Tendo um irmão atropelado mortalmente enquanto jogava futebol na rua, Antonio Carbajal foi desde pequeno proibido pelo pai de dar toques na bola. A alternativa encontrada pelo jovem mexicano foi trocar os golos pela baliza, de modo a ter vista privilegiada sobre a sua casa e poder escapar à socapa do seu progenitor.

Foi nas vielas do distrito de San Rafael, na Cidade do México, que começou a aventura de Carbajal pelos relvados. Alto e esguio guarda-redes, estreou-se pela seleções “aztecas” nos Jogos Olímpicos de Londres, em 1948. Por aquela altura deixou o Club Oviedo, que o formara, para assinar pelo Real Club España, onde se tornou profissional. O negócio ficou consumado por onze bolas de futebol e “La Tota” jogou duas temporadas, até à extinção da formação alvinegra em 1950. A partir daí integrou os quadros do Club León, onde permaneceu até ao fim da carreira.

Foi, aliás, nesse ano que se estreou pela equipa principal do México, no primeiro jogo oficial disputado no Maracanã e em plena abertura do Campeonato do Mundo de 1950. A competição esteve parada doze anos devido à Segunda Guerra Mundial e voltava ao ativo com pompa e circunstância. Carbajal não podia adivinhar, mas estava a iniciar uma relação duradoura com o principal torneio internacional de seleções.

Os brasileiros meteram-lhe quatro golos na estreia em 1950. Passaram dezasseis anos e Carbajal despedia-se do futebol em Wembley. Nessa altura, com 37 anos, já teve de ser convencido a regressar, pois deixara a seleção após o Mundial de 1962, no Chile. No último jogo, deixou a baliza inviolável frente ao Uruguai, feito jamais repetido nas outras 24 partidas que tinha disputado anteriormente em Mundiais.

Para a história ficou o primeiro jogador a marcar presença em cinco fases finais consecutivas. “Queria ser o melhor guarda-redes do México. Agradeço esta façanha aos guarda-redes da minha época. Eles apertavam e eu tinha de responder com força”, frisou ao jornal espanhol “El País”. O recorde manteve-se intacto durante 32 anos, até ser igualado pelo alemão Lothar Matthäus em 1998 e pelo compatriota de Carbajal, Rafael Márquez, vinte anos depois. “Felizmente não prestei atenção ao meu pai”, ironizou em entrevista à página oficial da FIFA.

“El Cinco Copas” obteve 48 internacionalizações pelos “aztecas”. Continuou depois ligado ao futebol, como treinador, e recebeu da FIFA uma medalha de ouro pelos seus serviços no Mundial.

“Almanaque Mundial” é um rubrica diária do JPN que mergulha em curiosidades da principal competição futebolística de seleções.