Foi a música portuguesa que deu o mote para o início do segundo dia do Primavera Sound. Pelas 17h00 subiam ao palco Super Bock os Black Bombaim e no outro extremo do recinto foi a vez dos Solar Corona fazerem as delícias dos festivaleiros.

Neste dia, que também contou com nomes como Ildes, Breeders, Thundercat e Fever Ray, um dos concertos mais esperados – ou talvez o mais esperado – era o do americano A$AP Rocky, que encerrou o palco NOS no segundo dia de festival.

Mas antes disso, no Palco SEAT, estiveram os Grizzly Bear, um nome já bem conhecido pelos portugueses. A banda nova-iorquina, que atuou no festival há cinco anos, misturou o seu mais recente reportório com o antigo. Um concerto que não começou com plateia cheia, mas que foi aos poucos chamando o público.

Com o pôr-do-sol como cenário fizeram-se ouvir músicas como “Yet Again“, “Fine for Now” e “Two Weeks“, a música que simplesmente não podia faltar neste concerto. A banda também tocou algumas músicas do mais recente álbum, Painted Ruins.  

Com um olhar curioso a assistir ao concerto estava Matheus Rabelo, ele que “por acaso não conhecia a banda”.  “Uma amiga indicou-me, e como estava com algum espaço entre atuações que queria ver decidi vir até este palco”, disse ao JPN.

“Gostei porque um dos vocalistas troca bastante de instrumento e eu acho isso muito interessante. Depois a banda usa vários instrumentos de sopro em conjunto com guitarras. Então achei bastante madura a forma como eles constroem a música”, criticou o jovem.

No palco NOS, pelas 22h15, Vince Staples estava prestes a mostrar e demonstrar de que nova fibra é feito o rap – que, nestes dias, percorre o mesmo caminho que o jovem americano de 24 anos.

Envergando um colete à prova de balas – ou, pelo menos, assim o parece -, o rapper incendiou o recinto com “Get The Fuck Off My Dick“, um dos seus temas mais recentes. E isto bastou. Sem palavras, mas com muita energia, o público foi ao rubro, deixando-se levar pelas nuances do hip hop característico que rapidamente converteu toda aquela parte do recinto numa pista de dança para todas as idades.

Conhecido pela sua atitude (muito) crítica sobre problemas como o racismo e a pobreza, Staples cantou, dançou e vibrou do início ao fim, sempre com a crítica na ponta da língua – ou, melhor: sempre com a crítica representada no vídeo que atrás de si passava, onde se via, por exemplo, Martin Luther King. “Obama ain’t enough for me / we’re only getting ‘em started” (“Não me chega ter o Obama [como presidente], estamos apenas no início”), cantava o rapper no seu tema “Bagback“, pertencente ao segundo e mais recente álbum, Big Fish Theory.

Señorita, “Lift Me Up, “Homeage” e “745 foram outros dos temas mais esperados pelo público. “Foi incrível, uma montanha de emoções”, contou João Araújo no final do concerto. “Gostei muito, talvez tenha sido o melhor que vi este ano. Comparado com outros nomes parecidos, do género, acho que foi o que gostei mais dos últimos anos que têm vindo cá.” E sim, “cumpriu as expectativas”.

Num recinto que começou a esvaziar instantaneamente após a saída do californiano do palco, já havia gente a preparar-se para o grande nome que viria a seguir. Mantas estendidas, pernas cruzadas, pessoas sentadas. Um mini e breve acampamento para marcar lugar no tão esperado concerto de A$AP Rocky.

“Rocky, Rocky, Rocky” o público estava já em ansiedade total. Eram 00h45. Com o dobro da multidão que se fez sentir na atuação de Vince Staples, o palco NOS estava a fervilhar de expectativas. Se foram cumpridas ou não? Isso é outra história, mas lá chegaremos.

Sem aparecer inicialmente no palco – e já passando da hora marcada -, Rocky conseguiu colocar toda a gente a cantar com as suas músicas de estúdio, que se faziam ecoar por aquela parte do recinto. Cinco minutos depois entrava em palco, com energia para alimentar os milhares de fãs e não fãs que lá estavam a marcar presença.

Com três temas bem fresquinhos (“Distorted Records, “A$AP Forever e “Kids Turned Out Fine“), o famoso rapper americano recebeu a energia, o barulho que pediu e, ainda, roupa interior do público. A loucura, para quem estava na front line, era imensa e para os aficionados o concerto não desiludiu.

E que o digam Margarida Freitas, Ana Fonseca e Marta Miranda. À frente do palco ainda depois do final do concerto – cheias de energia e a saltar de um lado para o outro – o trio queria mais – e mais, e mais, e mais. “Foi incrível”, “ele é lindo quero casar com ele”, gritavam.

As três jovens, estudantes universitárias e em época de exames, fizeram uma pausa nos estudos para poderem ver A$AP Rocky. Os mosh pits – claro – são algo que não poderia faltar neste concerto e para as jovens são o reflexo da emoção que é presenciar um momento como a atuação de Rocky: “é incrível, consegues sentir a energia e a adrenalina de estar toda a gente ali pelo mesmo”, explicou Marta. “Quase morremos, mas valeu a pena.”

Ao mesmo tempo que A$AP Rocky explodia o Palco NOS, no Palco Pitchfork, do outro lado da colina, estavam os Unknown Mortal Orchestra com um concerto mais calmo – mas que não deixou de ter momentos frenéticos.

Bem em comunhão com a natureza, no meio de uma espécie de clareira, a banda guiou o público por alguns dos seus melhores êxitos. Músicas como “So Good At Being in Trouble“, “Huneybee” e, claro, sem esquecer “Multi-Love“, do álbum com o mesmo nome, os neozelandeses fizeram o público vibrar, acompanhando a música, a cantar e a bater palmas.

Um concerto com muitas luzes e solos de guitarra de Ruban Nielson, o vocalista e guitarrista da banda, que durante o concerto interagiu com o público, bebeu alguns shots de tequilla e até fez a espargata (proeza que lhe valeu muitas palmas e gritos de apoio).

Com o início marcado com apenas 15 minutos de diferença, o público teve que escolher entre ver A$AP Rocky e Unknown Mortal Orchestra. Algumas pessoas, como Francisco Barbosa e Mafalda Serra, tentaram ver um pouco dos dois – mas “sinceramente preferíamos ter visto mais Unknown Mortal Orchestra; só vimos A$AP pela curiosidade”, confessou Francisco. Quanto ao concerto do rapper americano, os amigos descreveram-no como “agressivo” e “muito violento”, mas reconheceram que “ele dá um bom show e tem muita energia em palco – e isso é bom.”

Com dia esgotado está, agora, o terceiro e último dia do Primavera Sound, este sábado. À espera de receber 30 mil pessoas no recinto, a sétima edição do festival termina com as actuações de Nick Cave And The Bad Seeds, no palco NOS, às 22h05; The War on Drugs, pelas 23:40, no palco Seat ; Mogwai, a encerrar o palco NOS, pelas 00h45; e Arca, no palco Pitchfork, às 2h30.