Depois de ter sido preferido pelo público em 2007 e 2011, Ronaldo Cunha Dias voltou a alcançar a distinção nesta categoria do PortoCartoon com a obra que teve direito a uma Menção Honrosa, concedida pelo júri internacional do festival. O belga Luc Vernimmen foi o vencedor escolhido pelo jurado, com o cartoon intitulado “Sustainable Tourism”.

Ronaldo Cunha Dias destacou o “orgulho” de integrar, com a sua participação, a História do PortoCartoon, “considerado um dos melhores e mais importantes salões de humor em todo o mundo”, sobretudo por tratar-se da terceira vez que vence o prémio. O galardão “valoriza o meu trabalho e propicia destaque mundial ao meu desenho”, concluiu.

A obra vencedora do 19º PortoCartoon – World Festival, que teve como tema “O Turismo”, surge numa “época de grande desenvolvimento na área da comunicação”, na qual o telemóvel está presente de forma contínua no dia-a-dia, “podendo estar presente, no caso da selfie, em todos os momentos, inclusive nos mais críticos, no caso, na disputa de um alimento por um grupo de refugiados famintos”, explicou o cartoonista.

Ronaldo Cunha Dias

Ronaldo Cunha Dias participou pela primeira vez no PortoCartoon em 2007. Foto: Arquivo pessoal Ronaldo Cunha Dias

Ronaldo Cunha Dias publica os seus cartoons em diversos jornais brasileiros e, no exterior, através do Cartoonstook, Inglaterra. Entre os projetos planeados tem o “Cartoonbook”, que deverá ser publicado já no primeiro semestre de 2018, e exposições em Portugal e no Brasil, também em 2018.

O médico de profissão – residente na cidade de Vacaria, situada no estado brasileiro Rio Grande do Sul – contou ao JPN que sempre encarou a produção de cartoons como um “hobby” e que “o limite entre médico e cartoonista sempre foi bem resolvido”, pelo que uma atividade nunca interferiu na outra.

O vencedor do Prémio Público do PortoCartoon apontou o “mercado restrito” brasileiro como “uma grande dificuldade para os cartoonistas mostrarem os seus trabalhos” e explicou que muitos trabalham como freelancer, uma vez que a atividade não é considerada profissão.

Os jornais “publicam charges (cartoon editorial), porém o cartoon (desenho de humor) não tem a mesma realidade”, esclareceu Ronaldo Cunha Dias. Para melhorar a situação sugere “uma melhor e mais efetiva organização entre os próprios cartoonistas, em associações de classe”, pois acredita “que poderá trazer benefícios no sentido da valorização da atividade, bem como tentar, de alguma forma, aumentar os espaços para o cartoons em jornais diários e periódicos mensais”.

Apesar da grande agitação social e política que se vive no Brasil, o médico defendeu a ideia de que os brasileiros estão “esperançosos que dias melhores virão”, numa altura em que vivem “dias difíceis e decisivos” para o futuro.

Ronaldo Cunha Dias destacou o facto dos atos de corrupção estarem a ser combatidos “de maneira mais incisiva e dura”, depois de algum tempo em que este combate não era “muito eficiente”, e que “a grande maioria dos brasileiros apoia esta ação contra a corrupção e o crime organizado”.

“A deceção e a passividade estão dando lugar à esperança de um futuro melhor. Apesar dos grandes prejuízos causados à nação, por estes desdobramentos, colocando políticos, até então, confiáveis, em um lugar-comum de contravenção e desonestidade, estamos todos esperançosos que dias melhores virão”, rematou.

O cartoonista brasileiro será convidado a participar, com uma exposição de autor, na edição de 2018 do PortoCartoon

O galardão conquistado por Ronaldo Cunha Dias é atribuído com base numa votação a nível mundial, realizada através do Museu Virtual do Cartoon e em urnas de voto dispostas no Museu Nacional da Imprensa e no Aeroporto do Porto, entre junto e dezembro de 2017.

Pessoas originárias de diferentes pontos do globo tiveram a possibilidade de eleger o seu cartoon favorito, de um universo de 43 selecionados, em março de 2017, pelo Júri Internacional do 19º PortoCartoon – World Festival.

Nesta categoria, desde 2006, já foram contemplados, para além de Ronaldo, sete artistas, dois deles portugueses: Fernando Camarneiro Costa e António Santos, de pseudónimo “Santiagu”.

Em disputa pelo prémio que Ronaldo Cunha Dias venceu estavam cartoonistas de países como a Itália, o Irão, a Espanha e o México. De Portugal, estavam sujeitos a votação trabalhos de Aurélio Mesquita, Duarte Guerreiro, Fernando Saraiva e Vasco Gargalo.

O vencedor vai ser convidado a participar na edição de 2018 do prémio com uma exposição de autor.

Cartoon de Ronaldo Cunha Dias

Cartoon de Ronaldo Cunha Dias que venceu o Prémio Público do PortoCartoon 2017. Foto: Museu Nacional de Imprensa

Artigo editado por Sara Beatriz Monteiro