A Federação Portuguesa de Futebol (FPF) está a ponderar a criação de um campeonato sub-23, a começar já na próxima época. Os líderes federativos estão preocupados com o desaproveitamento de jogadores entre os 19 e os 23 anos e, por essa razão, decidiram avançar com uma nova competição que dá aos jovens a oportunidade de continuarem a competir a partir da próxima época.
O objetivo deste projeto, que já foi discutido por diversas vezes pelos membros da FPF, é proporcionar aos atletas uma transição entre os juniores e os seniores, algo que a equipas B nem sempre conseguem fazer por falta de espaço competitivo para estes jovens.
O Sindicato de Jogadores Profissionais de Futebol apresentou dados relativos à época 2016/2017 que mostram que a percentagem de utilização de futebolistas portugueses na Segunda Liga está a decrescer. A FPF quer contrariar esta tendência com a criação de um campeonato sub-23.
Esta nova prova terá como base a Premier League 2, o campeonato sub-23 inglês. As equipas vão ser divididas em dois escalões, que poderão ter entre 12 a 14 clubes dos campeonatos profissionais, sendo que as seis primeiras rumarão a uma fase final para apuramento do campeão, enquanto as restantes vão lutar pela permanência.
Na segunda divisão, não há despromoções, apesar de haver subidas. Também está a ser ponderada a criação de uma Taça de Portugal sub-23, numa estrutura idêntica à utilizada na competição sénior.
O campeonato sub-23 não pretende acabar com as equipas B na Segunda Liga. Essa decisão cabe aos clubes. O Sporting CP, de acordo com a imprensa, terá sido o primeiro emblema a anunciar que vai acabar com a equipa B e vai ter apenas uma equipa no campeonato sub-23 na próxima época.
SC Braga, Rio Ave FC, Belenenses e Marítimo também já confirmaram que vão avançar com uma equipa sub-23.
Pedro Proença, presidente da Liga Portuguesa de Futebol Profissional, considera que o campeonato sub-23 e as equipas B “são complementares” e “podem viver em perfeita harmonia”, afirmou no congresso “The Future of Football”.
“As equipas B e o campeonato sub-23 são duas realidades que devem e podem viver em perfeita harmonia. Eu diria mesmo que são complementares. Existem treinadores que manifestaram publicamente que são totalmente a favor da continuidade das equipas bês e da vertente competitiva que uma Segunda Liga oferece”, defendeu o ex-árbitro profissional de futebol.
“Há atletas que só com 23, 24, 25 anos é que começam a despontar e se não tiverem espaço para mostrar as suas capacidades são desaproveitados”
João Eusébio tem uma larga experiência na Segunda Liga e já foi coordenador de formação. O técnico está habituado a lidar com jovens jogadores e considera que o campeonato sub-23 “pode ser muito positivo”.
O ex-treinador do Varzim admite que o campeonato sub-23 “pode ser importante porque vem resolver o problema do desfasamento entre a formação e a profissionalização”. Para João Eusébio, há “atletas que só com 23, 24 ou 25 anos é que começam a despontar e se não tiverem espaço para mostrar as suas capacidades são desaproveitados”.
O técnico de 56 anos sublinhou a importância do campeonato sub-23, admitindo que “pode não ser benéfico para alguns clubes”. Mas isso “depende da visão de cada clube”, acrescentou.
Na opinião do vilacondense, o campeonato sub-23 pode trazer “mais igualdade e competitividade” entre os clubes da Primeira Liga, mas salienta que “a igualdade está sempre dependente da questão orçamental”.
A permanência das equipas B na Segunda Liga tem sido tema de conversa e de debate entre os dirigentes desportivos. A Federação não tenciona acabar com as equipas B com a criação do campeonato sub-23. Essa decisão tem de ser tomada pelos clubes.
João Eusébio questiona: “Qual é o sentido de manter as duas equipas quando os critérios são idênticos? A menos que se mudem os critérios, não faz sentido ter as duas equipas B”, atirou o técnico referindo-se ao facto de uma equipa B ter de obedecer a um conjunto de regras que podem ser comuns às do campeonato sub-23 (determinado número de jogadores formados localmente, determinado número de jogadores com menos de 23 anos, etc…)
Com passagens por Esposende, Bragança, Rio Ave, Gil Vicente, Sporting da Covilhã, Chaves, Trofense, Freamunde, Clube do Chibuto e Varzim, João Eusébio é conhecedor da realidade do futebol português. Apesar de defender que “não faz sentido” manter as duas equipas, o técnico acredita que a saída das equipas B pode “tirar visibilidade à Segunda Liga”.
“Há prós e contras na saída das equipas B. Por um lado, são essas equipas B que geram mais receita com os direitos televisivos e, consequentemente, dão mais visibilidade à Segunda Liga. Por outro lado, vai trazer mais verdade desportiva porque, por vezes, nós, treinadores, não sabemos que equipas eles [equipas B] vão trazer e isso desvirtua a realidade desportiva”, concluiu João Eusébio.
Artigo editado por Filipa Silva