Diogo Ganchinho (Sporting CP) sagrou-se campeão da Europa em ginástica de trampolim individual, neste domingo, em Baku, no Azerbaijão. Em conversa com o JPN, o atleta do Sporting CP admite que a final foi “uma prova bastante dura”, mas que esteve “sempre muito confiante” relativamente àquilo que seria a sua prestação.

“A prova começou de maneira atribulada”, começa por afirmar Diogo Ganchinho. Durante a prova de qualificação tocou no colchão e acabou penalizado em pontos, o que o colocou na 22ª posição.

No entanto, foram apurados para as meias-finais 24 primeiros atletas e o ginasta de 30 anos passou às meias-finais por uma unha negra: “São erros que acontecem e eu senti-me sempre bastante tranquilo e confiante. Estava muito bem preparado e, depois disso, foi um alívio saber que estava na meia-final”.

Já nas finais, Diogo Ganchinho admite que a prova foi longa e “duríssima”, mas sentia-se “sempre muito confiante” em relação àquilo que seria a prestação do atleta, confessa ao JPN. “Na minha mente não houve espaço para falhas” e o erro que cometera anteriormente foi determinante para lhe “dar ainda mais força”.

O facto de estar na meia-final ajudou o atleta do Sporting CP a perceber que poderia conseguir alcançar bons resultados na prova: “Estar na meia-final fez-me perceber que seria nesta prova que tudo ia correr pelo melhor”.

“Há 25 anos que pratico ginástica de trampolim e, portanto, eu sabia que algum dia eu iria conseguir consagrar o grande momento da minha carreira e isso felizmente aconteceu”, conta Diogo Ganchinho.

Para além da final de trampolim individual, Diogo Ganchinho participou ainda em mais duas finais: a de equipas e a de sincronizado. Na final de equipas conseguiu o quarto lugar, assim como na final de sincronizado, em que participou em conjunto com Diogo Abreu.

Foi na prova de trampolim sincronizado que Diogo Abreu e Ganchinho conseguiram o apuramento para os Jogos Europeus que “são considerados os Jogos Olímpicos da Europa”, que se vão realizar no próximo ano em Minsk, na Bielorrúsia.

“As energias estão canalizadas para conquistar o apuramento para os Jogos Olímpicos de Tóquio”

Diogo Almeida Messias Ganchinho tem 30 anos e é natural de Santarém. É atleta do Sporting há dois anos, mas tudo começou há 25 , em Santo Estevão.

O ginasta nasceu numa “pequena aldeia no distrito de Santarém” e viu o desporto ganhar importância na sua vida assim que Carlos Matias, atual selecionador nacional, criou “uma classe de trampolim” em Santo Estevão.

Na altura, o clube não tinha condições para adquirir material e, por isso, começou por praticar mini-trampolim e foi aí que percebeu que “gostava muito de ir”, porque “queria ser melhor” e a tendência que tinha para o perfeccionismo fê-lo “voltar todos os dias para o pavilhão”, confessa.

Aos nove anos de idade participou no seu primeiro Campeonato do Mundo por idades: “Foi isso [ter participado na prova] que me fez querer continuar a praticar este desporto e viajar pelo mundo através dele”.

Diogo Ganchinho esteve 20 anos a competir em Santo Estevão, mas a vida levou-o até Lisboa e foi então que mudou para o Lisboa Ginásio Clube.

Depois dos Jogos Olímpicos no Rio em 2016, mudou-se para o Sporting CP, clube que representa atualmente. “Acho que foi um passo importante não só para mim, mas também para o nosso desporto, porque estar num grande clube dá outro impacto à nossa modalidade”, acrescenta.

Diogo Ganchinho conseguiu o ouro pela primeira vez ao longo de uma carreira de 25 anos. Foto: European Union of Gymnastics / Facebook Foto: European Union of Gymnastics / Facebook

O atleta do Sporting CP fez história. Portugal nunca tinha conseguido chegar às medalhas em Campeonatos da Europa nas provas de trampolim individual. “O melhor resultado tinha sido em 2012 em que fiquei em quarto lugar. Foi realmente especial”, remata.

Uma vida feita de medalhas

Entre Campeonatos do Mundo por idades, em que foi campeão, Ganchinho foi também campeão da Europa de duplas no escalão de juniores, em mini-trampolim. No trampolim individual – a modalidade olímpica – já ganhou uma medalha na Taça do Mundo, mas nunca a de ouro. Para além disso, venceu ainda o circuito mundial de sincronizado em 2001. No Campeonato da Europa em 2014 e 2016 também saiu medalhado em duplas, individualmente nunca tinha conseguido chegar ao ouro.

Nos Jogos Olímpicos de Pequim, em 2008, conseguiu o 11º lugar e em Londres, 2012, o 15º, porque não conseguiu concluir o exercício devido a uma falha. Mais tarde, já em 2016, no test event, que é a prova de apuramento para os Jogos Olímpicos, ficou em terceiro lugar e conseguiu o apuramento em conjunto com Diogo Abreu.

A pensar já nas próximas competições, Diogo Ganchinho admite que o foco está em participar nos Jogos Olímpicos em Tóquio: “As energias estão canalizadas para conquistar o apuramento para os Jogos Olímpicos de Tóquio”.

25 anos de carreira em perspetiva

“Com 25 anos de carreira conseguimos passar por tudo. Pelo excelente, pelo ótimo, pelo mau e pelo pior”, sublinha.

Para o atleta do Sporting CP, mesmo que não tivesse conseguido o ouro no Europeu, já se sentia satisfeito pela carreira que tem feito enquanto ginasta de trampolim: “Mesmo antes deste título, já era uma carreira com a qual eu estava bastante satisfeito”, salienta.

O facto de praticar a modalidade há algum tempo permite-lhe viver cada momento de maneira mais descontraída: “Agora aproveito cada momento de outra forma e acho que isso faz toda a diferença. Estar num campeonato com alegria e conseguir meter de lado a pressão que estes campeonatos acartam é, de facto, a minha forma de estar neste momento e isso vem da experiência de 25 anos”, reitera.

Segundo Diogo Ganchinho, para se ter uma carreira de sucesso é preciso trabalhar duro e acreditar que tudo é possível: “É trabalhar e acreditar naquilo que se faz com as pessoas que estão à nossa volta, porque sozinho não se consegue”.

Depois do ouro no Campeonato da Europa de Ginástica de Trampolins, o foco está na preparação para o Campeonato do Mundo que se vai realizar em dezembro, em Saint Petersburg, na Rússia.

Artigo editado por Sara Beatriz Monteiro