Biscoitos Académicos. É este o nome do novo produto alimentar apresentado esta terça-feira na Universidade de Coimbra (UC), resultado de uma parceria da instituição com as pastelarias Vasco da Gama. A receita é de 1902, mas quer rechear as prateleiras das pastelarias do presente.

A receita é simples: farinha, ovos, açúcar, manteiga, raspas de limão e um recheio de doce de pêssego. Foi redescoberta por Carmen Soares, diretora do Doutoramento em Patrimónios Alimentares, Culturas e Identidades da UC.

“Encontrei-a num livro quando estava a organizar uma exposição”, conta ao JPN. Pertence ao livro de receitas “Cosinha Portugueza” e é “a primeira obra dentro do que é a literatura culinária portuguesa com um discurso nacionalista que tenta divulgar a cozinha portuguesa”, conclui Carmen Soares.

No entanto, depois de a ter estudado reparou que no mesmo livro existiam mais receitas que remetiam para a universidade e para os estudantes. Além dos Biscoitos Académicos, encontrou outras receitas como a “Omelete de estudante”, o “Bacalhau à doutora” ou o “Coelho e Bacalhau à Estudantina”.

Mas as curiosidades não ficam por aqui. “Houve uma necessidade de fazer um ajuste à época”, confessa Carmen Soares e, por isso, o biscoito original sofreu uma pequena alteração. Este trabalho foi da responsabilidade da aluna do mesmo doutoramento, Carolina Gheller. O biscoito de hoje é recheado com doce de pêssego e há uma razão para o ser.

Há um outro documento na Biblioteca, um texto escrito em 1727, chamado “Suplício dos Doces”, uma sátira que retrata um julgamento dos doces da cidade. Com que objetivo? Os doces estão a ser julgados porque fazem mal aos estudantes: prejudicam a saúde uma vez que “o excesso de açúcar não faz bem”, mas também “fazem mal à carteira porque custam dinheiro e os estudantes depois gastavam-no”, conta a diretora do doutoramento.

O doce de pêssego era um dos “julgados”, pelo que foi adicionado à receita original dos Biscoitos Académicos.

Na ausência de qualquer referência à forma dos Biscoitos Académicos do livro de 1902, dentro do espírito honorífico da receita, “homenageia-se no produto do século XXI a identificação da sua pegada literária, dando-lhe a forma de pequenos livros recheados de doce de pêssego”, clarifica Carmen Soares.

O formato da embalagem também foi pensado ao pormenor e é mais uma referência à Universidade de Coimbra. “Tem o formato da nossa torre da Universidade”, a Torre do Relógio também conhecida em Coimbra como “A Cabra”. A UC é Património Mundial da UNESCO e, diz Carmen Soares, “esta embalagem consagra isso mesmo”. “Temos o que é um símbolo no exterior do património material, a torre da universidade e, por outro lado, lá dentro, estão os livros que representam o património imaterial da universidade”, completa.

Os biscoitos académicos são, então, “um produto com tradição, inovação, apoiada em investigação histórica”. A receita está nas mãos das pastelarias Vasco da Gama e é aí que já estão a ser produzidos e comercializados os biscoitos.

À receita original foi acrescentado um recheio de pêssego. Foto: Elcione Silva

À receita original foi acrescentado um recheio de pêssego. Foto: Elcione Silva

Artigo editado por Filipa Silva