Miguel Vieira e Hugo Costa já tinham apresentado as suas coleções nas semanas de moda internacionais. Enquanto que o primeiro o fez em Milão, o criador que começou a sua carreira no espaço Bloom mostrou as suas propostas para as estações frias em Paris.

No dia 23 de março, sexta-feira, foi a vez do Porto ver as peças que criaram para o outono e inverno de 2018.

Ambos pegaram em movimentos culturais, símbolos da juventude, que primam pela rebeldia. Desconstruíram, assim, conceitos e convenções através das suas coleções.

Hugo Costa questiona e insurge-se para o outono/inverno

A coleção de Hugo Costa teve como ponto de partida a cultura punk, caracterizada pela reação e revolução. No entanto, este movimento não é pensado como forma de expressão visual, mas como manifestação individual.

O criador contou ao JPN que para criar esta coleção para as estações frias imaginou um adolescente a questionar o que tem em casa e a querer marcar a sua personalidade. “A primeira coisa que faz é questionar tudo o que têm dentro de casa. No punk questiona-se de uma forma um bocadinho mais agressiva”, explica.

Um jovem abre o armário do pai, ou o seu próprio guarda-roupa, e começa a customizá-lo. Pega num casaco clássico, corta-o e deixa-o em fio. Escolhe uma camisa e corta-a pela linha da cintura. Seleciona umas calças, ajusta-as e torna-as em calções. Hugo Costa é esse jovem.

O criador desconstruiu os clássicos.

O criador desconstruiu os clássicos. Foto: Sofia de Brito

Materiais clássicos como as lãs, algodões e fazendas foram a base da coleção. Surgem “combinações de matérias mais agressivas e coordenados justapostos de forma não convencional, apostando sempre no movimento no gender.

Mas o designer não se insurgiu apenas com os cortes e matérias-primas. A própria utilização da cor foi repensada. Enquanto que nas coleções anteriores Hugo Costa trabalhava a cor essencialmente como um bloco – introduzindo apenas, por vezes, um neutro – para o outono/inverno de 2018 o designer usa três ou quatro cores fortes no mesmo coordenado.

O criador quis questionar o que costuma fazer e revolucionar. “Foi uma reação aos nossos limites, aos nossos hábitos, à nossa forma de estar e à nossa forma de pensar”, revela.

Miguel Vieira traz irreverência à passerelle

Em ano de celebração dos 30 anos de carreira, Miguel Vieira trouxe Rock&Roll à passerelle. Este aparece em diversos detalhes, muitas vezes impercetíveis à primeira vista.

Gira-discos, microfones e concertos de rock surgem em forros de casacos de fatos masculinos, conferindo a musicalidade. As tachas são acrescentadas aos coordenados e ao calçado.

Miguel Vieira traz irreverência a uma coleção que não perde a identidade mais clássica do criador, em peças desconstruídas. Há sobreposições e assimetrias, assim como muita mistura de materiais.

Imagens de gira-discos, microfones e concertos de rock surgem no forro de casacos de fato masculinos.

Imagens de gira-discos, microfones e concertos de rock surgem no forro de casacos de fato masculinos. Foto: Sofia de Brito

No masculino as silhuetas alongadas contrastam com outras oversized. O mesmo acontece com os coordenados de mulher, ainda que a cintura seja marcada.

O público do designer gosta “sobretudo de matérias primas muito boas”, uma das preocupações de Miguel Vieira. Fazenda, napa, tecidos laminados e pelo aparecem em fatos e vestidos ao longo da coleção.

O segundo dia do Portugal Fashion no Porto terminou com o desfile de Miguel Vieira, no ano em que o criador celebra 30 anos de carreira.

O evento termina no dia 24 de março, com as coleções de Nuno Baltazar, Katty Xiomara, segmento Shoes, as marcas Concreto, Ana Sousa, Lion of Porches e Dielmar e ainda os estilistas Luís Onofre e Diogo Miranda.

Artigo editado por Sara Beatriz Monteiro