“Estudante universitário não paga, mas também não dorme”, “Quarto barato, apenas 500€ por mês, que pechincha”. No Jardim da Cordoaria, no Porto, eram mensagens destas que se ouviam esta quinta-feira ao final da manhã. A acompanhar o som debitado de um aparelho eletrónico, estavam montadas duas tendas e um cubo metálico envolvido por lonas com a imagem de Manuel Heitor, ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, e frases alusivas ao tema.

A ação de rua foi promovida pela Federação Académica do Porto (FAP). O objetivo é, segundo o presidente da federação, João Pedro Videira, “alertar a comunidade, a sociedade, as instituições de ensino superior, a cidade e principalmente o Governo” para a questão da falta de camas e dos preços “exorbitantes” das habitações para os estudantes.

Na opinião de João Pedro Videira, a situação “está a tornar-se incomportável”. O presidente da FAP acredita que o problema tem de ser resolvido “já no próximo ano letivo”. João Pedro Videira explicou que a oferta de alojamento público é muito reduzida: “Existe cerca de uma cama para cada 60 estudantes. Os preços na oferta privada são exorbitantes, um quarto custa metade de um ordenado mínimo”, declarou ao JPN.

O presidente da FAP acredita que a mudança tem de acontecer – “não podemos continuar a ser ignorados” – mas deve partir do próprio Governo: “As instituições de ensino superior em Portugal estão um pouco limitadas, porque quando querem utilizar as suas receitas próprias para fazer investimentos, o Governo não autoriza estas despesas, e por isso ficam de mãos e pés atados”, afirma.

João Pedro Videira afirma que a FAP tem alertado para esta questão: “desde dezembro que temos vindo a ser ignorados. Temos alertado para este problema, temos entregue posições ao governo e aos grupos parlamentares sobre esta temática”.

O presidente da federação confirmou a presença da FAP no Conselho Municipal da Juventude, que se realiza esta quinta-feira às 18h00. João Pedro Videira afirmou que “a FAP não se vai demitir do seu papel e vai apresentar as propostas”.

“É necessário inverter esta política de tornar os estudantes deslocados em desalojados”, remata o presidente da FAP.

“Isto tem que ser uma preocupação do novo reitor”

A questão do alojamento académico não inquieta apenas a FAP. Ana Gabriela Cavilhas, estudante da Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação da Universidade do Porto (FCNAUP), é natural de Aveiro e deparou-se com dificuldades quando procurou casa no Porto: “Os preços são exorbitantes e as casas que têm rendas menos elevadas não têm grande comodidade: não têm iluminação, nem janelas”, afirma.

Para a estudante de 21 anos, “é preciso que haja uma mudança de paradigma. Isto tem que ser uma preocupação do novo reitor”.

Diogo Pimenta tem 22 anos, é natural de Lamego e é estudante de Engenharia Mecânica da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP). Afirma que quando chegou ao Porto para estudar, a situação estava diferente: “Há cinco anos a facilidade em encontrar casa perto da faculdade era maior e os preços eram mais apelativos”, garante.

Mas entretanto o paradigma foi mudando e o estudante da FEUP lamenta que os preços das habitações sejam, neste momento, “incomportáveis” para a maioria das famílias portuguesas. Diogo Pimenta reforça que “têm de ser feitas intervenções a nível local e nacional”.

O estudante de Engenharia Mecânica acredita também que a mudança começa no Governo: “Para além das instituições do ensino superior e dos municípios, acima de tudo tem que haver uma visão do Governo, para aquilo que são as condições que são dadas aos estudantes do ensino superior”, afirma.

Artigo editado por Filipa Silva