No 1º de Maio, no Porto, vários coletivos feministas juntaram-se para marchar pela igualdade de direitos. A iniciativa teve em vista a representação dos trabalhadores não sindicalizados e a abordar questões de género do mundo do trabalho.
O primeiro dia de maio é marcado pela luta dos trabalhadores. Como é habitual, a Avenida dos Aliados já estava cheia ao início da tarde, de uma ponta à outra. Os sindicatos preencheram todo o espaço, mas na Praça Humberto Delgado, em frente à Câmara Municipal do Porto, junta-se quem não integra a luta sindical organizada.
Este ano, à semelhança de anos anteriores, alguns coletivos feministas e ativistas organizam-se numa marcha contra a precariedade numa tentativa de trazer para a discussão questões sociais que se queixam de ver esquecidas pelos sindicatos. O primeiro 1º de Maio feminista, assim apelidado, juntou coletivos feministas como A Coletiva, UMAR, Coletivo Feminista de Letras e Catarse.
Na concentração, que juntou algumas dezenas de pessoas, evidenciam-se as três faixas principais. A UMAR atira: “Escravas? Nem do lar nem do capital; Insubmissão Feminista Global”.
A Coletiva promove a greve das mulheres marcada para 8 de março de 2019 e aos dois grupos junta-se ainda outra mensagem: “Trabalho sexual é trabalho”. Esta é uma das reivindicações desta marcha feminista que traz à rua cânticos e gritos de ordem em defesa dos direitos dos trabalhadores do sexo.
Segundo um membro da Porto G, equipa da APDES que intervém na área do trabalho sexual em contextos de interior, o trabalho sexual “deve ter os mesmos direitos e deveres que as outras profissões”, declara ao JPN preferindo não se identificar. Em Portugal, apesar de não ser criminalizada, a prostituição “é uma atividade que não é reconhecida como trabalho”, explica.
A Porto G, que trabalha com homens, mulheres e pessoas trans que fazem trabalho sexual na zona do Porto, acredita que “enquanto esta profissão não for reconhecida como trabalho, ainda há muito por fazer. Porque a partir desse momento com certeza que as coisas mudarão e as pessoas trabalharão com muito mais segurança e com muitos mais direitos do que agora”, refere.
O Coletivo Feminista de Letras, parte da organização da marcha, traz consigo a voz dos estudantes que, em breve, vão também entrar no mercado de trabalho. “Estudo para me libertar, trabalho para me sustentar, mas o meu futuro vejo-o a voar”, é uma das frases que se lê.
O primeiro 1º de Maio feminista levou para a Avenida dos Aliados exigências que habitualmente ficam de fora da agenda dos sindicatos. Patrícia Martins, representante d’A Coletiva, afirma que esta marcha “reivindica, primeiro, o lugar das mulheres nas lutas que se referem ao trabalho”. Uma vez que se associa a luta do trabalhador ao homem, considera a ativista, aqui pretende-se alargá-la a todas as pessoas que verdadeiramente dela fazem parte.
“Queremos também trazer outras questões, nomeadamente a representação das pessoas LGBT, das mulheres trans, das mulheres lésbicas, das mulheres emigrantes, das trabalhadoras do sexo, por também no contexto do trabalho estarem muitas vezes em situações desfavoráveis e de exploração”, enumera Patrícia Martins.
Por volta das 16h00, uma hora depois da hora marcada para a concentração, a enchente de pessoas começa a andar. Ao primeiro passo começam os cânticos e os grupos feministas fazem-se ouvir Aliados abaixo.
“A nossa luta é todo o dia, contra o machismo, racismo e homofobia”, gritou-se no arranque da marcha. Entre megafones, cartazes, faixas e vozes de quem se junta, o 1º de maio feminista avançou atrás de outras organizações não sindicais que integram a cauda da marcha.
Segue na frente a UMAR, com uma faixa branca e cinco mulheres a segurá-la. Neste dia do trabalhador, e segundo Ilda Afonso, a UMAR destacou a desigualdade salarial de homens e mulheres. Para a ativista “o fosso salarial em Portugal é muito grande e não é uma consideração, basta consultar as estatísticas”.
A UMAR é uma organização feminista que luta pelos direitos das mulheres desde 1976 e a representante considera que é preciso que as mulheres intervenham no espaço público: “Temos de aproveitar todas as oportunidades para nos fazermos ouvir”.
Num percurso que dá a volta aos Aliados, passando pela Rua Sá da Bandeira, não cessam os gritos e cânticos. Não ignorando a luta dos trabalhadores sindicalizados, ali dizem que a luta é pelos que não têm voz. Desde os trabalhadores precários aos trabalhadores sexuais. Desde as mulheres LGBT às mulheres migrantes.
Vão-se fazendo pausas no percurso para dispor os cartões de divulgação da greve feminista no chão. A ideia é lançar a frase de ordem e anunciar a greve: “No 8 de março greve vamos fazer, doa a quem doer”, dizem.
A festa continua no centro da Avenida com concertos e diversão, onde todos os movimentos se fundem e deixa de haver sindicatos e não sindicatos. Agora, no fim, a festa é para todos, e o primeiro 1º de Maio feminista promete continuar a luta para além das ruas do Porto.
Artigo editado por Sara Beatriz Monteiro e Filipa Silva