O público começou a preencher a sala principal do Teatro Sá da Bandeira por volta das 16h00. Faltava cerca de meia hora para o início de “Raul, Um Espetáculo de Homenagem a Solnado”, mas já era possível ouvir distintas vozes do panorama artístico nacional, a recordar o artista e, sobretudo, o homem que Raul foi.
As vozes de Joana Solnado, neta do ator, Simone de Oliveira, Nilton, Aldo Lima e Herman José foram algumas das que se ouviram. Recordavam encontros que tiveram com Solnado, o abraço que não conseguem esquecer, a sua importância na criação da Casa do Artista, o respeito pelo público que sempre demonstrava, assim como a generosidade e a humildade que o caracterizavam.
Descrito a dada altura como uma “figura incontornável no panorama artístico”, Solnado tem ainda hoje tem um grande impacto, cuja dimensão surpreendeu até Telmo Ramalho, ator que dá vida aos monólogos celebrizados por Raul e às músicas que um dia cantou.
Ao JPN, o ator contou que só quando a UAU, agência de espetáculos, reuniu alguns artistas para gravar depoimentos sobre Solnado é que se apercebeu da real dimensão da importância que Raul tem, ainda hoje, para muitas figuras do mundo artístico.
Para Telmo Ramalho, Raul começou a assumir um papel de destaque em 1996. O artista nunca tinha pensado em ser ator, mas um dia ouviu uma cassete com os monólogos de Raul, que o pai comprou numa estação de serviço, e as coisas mudaram. A cassete não o conquistou à primeira, mas a capacidade que os textos de Raul tinham de “fazer parar” acabaria por vencer o desgosto inicial de Telmo, pelo seu pai não ter comprado a cassete que queria.
“É do Inimigo?” e “A Guerra de 1908” são dois dos monólogos de Raul interpretados por Telmo Ramalho
Esta é a história que Telmo Ramalho conta entre monólogos como “É do Inimigo?”, “A Guerra de 1908” e as canções que reinterpreta. Ramalho explica como Raul se tornou uma referência para si e, mais tarde, um professor que, como qualquer bom professor, sabe até onde cada aluno pode chegar e faz o possível para que lá chegue.
Em palco, Telmo recordou também as lições de humildade que Raul dava sem tentar, como num dia em que, numa “pizzaria manhosa”, já com todas as dificuldades que enfrentava na época, se levantou e ouviu um senhor falar-lhe sobre todas as memórias que guardava do artista.
A peça não pretende ser uma lição sobre a vida de Raul, mas sim recordar, de acordo com Telmo Ramalho, parte do grande espólio que Solnado deixou. O espetáculo permite o contacto das novas gerações com o homenageado e que as mais velhas o possam relembrar, concluiu.
Telmo Ramalho teve aulas de canto para reinterpretar algumas das canções de Solnado
Escolher quais os monólogos levar a cena não foi uma tarefa fácil, esclareceu Ramalho. “Foi muito complicado porque há muita coisa”, mesmo canções, que desconhecia serem tantas, desvendou. Para as cantar contou que precisou de ter aulas de canto.
Telmo revelou que os objetivos da peça estão a ser cumpridos e que já alguns jovens lhe disseram que se interessaram e vão procurar mais sobre o Raul. Os mais velhos agradecem, como é possível ver no fim da apresentação. Muitos são os que se aproximam do ator para o parabenizar pela “homenagem sincera”, para lhe agradecer por manter a memória de Raul viva, numa altura em que o décimo aniversário da morte do artista se aproxima. Cumpre-se a 8 de agosto de 2019.
O espetáculo termina a uma só voz. O público une-se a Telmo Ramalho para cantar “Malmequer”. Raul pediu ao país que fizesse o favor de ser feliz. “E que maneira mais feliz de terminarmos esta homenagem do que cantar o “Malmequer” do Raul?”, questionou o ator antes de iniciar a canção.
A obra repete-se no Teatro Sá da Bandeira, às 21h30, nos dias 13, 14, 20 e 21 de abril. Dia 15 e 16 a representação está marcada para as 16h30.
Artigo editado por Sara Beatriz Monteiro