O diário “The New York Times” e a revista “The New Yorker” venceram em conjunto o prémio Pulitzer na categoria “Jornalismo de serviço público” pelos trabalhos que revelaram os múltiplos casos de assédio sexual perpetrados pelo produtor de cinema norte-americano Harvey Weinstein. Os galardões foram entregues esta segunda-feira na Universidade de Columbia, em Nova Iorque.
As jornalistas do diário norte-americano Jodi Kantor e Megan Twohey publicaram o primeiro artigo sobre o tema a 5 de outubro de 2017, que relatava como o produtor de Hollywood Harvey Weinstein comprou o silêncio de várias mulheres que assediou e que continha os testemunhos de algumas delas. A “The New Yorker” publicou cinco dias depois um artigo com várias denúncias contra o produtor de cinema.
O diário nova-iorquino publicou uma reportagem com pormenores sobre o assunto, cinco meses depois do primeiro artigo, que quebrou o silêncio de mais de 100 alegadas vítimas do produtor, conhecido por revolucionar o cinema em Hollywood. A atribuição dada pelo júri refere “o jornalismo de impacto e explosivo que expôs predadores sexuais poderosos e abastados, incluindo alegações contra um dos produtores com maior influência em Hollywood”.
A equipa do “The Washington Post” venceu o prémio “Jornalismo de investigação”, pelo trabalho que expôs os alegados abusos sexuais a menores pelo ex-candidato republicano a governador do estado do Alabama, Roy Moore, e por revelar “as tentativas sucessivas de minimizar o jornalismo que relatou o caso”. O colunista John Archbald, do Alabama Media Group, venceu a categoria “Comentário”, relativo mesmo assunto.
O Post partilhou ainda com o Times o galardão de “Jornalismo nacional” pela cobertura que ambos dedicaram à investigação em curso nos Estados Unidos à interferência russa nas eleições presidenciais de 2016.
A novidade dos prémios Pulitzer foi a vitória do rapper norte-americano Kendrick Lammer, pelo álbum “DAMN.”, na categoria “Música”. Foi a primeira vez que a música contemporânea venceu o galardão – a música clássica ou o jazz eram os géneros vencedores desde a primeira edição em 1943. O júri definiu o álbum lançado a 14 de abril de 2017 como “uma coleção de música virtuosa unificada pela autenticidade vernacular e dinamismo rítmico” demonstradora da “complexidade da vida afro-americana moderna”.
A lista dos restantes premiados nos prémios Pulitzer deste ano:
“Última hora”: entregue à equipa do “The Press-Democrat”, pela cobertura dos incêndios florestais em Santa Rosa e o condado de Sonoma, região vinícola da Califórnia.
“Jornalismo explicativo”: atribuído à equipa do “The Arizona Republic and USA Today Network”, pela “mestria na combinação de texto, vídeo, podcasts e realidade virtual para examinar, de múltiplas perspetivas, as dificuldades e consequências não intencionais” da construção do muro que divide as fronteiras dos Estados Unidos e do México, a encargo da administração Trump.
“Jornalismo local”: atribuído à equipa do “The Cincinnati Enquirer” pelo trabalho “Seven days of Heroin” a relatar com uma “narrativa perspicaz” a epidemia de heroína em Cincinnati e por mostrar como o “vício mortal destruiu famílias e comunidades”.
“Jornalismo internacional”: entregue aos jornalistas da Reuters Clare Baldwin, Andrew R. C. Marshall e Manuel Mogato pela reportagem em que expuseram as mortes por detrás da “guerra às drogas do Presidente das Filipinas, Rodrigo Duterte”.
“Escrita característica”: ganho pela jornalista freelancer Rachel Kaadzi Ghansah, pelo retrato do assassino Dylann Roof – publicado na revista “GQ” – acusado pelo homicídio de nove pessoas dentro de uma igreja em Charleston, Carolina do Sul.
“Crítica”: entregue a Jerry Saltz, da revista “New York”, “pelo trabalho robusto que transportou uma, por vezes, perspetiva desafiante da arte visual”.
“Escrita editorial”: atribuída a Andie Dominick, do “The Des Moines Register”, pela análise dos impactos da privatização da Medicaid nos residentes pobres do Iowa.
“Cartoon editorial”: ganho por Jake Halpern, jornalista freelancer, e a Michale Sloan, cartonista freelancer, pela “série emocionalmente forte, contada numa narrativa gráfica, que mostrava as lutas diárias de famílias refugiadas reais e do medo de deportação”, publicada no “The New York Times”.
“Fotografia de última hora”: entregue a Ryan Kelly, do “The Daily Progress”, em Charlottesville, pelas fotografias captadas durante o atropelamento de várias pessoas durante um protesto racial, em agosto de 2017.
“Fotografia característica”: atribuída à equipa da Reuters pelas “fotografias chocantes que expuseram ao mundo a violência contra os refugiados Rohingya”.
“Ficção”: entregue a “Less”, de Andrew Sean Greer, “um livro generoso, musical na prosa e expansivo”, sobre o envelhecimento e a “natureza essencial do amor”.
“Drama”: atribuído a “Cost of Living”, de Martyna Majok, por “convidar as audiências a examinar as diversas perceções do privilégio e conexões humanas” entre um antigo camionista a ex-mulher paralisada, um jovem arrogante com paralisia cerebral e a cuidadora.
“História”: entregue a “The Gulf: The Making of an American Sea”, por Jack E. Davis, sobre a história ambiental na Guerra do Golfo e sobre o complexidade do ecossistema marinho nessa região.
“Biografia”: atribuída a Carolina Fraser pela biografia de Laura Ingalls Wilder.
“Poesia”: entregue à coleção de poemas “Half-light”, de Franck Bidart, um série que “se constrói na mitologia clássica e que reinventa as formas e desejos que desafiam as normas sociais”.
“Não ficção generalista”: entregue a James Forman pelo livro “Locking Up Our Own: Crime and Punishment in Black America”, “pelo exame às raízes históricas do sistema judicial contemporâneo nos Estados Unidos e nas consequências “por vezes devastadoras para cidadãos e comunidades de cor”.
Artigo editado por Filipa Silva