Na Luz joga-se, este domingo, uma partida de carácter decisivo. Uma vitória devolve ao FC Porto a liderança do campeonato. A derrota dos dragões dá ao Benfica a possibilidade de aumentar a distância face ao segundo para uns mais confortáveis quatro pontos de vantagem a apenas quatro jornadas do final do campeonato.

As equipas chegam ao clássico depois de vencerem os últimos jogos que disputaram para o campeonato. O Benfica, à justa, na deslocação a Setúbal (1-2). O FC Porto em casa com o Desportivo das Aves (2-0), depois de duas derrotas fora de portas que mancharam o registo dos dragões.

O Benfica goza, agora, do estatuto de líder depois de uma primeira metade do campeonato marcada pelo afastamento de várias competições – Liga dos Campeões, Taça de Portugal e Taça da Liga. Em janeiro, começou uma nova fase para os tetracampeões nacionais que registam a esta altura nove vitórias consecutivas.

Os Dragões arrancaram o campeonato com uma série de sete vitórias consecutivas: Estoril, Tondela, Moreirense, Braga, Chaves, Rio Ave e Portimonense. Atravessam um ciclo menos positivo na segunda volta, altura em que registaram as primeiras derrotas para o campeonato: 0-1 na deslocação a Paços de Ferreira e 0-2 no Restelo.

Danilo de fora, Corona e Marega em dúvida

No lado dos azuis e brancos, Danilo é o único indisponível para a partida de domingo (18h00, BTv). Em dúvida, estão os avançados Corona e Marega que ainda constam no boletim clínico portista. Já os encarnados, não podem contar com Krovinovic, a recuperar de uma rotura nos ligamentos do joelho direito. Jonas, o melhor marcador da Liga NOS, está recuperado depois de não ter alinhado no último jogo.

FC Porto “só tem um resultado realmente positivo que é a vitória”

João Nuno Coelho, sociólogo e adepto do FC Porto, vê no clássico uma partida decisiva que “vai lançar as bases do que vai ser o resto do campeonato”.

“O FC Porto acabou por estragar um pouco o cenário para este jogo porque disparatar uma vantagem de cinco pontos em apenas duas saídas acabou por mudar completamente o panorama do campeonato. Neste momento, a vantagem está do lado do Benfica claramente”, afirma.

Antes de perder seis pontos nas últimas quatro jornadas o FC Porto podia contar tanto com a vitória como o empate pois ambos seriam positivos.  No caso de um empate, que para o adepto portista é o “resultado em que tudo fica mais em aberto, embora o favoritismo passe a estar completamente do lado do Benfica já que com quatro jornadas [por jogar], estar à frente é uma vantagem grande”.

Para o autor do programa “Números Redondos” da TSF, a partir do momento em que “perdeu seis pontos, face a este jogo só tem um resultado realmente positivo que é a vitória”.  “Há mais probabilidades de ter um resultado negativo do que o Benfica que com um empate continua na liderança”, afirma.

“O Benfica recuperou de uma desvantagem em poucas jornadas o que pode ditar muita coisa para o jogo de domingo”

Um dos fatores que dá favoritismo aos encarnados é o facto de jogar em casa. “Sabemos que nestes jogos as equipas que atuam em casa têm o favoritismo do seu lado independentemente até do momento em que se encontram no campeonato”, defende.

João Nuno Coelho destaca ainda o fator psicológico como talvez o “argumento mais importante nesta altura do campeonato”, o que se constata pela “ultrapassagem do Benfica ao Porto há duas jornadas atrás”.

“O FC Porto costuma dar-se bem na Luz, agora, as circunstâncias deste campeonato são únicas e o Benfica recuperou de uma desvantagem em poucas jornadas o que pode ditar muita coisa para o jogo de domingo”.

O adepto defende que os clubes encontram-se em extremos opostos: num lado o “FC Porto encontra-se marcado pelo facto de ter desperdiçado uma vantagem significativa” e  por outro o Benfica “extremamente motivado, depois de ver o penta campeonato a fugir, tem-no agora ao alcance”.

“O resultado que não fecha portas é o empate”

Acrescenta ainda que as equipas têm sido “irregulares em termos de exibições, mas não em termos de resultados pois aí os encarnados têm sido muito consistentes e as vitórias consecutivas dizem tudo”.

Em termos de lesões e desgaste do plantel, é da opinião de que é mais um fator a favor do Benfica pois os Dragões neste momento “têm jogadores, que são parte do plantel principal, em dúvida e que não deverão jogar. Enquanto que o Benfica, de entre os mais utilizados estão todos disponíveis”.

João Nuno Coelho aposta num empate para o clássico e justifica essa previsão como algo que “costuma acontecer quando as duas equipas estão a disputar o título mesmo até ao fim”.

“Acredito que, neste tipo de jogos, as equipas muitas vezes fazem o resultado que as duas podem, ou seja, que não fecham portas. E o resultado que não fecha portas é o empate”, explica.

Quanto ao resto da temporada, depois de ultrapassado o clássico João Nuno Coelho defende que “o grau de dificuldade para os dois candidatos acaba por ser semelhante, mas com alguma vantagem para o Porto porque o Benfica ainda vai a Alvalade e as duas deslocações do FC Porto à Madeira e a Guimarães, embora complicadas, não se comparam com a dos encarnados”.

Uma vitória do Benfica “resolve muita coisa”

Para António Simões, antigo jogador do Benfica, com uma vitória dos encarnados “fica muita coisa resolvida”. Com um ponto a menos que o Benfica, os dragões enfrentam uma maior pressão e neste contexto “nem um empate lhes serve”, refere em declarações ao JPN. “Para o Porto o único resultado que lhe interessa e que lhe dá vantagem é ganhar”, acrescenta o antiga glória do Benfica.

Quanto ao momento de forma das duas equipas, António Simões defende que são “muito similares”, mas que o Porto foi perdendo “algum fulgor apesar de ter tido uma entrada muito forte no campeonato”. “Já o Benfica fez o trajeto ao contrário, foi melhorando, tem mais fulgor hoje do que o Porto”, afirma.

Apesar de considerar que os encarnados atravessam um momento melhor a nível exibicional, o antigo internacional português não acredita que “tenha alcançado ainda aquilo que o Porto alcançou”.

Questionado sobre o contributo que as derrotas do FC Porto tiveram para o Benfica a nível motivacional, Simões responde que “a derrota do adversário ajuda sempre quando se trata dos candidatos ao título”. Considera-se ainda surpreso com as derrotas do FC Porto em dois jogos, ao contrário do Benfica que tem uma série de vitórias seguidas.

Na opinião de António Simões, em relação ao resultado do clássico, neste momento, “o Benfica está melhor que o Porto” e ao jogar em casa “sabe perfeitamente que se ganhar fica praticamente com o título na mão e tem essa vantagem”.

Mas António Simões relembra que “o futebol tem um lado incerto”. “Se tudo correr dentro da normalidade e olhando aquilo que tem sido o rendimento do Benfica e do Porto nos últimos dois meses, o Benfica pode ganhar o jogo, mas é preciso que isso se confirme, e não tenho a certeza absoluta se vai ser assim ou não”, afirmou.

Impacto do clima atual do futebol Português e a cultura desportiva

Dada a dimensão do clássico, António Simões diz que o que se exige à arbitragem é “responsabilidade”. “Os árbitros têm de ter a mesma atitude, a mesma postura e a mesma responsabilidade”, acrescenta.

O antigo internacional português destaca ainda a importância da cultura desportiva tendo em conta o atual clima vivido no futebol português e afirma que primeiro é necessário “criar condições para que as pessoas percebam que é preciso cultura desportiva que é uma coisa que existe nos jogadores, um pouco menos nos treinadores e zero nos dirigentes”, defende.

Relembra ainda que é necessário “não olhar o adversário como um inimigo” pois na competição “o que existem são adversários”.

Na mesma linha, João Nuno Coelho defende que “as coisas mais importantes do jogo são os adeptos e os jogadores pois são eles que fazem o jogo” e que depois “aparecem os dirigentes e os treinadores”. “Espero que o comportamento de todos os envolvidos seja marcado pelo respeito e pela cultura desportiva”, frisa.

Os dois clubes, que na primeira volta empataram 0-0, vão discutir a liderança do campeonato num Estádio da Luz com lotação esgotada. Para assistir ao clássico são esperados mais de 60 mil adeptos.

Artigo editado por Filipa Silva