“Encontro Silencioso” conta a história de um grupo de estudantes de Lisboa que organiza uma visita ao interior do país. Nesse encontro secreto, os jovens são submetidos a diversas provas e rituais inventados pelo líder, o Dux.

Ao JPN, o realizador, Miguel Clara Vasconcelos, explicou que se trata, principalmente, de uma reflexão sobre “o nosso tempo”. “A questão principal é a da manipulação. Por um lado, quis perceber porque é que as pessoas abdicam do seu sentido crítico e não acho que seja por estupidez, acho que há uma razão para isso”, explicou.

Por outro lado, o realizador queria ainda perceber porque é que outras pessoas sentem “necessidade de brincar com seres humanos” e acrescentou que, na sua visão, esta não é uma prática infantil:”Acho que há uma intenção adulta programada, pensada e perpetuada. O filme é mais sobre isso, sobre os processos mentais e as motivações que levam as pessoas a sujeitarem-se a determinadas situações e provas que no dia-a-dia repudiariam e achariam muito humilhante”.

Miguel Clara Vasconcelos, o realizador, à conversa com o JPN. Foto: Diogo Rodrigues Barbosa

Apesar de se tratar de uma obra de ficção, “Encontro Silencioso” tem na base um acontecimento real, a tragédia do Meco. Para a concretização do filme, Miguel Vasconcelos fez alguma pesquisa, a nível histórico, sobre as origens das práticas académicas para além da praxe em si.

“Falei com estudantes e com pessoas de outras organizações, algumas das quais pediram o anonimato. Portanto, há uma recolha alargada sobre códigos de aceitação, de integração e não apenas académicos”, frisou o realizador.

Miguel Vasconcelos estudou em Coimbra dois anos e, apesar de não ter integrado praxe, os assuntos relacionados com a mesma já lhe interessavam. O vestuário, os símbolos, os códigos, o regulamento e a organização são alguns exemplos que motivaram uma pesquisa por parte do realizador, na altura.

As reações ao filme têm sido variadas, explicou Miguel, ao JPN. Desde pessoas que não aderem ao filme, por considerarem “demasiado português”, a outras que dão os parabéns ao autor e gostam do resultado. Há ainda quem considere o filme uma metáfora para com os acontecimentos no Meco, na medida em que encontram pontos de contacto entre a ficção e a realidade.

O autor explicou ainda que, em termos de impacto de bilheteira, não tem sido um filme para o grande público. O facto de ser um filme português também tem sido um dos motivos que leva alguns espetadores às salas de cinema.

“Encontro Silencioso” está em exibição até dia 11 de abril, no Cinema Trindade. O ponto de partida do filme foi a tragédia do Meco, que vitimou vários estudantes universitários e a sua mediatização. Miguel Vasconcelos procurou, na longa metragem que venceu no ano passado o IndieLisboa, perceber o que levou os estudantes a estar naquele local.

Artigo editado por Sara Beatriz Monteiro