Speaker: Pessoa que apresenta e anima um evento de caráter desportivo, cultural ou político.
Anos a comunicar, seja através da rádio ou em eventos que vão da política ao desporto, rendem boas histórias e traduzem-se numa elevada experiência na área. Armando César, Ismael Costa e Alberto Rocha são alguns dos rostos por trás das vozes que muitos reconhecem.
Armando César, 43 anos: Só lhe falta ser speaker em funerais e divórcios
Armando César fazia relatos de futebol na Rádio Clube de Fafe quando esta foi comprada por uma estação nacional. Ao JPN contou que, apesar de perder o trabalho, novas oportunidades surgiram na área da comunicação.
Tudo começou com um convite para ser speaker numa prova de ciclismo na cidade de Fafe, da qual é natural. Aceitou a proposta e diz ter descoberto algum talento, que não passou despercebido, o que levou a novos convites para outras competições.
O antigo jornalista explicou ter evoluído rapidamente, pelo que, em 2005 – ano que se seguiu à participação na prova em Fafe – foi convidado para ser speaker da Volta a Portugal, competição à qual dá voz ainda hoje, depois de uma pausa entre 2011 e 2015. Armando César revelou ao JPN que a prova lhe abriu várias portas, nomeadamente na área do atletismo e do desporto automóvel.
O speaker estreou-se como animador da Pedreira, em 2008, num jogo contra o Cagliari
Ao Sporting Clube de Braga chegou em 2008, através de uma empresa que, na altura, trabalhava para esta instituição desportiva. Dez anos depois ainda é o responsável por animar o Estádio Municipal de Braga e não esquece o nervosismo que sentiu no primeiro jogo, contra uma equipa italiana – o Cagliari – a propósito de um torneio de pré-temporada que envolveu também o Leixões e o FC Porto.
A vasta carreira que possui permite a Armando César encontrar as diferenças na animação de diferentes modalidades. Em provas velocipédicas, por exemplo, o speaker tem de relatar uma situação – “quem vai à frente, quem vai atrás” – e de “fazer uma grande festa para que o público, ao fim e ao cabo, aplauda aqueles que ganham”. Não estão ao serviço de nenhum ciclista em particular, mas sim de todos, esclareceu.
No futebol verifica-se o contrário, uma vez que se “está a defender uma causa, uma camisola”, avançou o antigo jornalista. Por esta razão é preciso fazer tudo para que o estádio apoie o clube, pelo que só festejam se é a equipa para a qual trabalham que marca um golo, que está a jogar bem, concluiu.
Armando César recorda que, em 10 anos ao serviço do Sporting Clube de Braga, se enganou “mesmo a sério” apenas uma vez. O comunicador contou que faz parte do seu trabalho anunciar quando a equipa vai para aquecimento e que primeiro vão os guarda-redes. Na altura, o Braga tinha dois: o Beto e o Kritciuk.
O speaker relembrou que, na semana anterior a um jogo da época 2012/2013 – que não sabe precisar – o Beto foi emprestado ao Sevilla Fútbol Club, razão pela qual quem estava a aquecer nesse jogo, era o Kritciuk e o Quim.
Armando César relatou que, antes da partida, Marco Aurélio – na altura diretor de comunicação do Braga – lhe perguntou como estava o seu russo e lhe pediu para dizer Kritciuk.
O speaker repetiu o nome tantas vezes e estava tão concentrado nisso que, quando os guarda-redes entraram em campo, pediu um aplauso para o Kritciuk e para o Beto, quando quem estava junto ao russo era o Quim. O animador contou que Quim se virou para trás e disse “obrigado”. “E eu fiquei ali. Tinha-me enganado no nome do guarda-redes, o que não foi muito simpático, mas pronto, aconteceu”.
Num currículo tão vasto e diversificado, que até casamentos tem registados. “Só faltam funerais e divórcios”, concluiu Armando César.
Ismael Costa, 45 anos: Das rádios pirata a speaker do Vitória Sport Club
Ismael Costa deixou a rádio quando tinha cerca de 31 anos, depois de trabalhar na área desde os 16 anos – primeiro como animador e depois como jornalista desportivo -, tendo inclusive passado pelas chamadas rádios pirata.
O atual Team Manager do Vitória Sport Club, que deixou o ramo radiofónico para acabar os estudos, licenciou-se na altura em Educação Física e enveredou assim por outro caminho. O gosto pela comunicação nunca o deixou, pelo que desempenhar a função de speaker acabou por ser um percurso natural.
Entre 2009 e 2017, Ismael Costa foi o responsável por animar o Estádio D. Afonso Henriques e deu voz a alguns vídeos institucionais. Agora desempenha outra função no clube de Guimarães, mas esclareceu que quando surgem oportunidades de trabalhar como speaker fora da entidade não as deixa fugir, porque adora comunicar. “É uma paixão grande”, reconheceu.
“Não é speaker quem quer”
Mas “não é speaker quem quer”, adiantou Ismael Costa. É preciso ter o dom de animar, uma voz que cative e uma grande capacidade de improvisação, porque apesar de lhes ser fornecida informação básica, têm de trabalhar com tudo aquilo que está à volta. “No fundo, é nunca estar calado”.
A Federação Portuguesa de Basquetebol e a Federação Portuguesa de Andebol são algumas das entidades desportivas com as quais já colaborou. Ao JPN, explicou que existem especificidades na forma de trabalhar, de acordo com o desporto em questão.
Uma delas centra-se na diferença entre falar para um “estádio com 20 mil pessoas e para um pavilhão que tem três mil. Puxar por 20 mil pessoas é diferente de puxar por dois mil ou três mil”, é mais “fácil” concluiu.
Nos desportos individuais, o trabalho de um speaker apresenta mais diferenças. Não há tanto a missão de “puxar pelas pessoas”, apesar de no ciclismo também terem de “dinamizar a reta da meta e os milhares de pessoas que normalmente assistem à chegada dos corredores”, explicou. Os speakers funcionam “quase como informadores daquilo que se está a passar”, rematou.
Os contornos do ofício são variados. No ciclismo dizem onde estão os corredores, no automobilismo, quem está a sair e quem não, num evento de ginástica, por exemplo, têm de “chamar os atletas para os sítios nos quais vão participar”.
Para tudo correr bem a preparação é fundamental e varia de acordo com o evento. Saber o público alvo é fulcral, afirmou, assim como conhecer, nos eventos desportivos, “o currículo das equipas, os nomes dos jogadores – sobretudo os estrangeiros, para depois na hora não me engasgar – o historial do evento, quem são os patrocinadores” e se tem de os dizer muitas ou poucas vezes.
Independentemente da preparação, há sempre erros que acontecem, mas encara-os com naturalidade. “São 30 anos a falar para as pessoas. Engano-me muitas vezes, principalmente quando são nomes estrangeiros. O que vale é que a pessoa tem sempre uma técnica, que é dizer a correr e todos ficam ‘ele disse bem’”.
Como muitos profissionais da área, é muitas vezes identificado quando fala. “Normalmente, num evento ou noutro, as pessoas vão reconhecendo os speakers. Primeiro pela voz e depois pela maneira como são”.
Alberto Rocha, 52 anos: O speaker veterano da Runporto
O gosto pela comunicação e o trabalho na rádio deram a Alberto Rocha a possibilidade de dar voz a vários eventos, nomeadamente desportivos e de caráter político. Speaker há quase 30 anos, colabora com a Runporto praticamente desde a fundação da empresa que dinamiza eventos de atletismo na cidade Invicta.
Foi a propósito da Corrida do Dia do Pai que o JPN esteve à conversa com Alberto Rocha, que contou um pouco sobre o percurso que traçou na área da comunicação e sobre como, várias vezes, é conhecido pela voz, seja por causa do trabalho que desenvolve na Rádio Festival – onde é diretor de programas – ou pelos eventos em que desempenha a função de speaker.
O comunicador relatou que várias pessoas o abordam na rua: “olhe, eu conheço-o das corridas”. O também produtor de espetáculos e animador de rádio esclarece que um speaker é “aquele que traz os louros ou os vencedores, o elo de ligação entre toda a produção, toda a organização e o público”.
Comícios, congressos e eventos desportivos: o leque de trabalhos que desenvolveu enquanto speaker é amplo. Alberto Rocha explicou que “todos eles têm a sua responsabilidade e se houver alguma falha é mau para todos. O que é necessário é estarmos bem preparados e termos algum jogo de cintura”.
Para que tudo corra da melhor forma, o speaker portuense acredita que é preciso estar atento, informado e compreender bem a atividade que se tem em mãos. Além disso, considera importante ter em consideração as indicações que lhes transmitem e reparar no trabalho dos colegas.
Antes de qualquer evento, Alberto Rocha tenta perceber o que a organização pretende, quem são os atletas ou intervenientes, e lê as informações sobre a atividade.
“É tentar estar sempre em contacto com a organização, para saber até onde posso ir, qual o tipo de discurso, qual o tipo de entoação que será necessária dar para qualquer atividade que haja nesse momento”, sublinhou o speaker. “Temos ainda de nos ir adaptando ao público e às atividades que temos”, acrescentou.
Ainda que haja toda esta preparação, por vezes surgem enganos. Ao JPN, contou sobre um dia, que define como “muito mau”, em que passou a manhã toda a chamar Mónica Sintra, à atleta Mónica Silva. “Mas ela entendeu”, acrescentou.
De todos os eventos em que participou, o que mais lhe fica na memória são as pessoas que o ajudam e lhe dão as informações necessárias para poder exercer a profissão: “Não vale a pena eu chegar aqui e estar a falar apenas por falar. A união entre todos é o melhor que podemos ter aqui.”
Artigo editado por Sara Beatriz Monteiro