a ideia de que é normal as pessoas esquecerem-se das coisas por estarem a envelhecer  quando na realidade estão a desenvolver uma demência”.

“Temos também um problema cultural de um certo tabu por ser uma doença ligada ao foro mental as pessoas acabam por esconder. É preciso acabar com estas barreiras pois estas pessoas merecem toda a qualidade de vida e nós estamos aqui prontos para ajudar”, acrescenta.

O diagnóstico precoce é fundamental no combate à progressão da patologia.

O diagnóstico precoce é fundamental no combate à progressão da patologia. Foto: Miguel Ângelo Afonso

De acordo com a investigadora, é importante ainda formar mais profissionais na área do exercício físico que estejam aptos a conseguir lidar com estas pessoas pois trata-se de uma patologia que “está a aumentar cada vez mais, o que é assustador”.

“Queremos dar a pessoas com esta patologia, que normalmente são negligenciadas, uma oportunidade não farmacológica, um ambiente de socialização e de preservação das capacidades funcionais, mas para isso precisamos de pessoas”, afirma.

A importância de contribuir para a sociedade ao aumentar o conhecimento científico nesta área é extremamente importante para a investigadora. “Já percebemos que o exercício físico pode ser uma arma contra a demência e de certa maneira podemos prestar um apoio à comunidade”.

Através de resultados do âmbito institucional de Arnaldina Sampaio, e também da tese de mestrado de Flávia Machado, foi possível verificar que “em determinados componentes físicos e funcionais no desempenho das atividades do quotidiano já existem benefícios”

Comparativamente a um grupo de pares com a mesma patologia, mas que não praticam exercício físico e mantêm os cuidados médicos, é possível verificar que “a progressão da doença nestas pessoas é muito mais significativa e que acontece de forma mais acelerada.”

Na parte cognitiva não se verificaram melhorias, mas comparativamente aos grupos de controlo “mantiveram o seu estado o que é considerado um resultado positivo para uma patologia neurodegenerativa em que é espectável que ao fim de “x” tempo a cognição esteja pior”, sublinha a estudante.

A prática de exercício físico ajuda no combate à progressão da doença ao nível das capacidades funcionais.

A prática de exercício físico ajuda no combate à progressão da doença ao nível das capacidades funcionais. Foto: Miguel Ângelo Afonso

A sustentabilidade do programa para anos futuros é garantida pela participação de mais pessoas. Para quem se quiser candidatar basta entrar em contacto com a Universidade através do gabinete de recriação e tempos livres ou através do facebook “Mais Ativos, Mais Vividos”. A participação implica o pagamento de um seguro e depois as sessões são gratuitas.

Flávia Machado, estudante de doutoramento, recebe esta quinta o Prémio de Cidadania Ativa, no domínio desportivo, durante a cerimónia comemorativa do Dia da Universidade.

Artigo editado por Sara Beatriz Monteiro