Na manhã desta quarta-feira, Miguel Guimarães, bastonário da Ordem dos Médicos, esteve na pediatria do Hospital São João a fim de perceber a falta de condições denunciadas nos últimos dias.

O bastonário defendeu que os utentes devem ser transferidos para a unidade principal do hospital, de modo a evitar os transtornos causados pelas deslocações: “É uma urgência integrar a pediatria dentro da estrutura física do São João”.

“Uma criança que esteja internada e precise de fazer uma TAC tem que ser deslocada dos contentores para a parte central do hospital. Esta deslocação normalmente é feita em ambulância, o que significa atrasos e situações fora do normal”, afirmou Miguel Guimarães.

No entanto, o bastonário da Ordem dos Médicos quis lembrar que o São João “é um hospital de referência no Norte do país” e que, por isso, as crianças “não deixam de ser tratadas por estarem naquelas condições”.

Obras na ala de quimioterapia para crianças terminam a 15 de Junho

“Relativamente à questão dos tratamentos oncológicos das crianças, a direção do São João já tinha obras em curso. Tem obras que estão terminadas em 15 de Junho deste ano”, começou por dizer o bastonário dos Médicos.

Assim sendo, a partir do dia 15 de Junho, as crianças com problemas oncológicos e com necessidade de fazer quimioterapia vão ter “instalações próprias para crianças” e “condições dignas para poderem fazer os tratamentos em paz”, garantiu o bastonário.

Ainda assim, no que diz respeito à “pediatria geral”, o bastonário da Ordem dos Médicos salienta que “é fundamental que o ministro das finanças desbloqueie a verba rapidamente para se iniciarem as obras”.

“A informação é que neste momento o Hospital São João não tem garantias das obras, nem da associação do Joãozinho, nem do Estado. Irá ter agora do Estado, irá ser comunicado pelo ministro da saúde e irá ser disponibilizada a verba, mas ainda não foi. Para já só foi anunciada”, afirmou.

O bastonário admitiu que se sentia “preocupado” por ainda não haver data “para a obra arrancar”, mas acredita que será anunciada “durante a próxima semana, no máximo na semana a seguir”. “Quando esta obra tiver prazos, eles devem ser anunciados, devem ser monitorizados e, sobretudo, devem ser cumpridos”, concluiu.

Novos espaços provisórios

Tendo em conta que as instalações provisórias da ala pediátrica têm sete anos, Miguel Guimarães expôs a necessidade de criar novos espaços temporários enquanto decorrem as obras.

“O número de intervenções indica que aquelas instalações já não são adequadas. Podem-se fazer instalações provisórias até a obra definitiva dentro da estrutura física do Hospital São João estar completa”, afirmou o bastonário. Miguel Guimarães explicou que já foram feitas “1.419 intervenções só durante o ano 2017” nos contentores.

O bastonário aponta que, caso haja novas instalações provisórias, estas funcionarão durante “um ano ou dois”, enquanto as obras dentro do hospital estiverem a decorrer. Contudo Miguel Guimarães admitiu: “Eu não sei quanto tempo demora a construir, isso não vos consigo responder”.

Transferência para outros hospitais

Nas declarações aos jornalistas, Miguel Guimarães referiu ainda a possibilidade de as crianças que vão para o Hospital de São João poderem ir para outros hospitais, “nomeadamente o IPO do Porto”.

Para o bastonário da Ordem dos Médicos é importante que se entenda que “há valências específicas” no São João “que não existem, por exemplo, no IPO”. Neurocirurgia, ortopedia, cardiologia e oncologia pediátrica foram algumas das áreas em que Miguel Guimarães se referiu ao São João como uma “referência nacional”, mas também “a nível europeu”.

“As crianças que tiverem de ser transferidas, eventualmente, por circunstâncias especiais, em que possam ter melhor tratamento no IPO do Porto, com certeza que a direção do Hospital São João o fará, mas eu lembro que o Hospital São João tem as competências e as capacidades necessárias para tratar a maior parte das crianças”, concluiu o bastonário dos Médicos.

Exaustão dos médicos

Miguel Guimarães referiu que “a pressão que é exercida sobre os hospitais é muito grande” e que, por esse motivo, os médicos “têm um problema global”.

Para o bastonário da Ordem dos Médicos, este cenário leva “a uma situação de grande stress, às vezes, de depressão, de exaustão”. “Isto não é bom porque, inclusivamente, prejudica aquilo que é a segurança clínica, desde logo para os doentes, mas para os próprios profissionais de saúde”, sublinhou.

Quando questionado acerca das necessidades apontadas pelos médicos, Miguel Guimarães referiu o facto de precisarem de “novas instalações” e de precisarem “de estar junto da unidade principal” para tornar mais fácil a “deslocação das crianças para fazerem exames auxiliares de diagnóstico, ou para irem para o bloco operatório de ortopedia ou neurocirurgia”.

A falta de profissionais de saúde e de investimento é, também, uma realidade apontada pelo bastonário que concluiu: “Nós não podemos continuar a viver com um orçamento de estado para a saúde de 5,2% do PIB e, para o serviço nacional de saúde concretamente, 4,8% do PIB, não chega, é um valor muito baixo”.

Artigo editado por Sara Beatriz Monteiro