Foi por volta das 17h30 que a chanceler alemã, Angela Merkel, e o primeiro-ministro, António Costa, chegaram ao Instituto de Investigação e Inovação em Saúde (i3S), no Porto. Depois de inaugurar o Centro de Investigação e Desenvolvimento da Bosch, em Braga, a comitiva foi recebida pelo (ainda) reitor da Universidade do Porto, Sebastião Feyo de Azevedo, e pelo presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira.

Escoltada por carros oficiais e policiais, naquele que contou, também, com um grande perímetro de segurança policial -que levou, inclusive, ao encerramento de estradas e de uma entrada/saída da estação de metro do Polo Universitário- o evento arrancou. O planeado? Uma visita a três laboratórios do instituto de investigação e um encontro com cerca de uma centena de estudantes de doutoramento, no Auditório Mariano Gago, no âmbito da iniciativa “Encontros com os cidadãos sobre o futuro da Europa”.

Mas tudo começou entre pipetas, provetas, gobelés e outro material de laboratório, no Bioengineered 3D Mircroenvironments, um laboratório que conjuga a bioengenharia e a biomedicina de modo a desenvolver biomateriais avançados focalizados para engenharia de tecidos, medicina regenerativa e para a investigação no cancro.

A seguir, foi a vez do Nanomedicines / Translational Drug Delivery, um grupo de investigação que recorre, sobretudo, à nanotecnologia de modo a desenvolver sistemas de entrega de fármacos.

Por fim, numa pequena sala, Angela acabou por conhecer as instalações do Bioimaging, a Plataforma Científica do i3S que visa promover o avanço, melhoramento, integração e utilização de soluções na área da bioimagem.

Lembrando que Portugal está habituado a trabalhar com outros países e que o i3S colabora com 130 países e com 34 nacionalidades diferentes, o diretor do Instituto, Mário Barbosa, abriu o debate com os alunos de doutoramento – já no Auditório Manuel Gago – com mote “a ciência sem barreiras é a única possível”. Algo que, segundo o professor catedrático do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS), se deve ao “espírito europeu”. Costa concordou.

No seu discurso inicial, o primeiro-ministro disse sentir-se “bastante inibido de dialogar”, uma vez que estava entre “estudantes de doutoramento da área da química e física”. “[Mas] quis aproveitar o facto de termos uma doutorada em física e química para poderem dialogar de igual para igual”, brincou António Costa com os alunos, referindo-se à sua homóloga da República Federal Alemã.

“Acho que este Instituto é uma demonstração do que é o estatuto europeu”, referiu o primeiro-ministro. “Porque é um espaço aberto para aquilo que hoje é o futuro da Europa”, assente no desenvolvimento do conhecimento proporcionado pela inovação – algo que, segundo António Costa, reflete em parte as estratégias que o seu Governo tem vindo a aplicar e a aposta da própria União Europeia, que tem vindo a contemplar o investimento no avanço científico através das verbas disponibilizadas no seu Orçamento.

“Em 99% das vezes a investigação pode não levar a lado nenhum, mas há 1% que leva e temos de apostar nisso”, fez-se ouvir Angela Merkel, também doutorada em Química Quântica, em Berlim. E apesar deste esforço financeiro, “a Europa tem de ser mais corajosa” e reforçar o investimento na inovação em áreas estratégicas, como a produção de chips ou baterias para carros – um mercado que está completamente dominado pelos Estados Unidos e pela China, apesar da grande parte das máquinas de produção de chips serem criadas no velho continente. A solução? Criar e reforçar incentivos de modo a que investigadores não emigrem, apesar de uma “fuga de cérebros” ser, para a chanceler, inevitável.

“Não é mau de todo quando uma pessoa obteve uma boa formação e tem que se deslocar para outro país”, sublinhou Angela Merkel que acrescentou: “Temos muito alemães que emigraram para os Estados Unidos e que depois não voltaram.”

“Temos de ser mais flexíveis”, frisou Merkel, e António Costa salientou que Portugal, está a reverter esta situação.

“As empresas têm vindo a aumentar 6% ao ano o número de investigadores que têm vindo a contratar e, este ano, abriram já um conjunto de concursos de contratação para postos de trabalho.” Mas a chanceler não deixa de estar correta, aos olhos do primeiro-ministro português.

“Precisamos de atrair, cada vez mais, empresas que venham para cá e criem em Portugal postos de trabalho mais qualificados”, explica António Costa. E a verdade é que exemplos não lhe faltaram, como o banco francês Natixis (que “criou 200 cargos de trabalho qualificado e quer chegar aos 400”), o Euronext Tech Center Porto e marcas de automóvel, como a Volkswagen, a Porsche ou a Mercedes, que já demonstraram interesse em criar em Portugal centros de desenvolvimento de serviços.

Mas a aposta nas qualificações dos portugueses não têm de partir apenas do exterior, salientou o primeiro-ministro. “As empresas portuguesas já perceberam que, para serem mais competitivas, precisam cada vez mais de pessoas qualificadas”, reiterou, sublinhando que esse pode ser um modo de “travar a fuga de qualificações”.

O segundo e último dia de visita de Estado de Angela Merkel, 31 de maio, foi passado em Lisboa, onde de manhã foi recebida pelo presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, no Palácio de Belém.

Artigo editado por Sara Beatriz Monteiro