Os habitantes das ilhas querem melhores condições de habitação, mas receiam que a reabilitação das casas resulte num aumento das rendas. Ao mesmo tempo, os proprietários são aliciados por um mercado mais atrativo: o do alojamento local. A Câmara Municipal detém apenas três das 957 ilhas da cidade, onde vive 5% da população portuense.
Os problemas e as soluções para este tipo de aglomerado urbano foram debatidos esta segunda-feira na Junta de Freguesia do Bonfim, a propósito do projeto “Retratos das ilhas: Bonfim para além das fachadas” cofinanciado pela Fundação Calouste Gulbenkian.
Câmara olha para as ilhas como “uma condição” e não como “um problema”
“Mais de dez mil pessoas que vivem nestas ilhas, portanto, 5% da população do Porto”. São palavras de Pedro Baganha, vereador com o pelouro do urbanismo, que olha para esta realidade como “uma condição” e não como “um problema”, tendo em conta que “um problema quando não tem solução é uma condição”.
O autarca admite que o tema é “de grande complexidade” e que a intervenção direta da Câmara não é possível nas 957 ilhas do município, uma vez que apenas três pertencem à autarquia.
O tecido social frágil de que fazem parte tanto os moradores como os proprietários é um dos principais desafios, mas afasta a ideia de que a solução possa ser a erradicação das ilhas.
Problema das ilhas “só se resolve na esfera do poder central”
Mas o que pode fazer a Câmara Municipal?
Na visão do vereador do urbanismo, a Câmara Municipal deve, por um lado, continuar a intervir sobre as três ilhas que lhe pertencem e, por outro, criar “redes de apoio local”, como o programa Habitar Porto, que conheçam as especificidades de cada caso para que se criem soluções adequadas a cada situação: “É muito importante ter pessoas no terreno”.
Apesar e afastar a hipótese de erradicação das ilhas do Porto, Pedro Baganha sublinha que “para algumas ilhas a única solução que existe hoje é a demolição”.
Álvaro Domingues: Ilhas não devem ser “objeto de romantização”
De malditas passaram a moda e “nunca se ouviu falar tanto em ilhas” como agora, adianta Álvaro Domingues, que defende que as ilhas não devem ser um “objeto de romantização”. O geógrafo sublinha que este é um discurso “esquizoide”, uma vez que no terreno persiste ” a realidade da pobreza e no discurso monta-se uma espécie de ficção sobre o que elas podem vir a ser”.
Álvaro Domingues adverte para o perigo de “a ilha rapidamente se transformar num arquipélago”, isto é, numa sociedade fraturada que se divida “em ilhas de pobres, de desgraçados, de emigrantes sem papéis, de airbnb, de coisas muito chiques, porque agora é muito chique viver numa ilha, etc.”.
Para o geógrafo é necessário expor e debater a realidade complexa das ilhas. “Não é preciso romantizar o assunto, é preciso expor, expor o assunto, as suas contradições, a diversidade das situações, para ver se finalmente encontramos enquanto cidadãos formas de debate”, remata.