O chhaupadi é um costume comum nos países de crença hindu, que consiste em expulsar de casa as mulheres durante o seu ciclo menstrual, uma vez que são consideradas “impuras”. A prática vai ser alvo de discussão na Reitoria da Universidade do Porto, pelas 15h30, este sábado, dia 24. Radha Paudel, ativista internacionalmente reconhecida pelo trabalho que tem desenvolvido contra a discriminação de género, é a oradora principal do encontro.

Paudel, vítima desta prática, vai relatar na primeira pessoa a sua experiência e das mulheres nepalesas neste período, durante o qual são obrigadas a permanecer em abrigos de vacas, com o objetivo de “não contagiarem a casa”.

A cada ciclo menstrual, estas mulheres não podem beber leite, comer carne, vegetais ou frutas, tocar em homens – independentemente do laço que os una – plantas de flor ou torneiras de água. Os templos e as cozinhas também são de acesso interdito. Aquelas que não respeitam estes costumes são amaldiçoadas em “rituais de morte”.

Assistir às restrições e tratamento da mãe e das irmãs a cada menstruação foi o que levou a ativista a fugir e a criar uma fundação que tem por finalidade chamar a atenção da opinião pública para este costume.

Em 2005, o Supremo Tribunal do Nepal proibiu oficialmente o chhaupadi, mas relatórios da ONU confirmam que esta prática continua a ser recorrente no país. Atualmente, o Nepal prepara-se para que, a partir de agosto de 2018, esta realidade – que em 2017 provocou a morte de pelo menos três mulheres, de acordo com a imprensa internacional – seja considerada crime.

As causas das mortes variam. Podem dever-se ao facto de estarem expostas a frio ou calor extremos, à inalação de fumos das fogueiras que acendem para se aquecer, a infeções ou mordidas de animais.

Radha, citada pelo “Jornal de Notícias”, acredita que o número real de mortes é substancialmente maior. “Não há dados oficiais porque há um grande silêncio à volta disso. Só são conhecidos os casos relatados pela polícia e pela comunicação social. As pessoas ocultam e conformam-se com o destino”, disse a ativista que lamenta que uma investigação aprofundada sobre o assunto ainda não tenha sido iniciada.

Uma jovem de 23 anos foi encontrada sem vida numa cabana situada junto à sua casa, em janeiro de 2018. Inalação de fumos causada por uma fogueira que Gauri Bayak Budha acendeu para se aquecer terá sido a causa da morte, segundo noticiou a agência EFE na altura. A vítima teria ido dormir para a cabana no fim de jantar e foi encontrada morta na manhã seguinte.

A conferência organizada por um grupo de “Amigos Solidários” de Radha Paudel, com o apoio do GRAAL – Movimento Internacional de Mulheres Cristãs e do G.A.S. Porto – Grupo de Ação Social do Porto, conta ainda com a presença de Sebastião Feyo de Azevedo, Reitor da UP, Maria Teresa Cruz, Cônsul do Nepal em Portugal, e Helena Vilaça, professora da Faculdade de Letras da Universidade do Porto (FLUP).

A docente da FLUP será a responsável por iniciar a sessão com uma conversa sobre “A mulher, religião e cultura no ocidente”, de modo a abrir o debate sobre as questões que dividem o lado ocidental e oriental, principalmente no que diz respeito à igualdade de género.

A sessão está aberta à comunidade em geral e as inscrições são gratuitas.

Artigo editado por Filipa Silva