Porque é que a espécie mais inteligente da Terra está a causar a destruição do planeta? Foi este o mote da segunda edição da National Geographic Summit realizada esta quarta-feira no Coliseu dos Recreios, em Lisboa. com o propósito de perceber qual o caminho para proteger a natureza.

Charlie Hamilton James, fotógrafo britânico da revista “National Geographic”, viajou até Lisboa para contar a história de como comprou um pedaço da floresta amazónica em Manaus, no Brasil, e percebeu que as histórias sobre a drenagem dos recursos nessa áreas só mostram uma face da moeda.

“Passei a vida toda a gostar mais de animais. Achava que as pessoas eram o problema e os animais a solução”, contou Hamilton James.

O fotógrafo de 44 anos acredita que apesar de haver populações que contribuem para a desflorestação, “não quer dizer que gostem menos da floresta tropical do que nós, mas precisam dela para sobreviver”.

Charlie Hamilton James considera que a chave para a preservação da Natureza passa por “nos colocarmos na pele dos outros”.

Para compreender o que levava várias populações dentro da Amazónia e nas regiões circundantes a manter a atividade mineira e a contribuir para a desflorestação, Charlie Hamilton James viajou pela floresta tropical “para conhecer as pessoas que lá viviam, para trabalhar como elas e para tentar perceber um problema do qual não sabia nada”.

“Existem 35 mil exploradores de ouro que trabalham em condições ilegais na Amazónia”, adiantou o fotógrafo da “National Geographic”.

No final da viagem, Hamilton James percebeu que para se ponderar a preservação da floresta tropical não basta impedir que as pessoas o façam. É necessário “colocarmo-nos na pele dos outros, para perceber como é ver o mundo pelos olhos dessas pessoas”.

“Criticamos as pessoas que estragam as áreas protegidas, mas esquecemos-nos que são das mais pobres no planeta e esperamos que não usem os recursos que têm à disposição para sobreviver. Quando o fazem, ficamos chateados”, criticou o explorador.

O britânico acredita que educar os nativos e arranjar formas de manter a “sobrevivência dessas populações” são caminhos a seguir, mas também é necessário “ser mais compreensivo, porque não são más pessoas, são apenas pessoas”. “Estas pessoas estão na linha da frente da conservação”, finalizou o fotógrafo.

“Quando vamos a um lugar tentamos fazer com que seja nosso, que seja adaptável para humanas, mas é ao contrário”

A exploradora Adjany Costa juntou-se à tese defendida por Hamilton James e levou o Coliseu dos Recreios a África para explicar que é necessário “respeitar as pessoas que são da terra”.

A investigadora que percorreu o rio Okavango – que percorre os territórios de Angola, Namíbia e Botswana e que alberga uma grande diversidade de fauna e flora africana – percebeu pela viagem que “quando vamos a um lugar tentamos fazer com que seja nosso, que seja adaptável para humanos, mas é ao contrário”.

Adjany Costa explicou que, à semelhança do que acontece na floresta amazónica, as populações por vezes prejudicam a natureza, mas por uma questão de necessidade.

“Há fogos que são criados por mulheres que só querem proteger os filhos dos predadores. São resultado de pessoas que vivem nessas áreas e que fazem o que podem para sobreviver e proteger as famílias”, explicou a investigadora.

Salvar o planeta não é fácil, mas Adjany Costa deixa uma sugestão: “Devemos adotar uma causa pela qual temos uma paixão, mesmo que não a compreendamos. Para proteger a vida selvagem, não nos podemos esquecer de que somos parte dela”.

“A nossa capacidade de tirar é gigantesca e se continuarmos assim vamos chegar a um ponto sem retorno”

Depois da Amazónia e de África, finalmente, os oceanos. A cimeira da National Geographic mergulhou nas profundezas dos mares através do relato de Sylvia Earle, a primeira mulher a fazer exploração marinha.

Aos 82 anos, a bióloga marinha e oceanógrafa relembrou que “os oceanos também são a nossa casa” e que as pessoas não se podem esquecer “de que também são criaturas do mar”. “Sem os oceanos, não há ‘casa’, não há vida”, explicou a investigadora da “National Geographic”.

Sylvia Earle foi a primeira mulher a fazer exploração marinha.

Sylvia Earle foi a primeira mulher a fazer exploração marinha. Foto: Wikipedia

Sylvia Earle vê o futuro com bons olhos e acredita que “todas as explorações e investigação [científicas] estão a convergir para podermos ver o mundo por outra perspetiva”, apesar de reconhecer que o plástico e a caça massiva são problemas fulcrais que devem ser resolvidos.

A oceanógrafa acredita que “temos de refletir sobre o custo da nossa prosperidade” e alertou para o perigo do conceito de “mudar a ‘natureza’ da natureza”. “A nossa capacidade de tirar é gigantesca e se continuarmos assim vamos chegar a um ponto sem retorno”, acrescentou a investigadora.

Não é possível voltar atrás, por isso, Sylvia Earle sugere que “se tomem as melhores decisões com as condições atuais” e diz que as pessoas estão preparadas para “deixar os oceanos serem oceanos”, porque “o maior trunfo da Humanidade é saber quais são as causas dos problemas ambientais”.

A exploradora disse que reservas naturais em alto-mar, “tal como acontece em terra” são a resposta para travar a destruição da biodiversidade marinha e mostrou-se esperançosa relativamente à intenção das Nações Unidas de terem 10% dos oceanos protegidos até 2020.

A National Geographic Summit, que se realizou pela segunda vez em Portugal, reuniu em Lisboa cerca de duas mil pessoas. Seis oradores  – além dos três referidos, marcaram presença o astronauta Terry Virts, a jornalista de investigação Mariana Van Zeller e a refugiada norte-coreana Hyeonseo Lee – as suas experiências pessoais enquanto profissionais da “National Geographic”.

Artigo editado por Filipa Silva