Grzegorz Lato chegou à seleção polaca em 1971. Por aquela altura era tão só um jovem extremo em início de carreira, que se encontrava ao serviço do Stal Mielec. Um ano depois integrou a equipa que conquistou a medalha de ouro olímpica, mas foi no Mundial da Alemanha que experimentou a verdadeira prova dos nove. Włodzimierz Lubanski, o goleador dos campeões olímpicos em 1972, tinha fraturado a perna direita no encontro de qualificação que deixou a Inglaterra fora da fase final. Lato, então com 24 anos, foi a alternativa designada para preencher a vaga no ataque dos “Biało-czerwoni”.

Apesar de estar vergado por uma responsabilidade excessiva, o dianteiro nascido e criado na vila de Malbork superou as expectativas. Os seus sete golos em outras tantas partidas consagraram o dono da camisola sete como melhor marcador do Campeonato do Mundo de 1974. Mais ainda: guiaram a Polónia a um surpreendente terceiro lugar, atrás da Alemanha Ocidental de Franz Beckenbauer e da Holanda de Johan Cruyff. Era um regresso em força de um país escondido atrás da Cortina de Ferro do comunismo, 36 anos depois da primeira e única participação no certame internacional.

Na primeira fase, os polacos venceram por margens mínimas a Argentina (3-2) e a Itália (2-1). Pelo caminho despacharam o Haiti com sete golos sem resposta. Lato, que já levava quatro tentos na sua conta pessoal, foi ainda mais decisivo nas rondas seguintes, ao decidir os encontros com Suécia (1-0) e Jugoslávia (2–1). Só ficou em branco diante da RFA e isso custou a passagem ao jogo decisivo.

Gerd Müller conferiu substância ao fator casa e atirou com alguma fortuna os germânicos para o embate com os holandeses. “Sempre defendi que vencemos uma equipa fundamentalmente melhor do que nós. Na verdade, jogavam mais que Alemanha, Holanda, Brasil ou outra qualquer e não venceram um Campeonato do Mundo sequer”, admitiu anos mais tarde Paul Breitner, internacional alemão que jogou aquela meia-final, à página oficial da FIFA.

No entanto, foi de Lato o tiro da vitória sobre o Brasil que valeu o último lugar do pódio à seleção polaca. Os “Biało-czerwoni” saíam do Olímpico de Munique com o estatuto de seleção mais concretizadora (quinze remates certeiros) e deixavam água na boca para o futuro. Mais do que um ala goleador, revelava-se ali um jogador completo.

Quatro anos depois, Grzegorz voltou a liderar o ataque do país no Mundial da Argentina. A Polónia não teve o mesmo rendimento e saiu na segunda fase, atrás de brasileiros e argentinos. Ainda assim continuou na alta roda do futebol de seleções até ao torneio seguinte. Em 1982, já com Lato recuado no meio-campo, foi tempo de sobressair o ritmo explosivo de Zbigniew Boniek. Ambos abrilhantaram uma campanha que fez com que os polacos repetissem o terceiro lugar de oito anos antes. “Fomos compactos, um ótimo grupo. Não houve aqueles campeões de 1974 e 1978, mas jogamos muito futebol”, frisou o médio ofensivo.

A Polónia só quebrou na meia-final frente à Itália, já sem o suspenso Boniek. Ainda assim, os quatro golos marcados até ali foram suficientes para incitar a Juventus a pagar mais de um milhão de euros ao Widzew Łódź pelos seus serviços. Já Grzegorz Lato saía do Lokeren belga para o Atlante do México, depois de ter recusado um convite pessoal de Pelé para assinar pelo New York Cosmos. A Polónia registou em 1986 o quarto apuramento consecutivo para Mundiais e foi sorteada no grupo de Portugal. Włodzimierz Smolarek foi o carrasco das quinas e apontou mesmo o único tento polaco em solo mexicano. Os “Biało-czerwoni” seguiram à tangente para os oitavos de final, mas acabaram goleados pelo Brasil (0-4). Só voltariam dezasseis anos depois, no Mundial asiático.

Lato retirou-se do cenário internacional em 1984, quando a Polónia falhou a qualificação para o Europeu de França, tendo marcado 45 golos em 104 jogos. Boniek fez o mesmo quatro anos depois, com 24 golos em 80 partidas. Ambos são considerados os melhores jogadores polacos de todos os tempos, porque simbolizam uma época futebolística dourada que soube libertar-se da repressão exercida pelo regime comunista de Varsóvia. Por ironia, os dois antigos internacionais foram parar ao campo político no novo século. Entre 2008 e 2012, Grzegorz Lato comandou os destinos da Associação Polaca de Futebol, antes de ser rendido no cargo pelo compatriota Zbigniew Boniek.

“Almanaque Mundial” é um rubrica diária do JPN que mergulha em curiosidades da principal competição futebolística de seleções.