Há três listas na corrida para representar os estudantes no Conselho Geral da Universidade do Porto. A campanha começou no dia 8 de abril e o ato eleitoral está marcado para o dia 23 deste mês.

Cada uma das listas é constituída por quatro estudantes efetivos e por quatro suplentes, todos eles pertencentes a faculdades da Universidade do Porto. A eleição é feita através de sufrágio direto e universal num universo de 30 mil alunos, para um mandato de dois anos.

Diogo Pimenta: “A Universidade do Porto não se esgota naquilo que são as salas de aula”

Diogo Pimenta é o primeiro efetivo da lista A. Natural de Lamego, mudou-se para o Porto para estudar Engenharia Mecânica na Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP). Desde o primeiro ano, é presença assídua no movimento associativo estudantil. Começou por pertencer ao departamento recreativo da Associação de Estudantes da FEUP, da qual é agora presidente.

Em fevereiro deste ano, tornou-se presidente do Fórum Académico para a Informação e Representação Externa (FAIRe), uma federação que representa o movimento associativo estudantil português a nível internacional. “Todo este meu percurso me tem vindo a dar uma série de valências que me fizeram despertar o meu sentido crítico e a minha visão para a Universidade”, afirma Diogo Pimenta.

Ainda assim, o primeiro efetivo da lista A acredita que esta é uma competência que se estende a todos os elementos da lista. “Somos sem dúvida os quatro mais conhecedores dos estudantes da Universidade e tenho a certeza que somos os melhores para estar à frente da representação estudantil da Universidade do Porto no Conselho Geral”, defende.

É urgente “aumentar o número de camas” na cidade e melhorar as condições das residências já existentes, diz o estudante

Diogo Pimenta considera que “a Universidade do Porto não se esgota naquilo que são as salas de aula, naquilo que é o ensino e a aprendizagem dos estudantes”.

O manifesto da lista A abrange áreas como a educação e formação, a ação social, o desporto, a internacionalização e mobilidade, o financiamento, os espaços e instalações e a investigação. A modernização do ensino, a introdução de soft-skills nos planos curriculares e uma maior interação com o tecido empresarial são algumas das medidas da lista.

No que respeita à ação social, a lista A acredita que os Serviços de Acção Social da Universidade do Porto (SASUP) estão subfinanciados, o que impossibilita o bom funcionamento do serviço. É urgente “aumentar o número de camas” na cidade e melhorar as condições das residências já existentes.

Ao nível do desporto, a lista A entende que deverá haver uma “colaboração direta entre o Centro de Desporto da Universidade do Porto (CDUP) e as Associações de Estudantes da Universidade do Porto”. Defende também a reestruturação do Estádio Universitário e a uniformização dos equipamentos desportivos utilizados pelas Associações de Estudantes nas competições desportivas nacionais e internacionais.

A lista A confere ainda especial destaque às propinas, defendendo o “aumento do número de prestações” e o “alargamento de prazos de pagamento”.

“A mim parece-me que as outras listas não sabem o que faz o Conselho Geral”

Um dos objetivos da lista A passa por esclarecer os estudantes sobre as funções e responsabilidades do Conselho Geral. Os candidatos pretendem também mostrar à comunidade estudantil que pode ser parte ativa nas discussões no seio da Universidade do Porto.

Para Diogo Pimenta, “o Conselho Geral não é resolver problemas que existam na Universidade” e perceber as competências do organismo é fundamental para o exercício de um bom mandato.

“A nossa candidatura ao Conselho Geral não é com o objetivo de resolver pequenos problemas que possam haver, não é com o objetivo de meter o Ensino Superior a custo zero, não é com o objetivo de reduzir os preços das cantinas. Isso não é função do Conselho Geral, isso é função da Assembleia da República”, explica.

O candidato afirma que este desconhecimento não se reflete apenas na generalidade dos estudantes, mas também nos membros das listas candidatas a este órgão. “A mim parece-me que as outras listas não sabem o que faz o Conselho Geral e o que deve fazer e isso a mim choca-me: que alguém se esteja a candidatar para um órgão para o qual não sabe qual é o funcionamento e nota-se claramente isso pelos manifestos”, lamenta Diogo Pimenta.

Afonso Sabença: “A nossa voz pode ser ouvida se fizermos algum barulho”

Afonso Sabença, primeiro efetivo da lista B, frequenta o primeiro ano do Mestrado Integrado em Psicologia na Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do Porto (FPCEUP).

Decidiu integrar a lista B, pois acredita que os estudantes merecem ser “melhores representados” do que foram até ao momento. “Há coisas que precisam de mudar, porque o Ensino Superior em Portugal e na Universidade do Porto tem vindo a ser atacado ao longo destes últimos anos e é preciso fazer uma reversão do caminho”, afirma Afonso Sabença.

Um dos grandes focos da lista B é a reversão do atual Regime Jurídico das Instituições de Ensino Superior. Para o candidato, “não faz sentido nenhum, tendo em conta que os alunos representam 88% da população da Universidade do Porto”, existirem mais “representantes do privado” do que representantes de alunos no Conselho Geral.

“Estando cinco [seis contando com o presidente] entidades externas no seio do Conselho Geral, muito do financiamento é direcionado de acordo com os interesse dessas entidades, ou seja, é direcionado de acordo com os interesses de privados e direcionado para faculdades ditas geradoras de lucro, como por exemplo a Faculdade de Engenharia”, nota o estudante.

Ficam de fora faculdades como a de Belas Artes, Direito ou Economia, “tidas como não geradoras de lucro para essas empresas”.

“Eu acho que são os estudantes na faculdade que têm de mostrar o seu descontentamento para com a sua representação no seio do Conselho Geral”

Financiamento, ação social, gestão democrática e questões pedagógicas são as quatro áreas sobre o qual incide o manifesto da lista B. “Um ensino verdadeiramente gratuito, a reversão do Regime Jurídico das Instituições de Ensino Superior, a reversão do processo de Bolonha e mais investimento na ação social escolar” são alguns dos pontos que Afonso Sabença salienta.

Estão ainda presentes medidas como: o aumento do valor e do número de bolsas e maior facilidade no processo de atribuição das mesmas; o reaparecimento do passe social escolar, com um desconto de 50% em vez dos atuais 25%; a reabilitação das infraestruturas da FBAUP e da FDUP; e, por fim, a construção e reabilitação das residências universitárias.

Tal como Diogo Pimenta, o candidato da lista B concorda que, devido à “impotência por parte dos alunos que são eleitos para o Conselho Geral”, a comunidade estudantil acaba por se desinteressar pelas eleições para este órgão, bem como pelas suas ações.

“Se a nossa lista efetivamente fosse eleita, também passaria muito por sensibilizar os estudantes para esta realidade. Efetivamente estão lá quatro estudantes e embora nós não tenhamos assim tanto poder quanto isso, porque somos apenas quatro, a nossa voz pode ser ouvida se fizermos algum barulho”, remata o primeiro efetivo da lista B.

Afonso Sabença valoriza o contacto com os estudantes, de “pessoa a pessoa” e de “faculdade em faculdade”, através de cartazes e campanhas de sensibilização. Afinal, é aos estudantes nas ruas a quem compete agir. “Eu acho que são os estudantes na faculdade que têm de mostrar o seu descontentamento para com a sua representação no seio do Conselho Geral, porque eu acho que não será por via democrática, não serão os estudantes que estão de facto no Conselho Geral que têm o poder de mudar isso”, refere o aluno de Psicologia.

Inês Azevedo: “A UP ganha muito mais com o facto de as faculdades comunicarem entre si”

Inês Azevedo é estudante do quarto ano de Medicina na Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP). A primeira efetiva da lista C é a atual presidente da direção da Associação de Estudantes da FMUP e pertence ainda ao Senado e ao Conselho de Coordenadores do Modelo Educativo da Universidade do Porto.

“A minha principal motivação foi dar continuidade ao trabalho que tem vindo a ser feito pelos estudantes no Conselho Geral da Universidade do Porto e também melhorá-lo. Uma das minhas principais motivações foi saber que a maioria dos estudantes desconhece completamente este órgão e a sua importância”, conta a candidata.

A lista começou por publicar posts informativos no Facebook, sob a forma de “Sabias Que?”, para esclarecer a comunidade estudantil acerca das funções do Conselho Geral. O segundo passo, e caso a lista seja eleita, passa por utilizar as redes sociais já existentes, de forma a que os estudantes tenham acesso a uma “atualização constante daquilo que são os debates e os assuntos discutidos em sede do Conselho Geral”, afirma Inês Azevedo Silva.

Além disso, um dos objetivos de Inês Azevedo é fazer com que a Universidade do Porto tenha uma maior relação com as diferentes faculdades e com os estudantes. “Acho que a UP é constituída por faculdades com uma estrutura muito própria, com muitas particularidades, mas ganha muito mais com o facto de as faculdades comunicarem entre si”, explica.

“O principal foco será congelar as propinas, evitar que as propinas aumentem”

Ainda que a lista C deseje um ensino gratuito, Inês Azevedo reconhece que esta é uma medida impraticável, considerando que a Lei de Bases do Financiamento do Ensino Superior o impede.

“A curto prazo, o principal foco será congelar as propinas, evitar que as propinas aumentem e, acima de tudo, assegurar que as propinas revertam efetivamente para melhorar a qualidade do ensino e não para suportar outros custos das instituições de Ensino Superior” revela.

O manifesto da lista C aborda temáticas como a educação e formação, a investigação, o financiamento, a internacionalização e mobilidade, os espaços e instalações, a ação social, a segurança, o desporto e o ambiente. A lista dá especial destaque à manutenção das infraestruturas da Universidade do Porto, nomeadamente a requalificação da FBAUP e da FDUP.

Quanto ao alojamento, a primeira efetiva da lista C concorda que há “uma falta enorme de camas nas residências” e que as mesmas “estão sobrelotadas”. A curto prazo, a lista acredita que é possível “melhorar a qualidade dos quartos nas residências” e, a longo prazo, sugere a construção de novos espaços, “idealmente no Porto”.

Relativamente à alimentação, a candidata ao Conselho Geral vê as filas nas cantinas como a principal questão a combater. Pretendem tornar o atendimento “mais célere” e modernizar a forma de pagamento, para além de aumentar a oferta alimentar para pessoas vegetarianas e vegan.

Apenas 17,4% dos elementos no Conselho Geral são estudantes

O Conselho Geral da Universidade do Porto é constituído por 23 membros, sendo que doze são representantes dos docentes e investigadores, quatro dos estudantes, um do pessoal não docente e seis de personalidades externas à entidade.

Diogo Pimenta, representante da lista A, acredita que é fundamental consciencializar os estudantes face à postura que devem ter dentro da Universidade do Porto. “Entendendo eu que a educação deve ser a base de uma sociedade sólida, bem construída, a passagem pelo Ensino Superior é fundamental e os estudantes aqui têm de se afirmar, os estudantes não são menos que os docentes, nem que os funcionários”, declara.

Para o candidato, a comunidade estudantil tem vindo a perder representatividade nos órgãos de gestão do Ensino Superior e nas próprias faculdades. “Em 23 membros do Conselho Geral da Universidade do Porto, quatro estudantes não é um número muito elevado, muito considerável. Mas isso tem a ver com uma questão de legislação e obviamente se dependesse de nós este número de representação estudantil aumentaria”, explica.

A lista B defende uma “representação equitativa de alunos, professores e pessoal não docente” no Conselho Geral e rejeita a participação de entidades externas no mesmo órgão. “Queremos que os privados saiam do seio do Conselho Geral e que as decisões no seio do Conselho Geral sejam somente tomadas pelos alunos, pelos professores e pelo pessoal não docente, porque é a esses a quem efetivamente compete tomar decisões acerca da faculdade”, aponta Afonso Sabença.

Para Inês Azevedo, representante da lista C, a representatividade dos estudantes é também insuficiente. Ainda assim, este número não deve ser encarado como um impedimento para o exercício de um bom desempenho no Conselho Geral.  “É com esse número que temos de trabalhar e através de quatro estudantes fazer com que as nossas preocupações cheguem às restantes pessoas para que elas se alinhem connosco”, admite.

Infografia: André Garcia

Artigo editado por Sara Beatriz Monteiro