Foi com mensagens diretas para o Governo e várias referências à coesão interna que António Sousa Pereira se apresentou esta quarta-feira, no Salão Nobre da Reitoria, na cerimónia de tomada de posse como 20º Reitor da Universidade do Porto.

Com o Governo, a questão é orçamental. Por um lado, porque o dinheiro é escasso: “O subfinanciamento crónico das instituições impede-as de promover o rejuvenescimento do corpo docente, de criar emprego científico, de realizar investimentos fundamentais para as atividades académicas e de renovar equipamentos de estudo, investigação e inovação”, afirmou o novo reitor da UP.

Por outro, porque é incerto e isso tem consequências: “a permanente incerteza em relação ao financiamento do ensino superior mina quaisquer possibilidades de planear e executar e estratégias de longo prazo pelas universidades”, declarou.

Aos jornalistas, já depois de concluído o discurso, o ex-diretor do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS), reforçou que o financiamento “é o problema que o reitor de qualquer universidade enfrenta”. E deu um exemplo concreto: “Ainda temos, por exemplo, muitas dúvidas sobre a aplicação da lei das valorizações remuneratórias que não sabemos como é que vai ser financiada. Temos um contrato de confiança assinado com o Governo mas na prática passamos a vida sem saber como vamos cumprir os compromissos que o Governo nos obriga a assumir”.

Sebastião Feyo de Azevedo ainda no lugar de Reitor que hoje entregou a Sousa Pereira.

Sebastião Feyo de Azevedo ainda no lugar de Reitor que hoje entregou a Sousa Pereira. Foto: Filipa Silva

Não foi o único a falar da necessidade de introduzir mudanças a este nível. Miguel Cadilhe, o primeiro a usar da palavra na cerimónia, sublinhou a urgência “celebrar um novo contrato-programa” com o Governo, um “verdadeiro”, ironizou o presidente do Conselho de Curadores da Universidade do Porto, porque o atual não está a ser aplicado e sem ele o regime fundacional não tem justificação.

Nove eixos para a governação

António Sousa Pereira apresentou a sua estratégia para os quatro anos de mandato que agora se iniciam. Ela está assente em nove eixos:

  • Coesão interna através da autonomia das Unidades Orgãnicas;
  • Integridade académica;
  • Processo de ensino-aprendizagem centrado no estudante;
  • Reforço e renovação do corpo docente e progressões na carreira;
  • Universidade de investigação e inovação;
  • Combate à burocracia e ganhos de eficiência;
  • Qualidade de vida dos estudantes
  • Desenvolvimento regional e nacional
  • Internacionalização como fator de sustentabilidade e notoriedade institucional;

No capitulo da coesão, que frisou em mais do que uma ocasião, aludiu a uma gestão “descentralizada” e à promoção à “transversalidade, interdisciplinaridade e partilha de conhecimento”.

Quanto aos estudantes, “razão de ser da Universidade”, prometeu “reforço do apoio social”, “formação pedagógica dos docentes, aprendizagem em pequenos grupos, acompanhamento tutorial e generalização das tecnologias de e-learning”.

Quanto ao corpo docente, que assumiu estar “envelhecido e desmotivado”, aludiu a uma aposta na contratação de jovens doutorados.

A nova equipa reitoral tomou posse esta quarta-feira. Foto: Universidade do Porto

Atrair estudantes internacionais de grau como forma de reforçar as receitas e elevar a notoriedade também está nos planos de António Sousa Pereira.

O novo reitor não se compromete com “ruturas ou transformações radicais”, centrando-se na elevação da qualidade da instituição.

Antes de terminar, o novo Reitor da UP ainda deixou um anúncio: a de que José Branco deixará o cargo de administrador “até ao final do ano”. Para o seu lugar, já há um sucessor: João Carlos Ribeiro, responsável pela Direção de Serviços Financeiros e Patrimoniais da Faculdade de Ciências.

Cerimónia “difícil” para Feyo de Azevedo

A cerimónia de tomada de posse de António Sousa Pereira foi a de despedida de Sebastião Feyo de Azevedo que saiu ao cabo de um só mandato, coisa praticamente inédita na história da instituição.

Feyo de Azevedo cumpriu o mandato de 2014 a 2018.

Feyo de Azevedo cumpriu o mandato de 2014 a 2018. Foto: Filipa Silva

O reitor cessante, que perdeu a eleição de abril por apenas um voto, assumiu, no final, em declarações ao JPN, que a cerimónia foi “difícil”. O responsável desvalorizou, contudo, a situação considerando-a “normal”.

“Foi decidido interromper um percurso que eu acho que estava a ser muito positivo, mas é uma decisão legal e consequentemente faz parte”, comentou ainda o catedrático da Faculdade de Engenharia que promete continuar “ligado aos problemas do Ensino Superior” – o jornal “Público” avançava na semana passada que o docente integrará o Conselho Estratégico Nacional do PSD nesta área.

“Recebi uma universidade do professor Marques dos Santos, acrescentei algo, espero que a próxima equipa também acrescente”, concluiu o 19º Reitor da UP.