Há dois anos que estoirou a polémica e nem a mudança que o Marés Vivas faz este ano para a Antiga Seca do Bacalhau convenceu de vez os ambientalistas.

Esta quinta-feira, na véspera do arranque do certame, o grupo municipal de Gaia do PAN, veio esclarecer, em comunicado, que está “contra a realização da edição do Festival Marés Vivas deste ano” por discordar do local escolhido para acolher o evento.

Em causa estão questões de ordem ambiental relacionadas com a proximidade da Reserva Natural Local do Estuário do Douro (RNLED). A Câmara de Gaia não comenta e acusa o PAN de aproveitamento mediático, na véspera do festival.

Polémica estalou em 2016

Durante dez anos, de 2008 a 2017, o festival assentou a sua estrutura logística na Praia do Cabedelo, junto à foz do Douro. Em 2016, a organização viu-se obrigada a estudar uma nova localização uma vez que os proprietários do terreno tinham planos de construção para o local.

Foi então proposto um novo local, a menos de um quilómetro do anterior, no Vale de São Paio o que motivou uma forte reação de associações ambientalistas.

Depois de várias trocas de acusações com a autarquia – algumas acabaram em tribunal – a organização cedeu e conseguiu voltar à base, a Praia do Cabedelo, mas a mudança dali seria inevitável. Em dezembro do ano passado, dá-se a confirmação oficial: o Marés Vivas muda-se em 2018 para a Antiga Seca do Bacalhau.

O recinto continua nas imediações do anterior, só que num local um pouco mais interior e mais alto.

O PAN de Vila Nova de Gaia opõe-se à colocação do novo recinto “no limite sul/poente” da RNLED e considera “imprudente” realizar o festival nestas condições, numa zona próxima da reserva que classifica como “um refúgio ornitológico” de elevado interesse.

PAN queria estudo de impacte ambiental

“Tendo em conta as características únicas deste local para a preservação da biodiversidade, e por forma a acautelar eventuais danos nos ecossistemas ali existentes, o PAN entende que o executivo de Vila Nova de Gaia deveria de ter efetuado um estudo de impacte ambiental idóneo e independente antes de se decidir por este local para a realização do Festival “Marés Vivas” – o que não aconteceu”, escreve ainda o grupo municipal.

O PAN teme as consequências causadas por efeitos eletromagnéticos, ruído, luzes, pressão humana e resíduos e considera que o “princípio da precaução”, previsto na Lei de Bases do Ambiente, devia ter impedido a realização do festival no novo local, acusando ainda a autarquia gaiense de “total despreocupação” face à preservação da biodiversidade.

O JPN confrontou a autarquia com a posição assumida pelo PAN local. A autarquia “entende que esta posição, na véspera do início do festival, apenas representa uma inscrição despudorada na agenda mediática”.

O Festival Marés Vivas arranca esta quinta-feira, na Antiga Seca do Bacalhau, com Jamiroquai como cabeça de cartaz.