Os quatro candidatos a Reitor da Universidade do Porto apresentaram, esta terça-feira, os seus planos de ação numa audição pública na Reitoria. O JPN traça uma "radiografia" do que defenderam Sebastião Feyo de Azevedo, António Sousa Pereira, Xose Rosales Sequeiros e Peter J. Godman perante o Conselho Geral.

Quase 09h00 em ponto e Sebastião Feyo de Azevedo tomava a palavra naquela que foi a primeira audição pública do Conselho Geral (CG) da Universidade do Porto (UP), uma sessão obrigatória na candidatura ao cargo de Reitor da instituição. Com a desistência de Allen G. P. Ross, as horas das audições foram alteradas e o antigo diretor da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto foi o primeiro a ser ouvido pelo CG.

Sala composta para ouvir o programa de ação do atual Reitor da instituição que começou por justificar a sua candidatura pelo que considera ser a sua característica de dedicação à “causa pública”.

“Sem amarras de qualquer tipo” lia-se num diapositivo da sua apresentação, ao que Sebastião Feyo juntou em palavras: “Não tenho conflitos de interesse de qualquer tipo. Não tenho nenhuma mão a empurrar-me para nenhum lugar. Digo-lhes que, no meu caso, what you see is what you get“.

A meia-hora designada para a apresentação contou ainda com a reafirmação da importância que o atual Reitor dá à “qualidade aferida com critérios reconhecidos internacionalmente pelos nossos pares”, algo que já tinha referido ao JPN aquando da série de entrevistas publicadas aos candidatos ao lugar de Reitor para 2018-2022.

Pertencer às redes de universidades europeias e promover a transformação digital (transformação essa que Sebastião Feyo sublinhou várias vezes ser um meio e não um objetivo), foram alguns dos desejos que afirmou ter para que a UP esteja “na linha da frente”.

Dentro da universidade, investir no “problema muito sério” que é o alojamento estudantil e resolver “problemas prementes” como a degradação do edifício da Faculdade de Belas Artes foram alguns dos enfoques.

Quanto aos estudantes: “Farei uma governação em total respeito pela representatividade das associações de estudantes e com a Federação Académica [do Porto]. Devo dizer que, há já quatro anos, e agora mais, estou a fortalecer a área da ligação da reitoria aos estudantes”, referiu.

“Concretizar as políticas de valorizações remuneratórias dos quadros docentes e não-docentes” e “analisar e decidir o estado do chamado dossiê dos contratos precários” foram dois tópicos que o candidato tocou e que foram mais tarde abordados nas perguntas do CG.

Para Sebastião Feyo, o que conta é “uma instituição reconhecida pela sociedade como relevante para o nosso desenvolvimento e para a afirmação de Portugal no contexto global de cooperação e competição que é o que nós temos hoje”.

“Os que são genuinamente precários devem entrar”

Entre as perguntas feitas ao candidato pelo Conselho Geral na hora dedicada para esse fim, respostas para as questões do envelhecimento do corpo docente e dos contratos precários foram surgindo.

Quanto à questão do envelhecimento do corpo docente, Sebastião Feyo de Azevedo admitiu ser uma realidade, mas justificou que a Universidade do Porto não tem “os mecanismos de gestão de recursos humanos que existem noutras instituições para negociar potenciais aposentações antecipadas ou outras iniciativas desse género”. Sebastião Feyo admitiu que “quando se acabou com os [professores] assistentes não se pensou no reverso da medalha”, o que faz com que atualmente se contrate “professores auxiliares com 41 anos de idade”.

Para resolver o problema, o antigo diretor da FEUP apontou para o que fez naquela faculdade: promover a “participação devidamente controlada e economicamente remunerada dos estudantes de doutoramento”. Em jeito de remate, disse esperar ser “capaz de generalizar essa prática”.

Relativamente aos contratos precários, “os que são genuinamente precários devem entrar”. Apesar disso, o candidato acrescentou que “à custa de uma legislação de precários não pode entrar um conjunto alargadíssimo de pessoas sem sequer cumprir as regras”.

Ana Rita Ramalho, uma das representante dos estudantes no Conselho Geral, aproveitou para questionar o candidato relativamente a questões que se prendem diretamente com quem a elegeu: “Como iria encarar o papel dos estudantes da Universidade do Porto e como os pretende ouvir?”

“Os estudantes estão aqui como recetores, mas também como contribuintes, contribuintes no sentido de contribuir com as suas ideias e com a sua visão para que todos em conjunto possamos refletir sobre a melhor estrutura das universidades”, começou por responder o antigo diretor da FEUP.

“Neste momento acho que existe uma estrutura, que pode ser discutível, de participação dos estudantes. Tenho mantido, o que foi uma inovação há quatro anos, uma pessoa da equipa reitoral cuja função é estar com especial ligação aos estudantes”, concluiu.

Questionado sobre se “pretende fazer o pagamento das valorizações remuneratórias”, a resposta foi clara: “sim”. Segundo o Reitor está “em curso a preparação dos pagamentos das valorizações” relacionadas com “as pessoas que tenham seis excelentes no caso das avaliações anuais, dois no caso das avaliações trienais”.

Por outro lado, quando à “questão dos dez pontos”, não há “meios nem legais, nem financeiros para fazer isso enquanto o Governo não cumprir com a sua obrigação que me parece clara”, referiu.

Aumento de 60 euros por ano nas propinas “não é nada”

Também o assunto das propinas serviu de pergunta, ao que Sebastião Feyo de Azevedo aproveitou para dizer “com toda a clareza” que defende “o pagamento de propinas de uma dimensão limitada”, já que acha que “as coisas na vida devem ter um custo”.

Apesar de admitir preocupação com a sustentabilidade económica das famílias, o atual Reitor afirmou que “um aumento de 60 euros [por ano] para pelo menos 30% ou 40%” dos estudantes “não é nada”.

De Altamiro da Costa Pereira surgiu a questão “porque acha que poderá concretizar tudo aquilo que não conseguiu fazer nos últimos quatro anos?”. A resposta: “Porque as coisas maturam na vida, senhor professor”.

Antigo colega de departamento de Sebastião Feyo, João Campos questionou o candidato sobre as intenções do ministro da Ciência e do Ensino Superior de “acabar com os mestrados integrados, exceto em medicina e arquitetura”. Sebastião Feyo de Azevedo diz achar que “a Universidade do Porto e a Universidade de Lisboa têm muito a ganhar com o fim dos mestrados integrados”.

“Nós aceitamos na nossa universidade centenas de estudantes dos politécnicos nos últimos dois anos. A Universidade do Porto, com esta potencial mudança, vai ganhar muitos estudantes nos segundos ciclos”, referiu o atual Reitor.

Do mesmo professor do Conselho Geral veio uma questão sobre as intenções do recandidato fazer com que a universidade continue num regime fundacional. Apesar de ter “muita potencialidade”, admitiu Sebastião Feyo, o regime fundacional teve “um problema muito grande”: “Infelizmente, em Portugal, se a Universidade de Lisboa não entra, as coisas não funcionam”.

Passavam 20 minutos da hora designada quando Sebastião Feyo de Azevedo acabou de responder às questões que lhe foram colocadas pelo Conselho Geral. Dez minutos depois, foi a vez de António Sousa Pereira tomar a palavra.

“Multidisciplinariedade” foi a palavra de ordem para António Sousa Pereira

Com “honra” e “sentido de responsabilidade”, António Sousa Pereira apresentou-se ao Conselho Geral, entre goles de chá para minimizar os efeitos da laringite que afetavam o diretor do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS).

Quanto a “desafios para o futuro” que apareciam num dos diapositivos da apresentação estava, por exemplo, o equilíbrio entre investigação e docência, que “não é fácil” mas “tem de existir”.

Algo “fundamental” para António Sousa Pereira é “privilegiar a transversalidade das formações”, já que considera que “o progresso surge, sobretudo, nas zonas de fronteira entre ciências tradicionais”. Esta ideia, que já tinha transmitido ao JPN aquando da entrevista como candidato, foi sublinhada ao longo de toda a intervenção. O diretor do ICBAS defende uma relação mais próxima entre unidades orgânicas na criação de formações multidisciplinares, incluindo nas licenciaturas, algo que já acontece na instituição que dirige.

Outro dos pontos considerados como desafios para o candidato é a “drenagem de cérebros” para o estrangeiro que tem que ser equilibrada através do recrutamento de estudantes internacionais. Em jeito de explicação: “Fazermos a outros países aquilo que outros países europeus fazem connosco”, afirmou.

“Muito preocupantes” são, para o candidato, os números do abandono escolar nas universidades, que, em grande parte, António Sousa Pereira diz serem causados pela “deterioração das condições económicas dos estudantes”.

“Claramente há uma segregação social entre as diferentes faculdades.”

Nesse sentido, e em forma de quase ironia, disse ser “muito interessante” olhar para os relatórios dos Serviços de Ação Social da Universidade do Porto (SASUP) e ver “a distribuição de bolsas de estudo entre as diferentes faculdades”. “Claramente há uma segregação social entre as diferentes faculdades. Temos escolas em que temos 25% dos alunos com bolsas de estudo, e temos escolas como as medicinas que andam nos 10%”, concluiu.

Das condições económicas dos estudantes para as da universidade, uma das “condicionantes” que António Sousa Pereira considera que a UP tem é a “ideia generalizada de que as universidades não têm problemas financeiros”, que diz não ser verdadeira. Ideia essa que o candidato diz ter sido potenciada pela “gabarolice que se tinha muitos saldos e sucesso na governação das universidades” e que resultou no “corte de financiamento” por parte “dos políticos”.

De regresso à questão da multidisciplinaridade, o diretor do ICBAS considera que é preciso “combater com todas as forças” a ideia de que tal “não é compatível com as autonomias das faculdades”.

Outro dos pontos presentes na apresentação foi a “promoção de elevados padrões éticos e de integridade académica” que engloba uma necessidade que a “universidade não pode abdicar” – “combater a fraude académica e científica”.

E, sendo o candidato formado em medicina, a saúde também foi discutida. “Não nos podemos esquecer que estamos a lidar com estudantes que estão numa idade crítica do ponto de vista da sua saúde”, disse, referindo que essa é uma “idade em que muitas das doenças mentais se manifestam, da idade em que muitas vezes surgem os conflitos de género, em que o estudante não sabe muito bem o que é que é e está numa fase de indefinição”.

Para combater o problema, “nós temos que ter na universidade estruturas preparadas para lidar com estas situações, que quando são acompanhadas com profissionalismo se resolvem, e quando não são acompanhadas são uma tragédia”, afirmou.

Apesar de um aviso do presidente do Conselho Geral, a apresentação inicial de António Sousa Pereira acabou dez minutos depois do prazo.

“Nas propinas não temos muitas hipóteses de mexer.”

A primeira questão veio mesmo de Artur Santos Silva, presidente do Conselho Geral, relativamente às fontes de financiamento. “Nas propinas não temos muitas hipóteses de mexer”, admitiu o candidato, mas referiu que tem que se ir “buscar dinheiro à prestação de serviços e aos projetos de investigação”. Quanto à investigação, o candidato diz “não poder” aceitar que “candidaturas da universidade fiquem chumbadas na secretaria na candidatura ao 2020”, por exemplo. Para o diretor do ICBAS, a solução para promover “candidaturas de sucesso” seria a criação de unidades de apoio a projetos em cada unidade orgânica.

Já o envelhecimento do corpo docente “não está ao alcance de um Reitor decidir, mas sim lançar a discussão pública e fazer lobbying para que se faça a revisão das leis”, afirmou.

As soluções passam por fazer uma “revisão dos Estatutos da Carreira Docente Universitária [ECDU] porque, tal como está, está um 31 dos diabos”. António Sousa Pereira adicionou que enquanto os concursos de promoção e de provimento “estiverem juntos, vai ser muito difícil” contrariar a situação.

Altamiro da Costa Pereira, membro do Conselho Geral, entre a sua questão sobre quais seriam as prioridades de Sousa Pereira caso fosse eleito Reitor, referiu que as abordagens do candidato eram “pragmáticas embora maioritariamente genéricas”. Já António Sousa Pereira, entre sorrisos, disse ficar “triste” com a expressão utilizada por considerar que “chamar a alguém que se candidata a Reitor de pragmático é um bocadinho ofensivo”.

O candidato justificou dizendo que considera que a palavra se refere a alguém que opta por “respostas testadas”, e que “quem se candidata a Reitor tem que ter abertura de espírito para encarar opções que não estão no terreno nem testadas porque é dessa forma que se faz evolução”.

Já quanto às prioridades, em primeiro lugar, tornar os processos internos mais eficientes, já que a universidade tem “obrigações legais absolutamente terríveis e asfixiantes”.

A questão “crítica” das instalações foi outro dos pontos que referiu quanto às suas prioridades. Apesar disso, quanto ao “problema das Belas Artes e de Nutrição”, admite que esse “tem que estar resolvido, ponto”.

Falando da aplicação das valorizações remuneratórias, António Sousa Pereira foi claro: “como na melhor das hipóteses tomarei posse no verão, espero sinceramente que a valorização remuneratória já tenha sido feita”.

Quanto à equipa reitoral, as únicas garantias feitas foram de que não iria ser integrado qualquer elemento do ICBAS – além do próprio – e que no pelouro relativo à investigação seria colocado “alguém dos laboratórios associados”.

Ana Rita Ramalho, uma das representantes dos alunos, colocou a António Sousa Pereira as mesmas problemáticas que colocou a Sebastião Feyo de Azevedo relativamente ao papel dos estudantes na UP.

Na resposta veio um exemplo do que o candidato diz ter feito na instituição da qual é diretor como demonstração da vontade de ouvir a massa estudantil: “colocámos um estudante indicado pela Associação de Estudantes no Conselho Executivo” do ICBAS. “É muito importante que os estudantes estejam não só em órgãos de consulta, mas também em centros de decisão, até por uma questão de transparência”, referiu.

Depois de quarenta minutos de apresentação do programa de ação e de uma hora e vinte minutos de perguntas, António Sousa Pereira acabou a sua audição pública perante o Conselho Geral.

Xose Rosales Sequeiros: Do Cazaquistão para a UP por videochamada

Eram 14h30 e já a videoconferência estava iniciada. A apresentação de Xose Rosales Sequeiros foi realizada através de uma videochamada no Skype, gravada a partir do Cazaquistão, onde o docente dá aulas, durante a qual foi projetada também uma apresentação PowerPoint com os pontos destacados pelo candidato galego traduzidos para português.

Artur Santos Silva, presidente do Conselho Geral (CG), começou por pedir desculpa pelo atraso de meia-hora e lamentou o facto de o candidato não ter podido estar presente pessoalmente.

O início da apresentação, feita em inglês, ficou marcada por problemas técnicos na ligação da videochamada. Mesmo nos momentos em que o stream da videochamada foi garantido, a qualidade do sinal de áudio não foi o melhor.

O Salão Nobre da Reitoria da Universidade do Porto estava praticamente vazio. A dificuldade em ouvir o candidato gerou alguma distração, sendo que os membros do Conselho Geral conversavam entre si, causando um ruído constante.

A UP aos olhos de Xose Rosales        

Xose Rosales começou por apresentar aqueles que, na sua opinião como figura externa à Universidade, seriam os pontos fortes e os pontos fracos da UP. Os primeiros, para o candidato, passam na sua generalidade pela sua diversidade e dimensão, reputação, qualidade do pessoal de ensino e investigação, a produção de receita e a cidade do Porto como um local atrativo.

Já as fraquezas, para o candidato, relacionam-se com a falta de motivação do staff docente e não-docente, a estrutura organizacional e o envelhecimento do corpo docente.

Em relação ao programa de ação, foi apresentado por pontos e sem medidas concretas para os concretizar, o que despoletou questões dos conselheiros após a meia-hora destinada à apresentação de Xose Rosales.

Os objetivos apresentados pelo candidato, entre outros, passam por “salvaguardar a sustentabilidade financeira da Universidade do Porto”, “aumentar as fontes de receita e eficiência das atividades de educação e formação”, “reforçar a investigação e cooperação” e “investir na responsabilidade social e ambiental”.

“[Os estudantes] querem sentir-se como uma prioridade”

“Os alunos querem que as faculdades sejam tomadas como iguais”

Para Xose Rosales, “os estudantes querem uma melhor comunicação por parte da universidade” e “querem sentir-se como uma prioridade”. Além disso, o professor que dá aulas atualmente numa universidade do Cazaquistão referiu que os alunos querem que “as faculdades sejam tomadas como iguais”.

O candidato espanhol, com dupla nacionalidade britânica, disse que “é importante que os membros da Universidade saibam através de que critérios foram alocadas as quantias para cada uma das faculdades, tendo em conta que todas as faculdades têm necessidades diferentes”.

Em relação ao ponto do plano de ação referente ao aumento das fontes de rendimento, Artur Santos Silva quis saber medidas concretas para as “aumentar”. Xose Rosales respondeu que a “internacionalização pode ser uma solução para aumentar as receitas da UP”, através da atração de estudantes estrangeiros. Os exemplos dados pelo candidato foram o aumento do número de aulas lecionadas em inglês e o aumento do número de programas que pudessem ser oferecidos online.

O vice-presidente do Conselho Geral, José Sousa Lameira perguntou ao candidato em que língua irá falar, caso fosse eleito Reitor da UP, ao que Xose Rosales respondeu: “Quero desenvolver a minha atividade em português”.

Em relação ao facto de estar a fazer a apresentação em inglês, o professor no Cazaquistão justificou que está “mais confortável com o inglês”. Acrescentou ainda que já sabe falar um pouco da língua portuguesa: “percebo português falado ou escrito”. “Em alguns meses quero estar a falar português razoavelmente bem”, rematou.

“Sinto-me em casa” no Porto

Quando questionado acerca das motivações que o levaram a candidatar-se ao cargo, sendo estrangeiro, Xose Rosales explicou que a língua portuguesa, semelhante à língua galega, lembrava-o da sua terra: a Galiza. “Sinto-me em casa”, disse.

O candidato acredita que “as universidades transformam vidas: dos alunos, académicos e não académicos” e que a experiência no estrangeiro pode benefiar a UP. “Trago uma visão internacional”, explicou.

Artur Águas congratulou o conhecimento do candidato acerca da Universidade do Porto, mas advertiu: “Um estrangeiro tem hipóteses muito reduzidas de ser eleito Reitor da nossa universidade”. Contudo, o membro do Conselho Geral e professor catedrático no ICBAS, disse que, caso Xose Rosales não fosse eleito esta sexta-feira, iria “pedir ao Reitor eleito que o convidasse para fazer parte de um seminário na universidade”.

Para Artur Águas, o candidato “é uma das pessoas que os portugueses apreciam” por ser “arrojado”. “Xose Sequeiros, você será muito bem-recebido”, concluiu.

As soluções apresentadas pelo candidato para melhorar a motivação do pessoal docente e não-docente passam por “falar e ouvir, para serem eles a explicar o que se passa e que soluções preveem”. Para Xose Rosales, a “estabilidade” e um ” caminho claro de progressão de carreira” são fundamentais para essa mesma motivação.

Ana Rita Ramalho começou a intervenção agradecendo ao candidato por “acreditar que a UP era merecedora da sua candidatura”.

A aluna de mestrado da Faculdade de Medicina quis saber o que poderia ser feito para “aumentar o sucesso académico dos estudantes”, cuja resposta de Rosales foi “ter em conta a opinião dos alunos” e “alargar a todos a oportunidade de terem relações com o setor privado para que possam praticar aquilo em que se estão a especializar”.

Xose Rosales salientou a importância de ligar a universidade ao poder regional e nacional, com o objetivo de “promoção da universidade”, bem como a importância de ligar a “universidade aos estudantes que poderão candidatar-se à UP”.

No final das questões dos conselheiros, Artur Santos Silva agradeceu a candidatura do estrangeiro, sublinhando o quão “impressionado” ficou “com o conhecimento [de Xose Rosales] acerca da Universidade do Porto”.

Peter Godman: A tarefa mais importante de um Reitor é “ouvir”

Eram 16h00 e Peter J. Godman já estava de pé, junto à mesa de onde faria a sua apresentação. Cinco minutos depois, começa a audição sem suporte digital, agradecendo a Artur Santos Silva pela sua “bondade” e “eficiência”.

Sem um programa de ação, Peter Godman justificou que queria abrir a discussão antes de fechar o conjunto de medidas que pretendia para o mandato, caso seja eleito esta sexta-feira.

O candidato britânico, nascido e criado na Nova Zelândia, apresentou o que considerava ser a tarefa mais importante de um Reitor: “ouvir”.

Segundo o professor em Cambridge, a motivação da sua candidatura passa pelo interesse pela cultura portuguesa, que surgiu quando leu José Saramago pela primeira vez, e pelo sentimento de afinidade por Portugal, como já tinha referido ao JPN.

“Pretendo fazer o meu trabalho em português”

Em relação à língua, Peter Godman disse que estava a aprender português e quer continuar a aprendê-lo caso seja escolhido para Reitor. “Pretendo fazer o meu trabalho em português”, assegurou.

A internacionalização foi a palavra de ordem da apresentação do britânico, que sublinhou a necessidade da UP de reforçar as ligações com a comunidade local, ao mesmo tempo que procura colaborações com o mundo académico fora de Portugal.

“As direções às quais eu proponho expandir a UP são os EUA, o Reino Unido e a Europa”, afirmou.

Durante a apresentação, Peter Godman convidou os membros do Conselho Geral a “ver a Universidade do Porto com olhos externos”. O britânico quis mostrar que a UP “é uma universidade moderna e baseada na investigação com um número substancial de alunos estrangeiros e forças distintivas como a Arquitetura, que é famosa internacionalmente”.

As propostas do candidato para o reforço da internacionalização passam, num primeiro momento, pelo desenvolvimento do Parque de Ciência e Tecnologia (UPTEC) o qual, para Godman, tem “semelhanças com o Parque de Ciência de Cambridge”.

“Uma colaboração com o Parque de Ciência de Cambridge iria reforçar a U.Porto nesta área”, garantiu o britânico. O “desenvolvimento de projetos conjuntos” foi um exemplo de cooperação dado pelo candidato.

A segunda proposta foi o estabelecimento de um Instituto de Estudos Avançados, que incluiria professores, investigadores e estudantes de doutoramento e que reuniria áreas como as Ciências Exatas, as Ciências Sociais e as Humanidades. Para Peter Godman, este instituto poderia trazer vários benefícios para o Universidade do Porto, como o “aumento intelectual”.

Outra meta do candidato britânico é criar um “canal de comunicação informal” entre o Reitor e os estudantes, para que estes possam expor os problemas da universidade.

Peter Godman referiu ainda o estabelecimento de um “sistema tutorial”, no qual um conjunto de estudantes poderia falar sobre as dificuldades que estivessem a ter na universidade a um docente, que seria seu tutor. Esta solução veio no sentido de um problema em Portugal que é o abandono escolar.

Por fim, o professor propôs também uma iniciativa à qual chamou “Rector Lectures”, que consiste numa série de seminários sobre inovação, dados pelo reitor. Nestes seminários, os membros do pessoal docente poderiam discutir e propor soluções e os estudantes seriam também convidados a falar.

Terminada a meia-hora de apresentação, Artur Santos Silva quis saber, em relação ao financiamento, que áreas teriam mais sucesso, se a Universidade do Porto se candidatasse ao European Research Council (ERC).

A esta pergunta, Peter Godman respondeu que a faculdade mais famosa internacionalmente é a Faculdade de Arquitetura (FAUP). Contudo, a ideia não seria “especificar certas áreas”, mas “criar ligações dessas áreas a universidades na Alemanha e no Reino Unido”, porque estas “são orientadas para a investigação internacional”.

O candidato explicou que, apesar da U.Porto ter muitas forças, não tem uma estrutura que possa receber investigadores internacionais e, por isso, a solução seria o desenvolvimento do referido Instituto de Estudos Avançados.

De acordo com as informações fornecidas a Peter Godman por Vítor Silva, a Universidade do Porto, no ranking das universidades internacionais, encontra-se entre as 100 melhores e as 200 melhores universidades. “Eu quero que ela esteja no top 50”, afirmou o candidato.

José Sousa Lameira perguntou ao britânico qual seria a primeira prioridade caso seja eleito. “Se eu estivesse em busca de votos dos membros do Conselho, eu diria que queria falar com o pessoal docente e não docente, mas isso não é verdade. Eu quereria falar com os estudantes”, respondeu.

Aurora Teixeira, do Conselho Geral, disse que “gostava muito dos estudantes”, mas que o candidato deveria também falar com o staff. Expondo o problema do envelhecimento do pessoal docente e não docente, a professora da Faculdade de Economia (FEP) perguntou que soluções Peter Godman tem para essa questão.

“O que me parece absurdo é a divisão entre o Reitor e os estudantes”

O candidato considerou que a forma de pensar deveria ser diferente: “O que me parece absurdo é a divisão entre o Reitor e os estudantes, ou seja, dos mais velhos e os mais novos”.

Em relação à implementação do Instituto de Estudos Avançados, Peter Godman explicou que docentes estrangeiros poderiam vir para o Porto para fazer investigação, mas também poderiam ensinar. “Eu não vejo o Instituto de Estudos Avançados apenas ao nível da investigação, mas como um veículo de inovação e mudança”, garantiu.

Luís Antunes, professor na Faculdade de Ciências (FCUP), referiu que achava “duvidoso encontrar dinheiro em Portugal” para construir o instituto e quis saber se o candidato tinha outros planos de financiamento. “Deixe-me ser muito claro: eu nunca acreditei que seria capaz de fazer tudo o que sugeri apenas com fundos portugueses”, defendeu Peter Godman. Para o candidato, é realista conseguir um financiamento inicial em Portugal, mas tudo o resto virá de fundações internacionais.

Pedro Dias, presidente do conselho diretivo da Agência para a Modernização Administrativa, falou também sobre as colaborações domésticas, como universidades, a comunidade empresarial e a comunidade startup, que Peter Godman considerou que eram também “uma prioridade” e que não deveria “ser separado das colaborações internacionais”.

Terminada a hora das questões do Conselho Geral, Artur Santos Silva agradeceu a presença de Peter Godman, terminando, assim, as audições públicas dos candidatos a Reitor da U.Porto.

O Conselho Geral reúne à porta-fechada, esta sexta-feira, para eleger o próximo Reitor da UP. Cada um dos 23 membros do órgão, composto por 12 professores e investigadores, quatro estudantes, um funcionário não docente e não investigador e seis personalidades externas cooptadas, vota presencialmente e de forma secreta.

O candidato vencedor tem que ter maioria absoluta na votação. Caso tal não aconteça, segue-se uma segunda volta entre os dois candidatos mais votados, em que continua a ser necessária mais de metade dos votos. É possível a existência de uma terceira volta, caso não haja maioria na ronda anterior, em que se elege o candidato com mais votos.

Depois de eleito pelo Conselho Geral, o nome do candidato vencedor terá que passar pela aprovação do Conselho de Curadores da UP, antes de seguir para publicação no Diário da República.

Artigo editado por Filipa Silva