Separados por um ponto e com um início de campeonato que não tem sido fácil, Boavista e Desportivo de Chaves enfrentaram-se, esta sexta-feira, no Estádio do Bessa, em jogo a contar para a quinta jornada. O resultado (1-2) foi muito cruel para os da casa, mas premeia a eficácia de uma equipa que leva do Porto três pontos importantíssimos.

De volta ao onze

 Depois da derrota nos Açores, Jorge Simão optou por mexer nos três setores, com apenas duas alterações. O regresso do capitão Idris ao meio-campo axadrezado permitiu que Sparagna, adaptado a trinco no último jogo, regressasse para o centro da defesa. Raphael foi o sacrificado. Já no ataque, André Claro pagou a exibição menos conseguida frente ao Santa Clara e foi relegado para o banco por Mateus. Antes do jogo, havia expectativa para perceber se Mateus apareceria como um dos dois avançados, ou encostado ao flanco esquerdo permitindo que Fábio Espinho aparecesse mais adiantado junto de Falcone, a referência ofensiva.

Daniel Ramos vinha de um resultado muito moralizador numa competição diferente mas, nem por isso, deixou de fazer uma “revolução” na linha defensiva e de dotar o meio-campo de mais capacidade ofensiva. Recuperados de lesão, Maras, Paulinho e Djavan foram a jogo refazendo, com Marcão, o quarteto defensivo habitualmente titular. Também o médio criativo Ghazaryan, que não fora utilizado no empate do Dragão, surgiu no onze substituindo o trinco Jefferson. O pivot defensivo do Chaves era, hoje, Stephen Eustáquio, o que dizia muito da potencial intenção dos transmontanos em serem protagonistas no jogo.

Xadrez audaz

O jogo começou e a dúvida foi desfeita: Fábio Espinho assumiu mesmo a posição de segundo avançado, à semelhança do que acontecera em grande parte do campeonato do ano passado. Mateus tentava explorar a sua velocidade a partir do lado esquerdo do ataque das panteras.

As equipas entraram agressivas no jogo. Havia grande intensidade em todos os duelos, mas com um ligeiro ascendente axadrezado. Ainda dentro dos primeiros dez minutos, o Boavista já tinha rematado três vezes à baliza de Ricardo.

Aos 17 minutos, a primeira aparição ofensiva do Chaves e que resulta de uma boa jogada. Grande abertura de Eustáquio para a direita, Perdigão toca para o cruzamento de Paulinho e, de fora da área, o mesmo Eustáquio ameaça o guarda-redes Helton Leite.

Os visitantes, à medida que o tempo passava, remetiam-se cada vez mais para o seu meio-campo e deixavam o Boavista crescer. As oportunidades sucediam-se mas, apesar de confiante, a pantera (principalmente por Mateus) estava perdulária.

Defender bem, atacar melhor

Perto da meia hora, um dos lances mais perigosos do jogo até então e que espelhava bem o que o jogo estava a ser: recuperação alta de Idris, passe para Rochinha e, do meio da rua, um bom pontapé que não passa longe da trave de Ricardo.

Costuma dizer-se que a defesa é o melhor ataque, frase feita que facilmente se integraria em qualquer jogo de xadrez. No xadrez do Bessa, era isso mesmo que estava a acontecer. O segredo para a boa exibição do Boavista estava na forma rápida e incisiva com que os defesas axadrezados se antecipavam em todos os lances e na forma como os da casa recuperavam rapidamente a bola.

Quem não marca, arrisca-se a sofrer

Esta é outra frase feita que, do nada, emergiu no universo do Bessa. Aos 35 minutos de jogo, João Pinheiro não perdoou o agarrão de Sparagna a William na área e apontou para a marca dos onze metros. Chamado à marcação, o central Marcão esperou pelo movimento de Helton e definiu com classe.

Estava aberto o marcador no Bessa, a pantera fora castigada e cabia-lhe reverter o caminho da segunda derrota consecutiva.

Nos minutos que se seguiram ao golo do Chaves, o Boavista não pareceu ter sentido muito o toque e continuou com a sua toada dominadora. Ainda assim, seguir-se-iam períodos em que o Desportivo de Chaves, em vantagem, arriscaria ainda menos. O resultado manteve-se, cabia ao Boavista responder na segunda parte.

Balde de água fria

A segunda parte ainda mal tinha começado e já a pantera sofria o segundo e, possivelmente, derradeiro golpe. Como sempre, Djavan conduziu o ataque pela esquerda e, com a defesa adversária já desequilibrada, Ghazaryan rematou à entrada da área ao poste, às costas de Helton Leite e ao fundo da baliza do Boavista. Pior cenário era impossível para Jorge Simão. Quanto ao Chaves, estava perto de garantir uma vitória importantíssima no terreno de um adversário direto.

Risco e recompensa

Se não tinha sentido o primeiro golo, o Boavista também não sentiu o segundo. Um bom remate de David Simão deu o mote para o que se seguiria. O jogo partiu-se, estava mais de acordo com os interesses de Daniel Ramos, mas um golo do Boavista relançava o jogo

Aos 56 minutos, Jorge Simão arriscou, sujeitou-se a sofrer mais golos mas fez o que lhe competia e foi recompensado. Abdicar de um trinco como Idris para lançar um médio como Rafael Costa tem um efeito imediato: um meio-campo com mais qualidade com bola.

Ainda antes da hora de jogo, o Boavista mostrou uma fibra que poucas equipas têm. Subida de Talocha pela esquerda, cruzamento, amorti de Falcone e finalização oportuna de Rochinha.

Com quinze minutos na segunda parte, o Boavista reduzira a diferença e ainda tinha meia hora para empatar ou até ganhar o jogo. As bancadas estavam empolgadas e criou-se um grande ambiente no Bessa.

Perda de qualidade

Depois do golo do Boavista, o jogo perdeu qualidade. Daniel Ramos mudou as caraterísticas do meio-campo, refazendo a fórmula “Dragão”. Sem a criatividade de Niltinho, mas com a agressividade tática de Jefferson, o GD Chaves reforçou o miolo.

Jorge Simão ainda tentou lançar André Claro para o lugar do apagado Mateus, mas estava evidente que um jogo que chegara a prometer estava agora só quezilento.

O tempo foi passando, Jorge Simão lançou um outro ponta-de-lança (Rafael Lopes) e já mais nada podia fazer. O Boavista tinha dez minutos para somar pontos e a verdade é que os merecia. Por pior que o jogo estivesse a ficar, só uma equipa existia ofensivamente. Do GD Chaves, nem contra-ataques.

Último sprint em vão

Nos últimos minutos, o Boavista voltou a virar Boavistão e a empolgar as bancadas. O médio ofensivo Rafael Costa estava muito ativo no jogo, Falcone lutador, Rochinha desconcertante e as oportunidades voltavam a suceder-se, apesar de nenhuma delas ser especialmente flagrante. Se o perigo rondava alguma baliza era, sem dúvida, a do Chaves.

Aos 89 minutos é incrível como um cruzamento atrasado de Falcone não dá golo. A bola foi ter à entrada da área e David Simão tentou a sua sorte, mas não a teve.

Até ao fim houve uma grande oportunidade para cada uma das equipas, mas o resultado não se alterou. É sempre complicado falar de justiça no futebol mas, neste caso, o Boavista bem pode sair frustrado. O Deportivo de Chaves, depois de ter empatado no Dragão, retoma os níveis de confiança. O Boavista avança para a sua segunda derrota seguida, quarto jogo seguido sem ganhar e terceira derrota em quatro jogos.

No final do jogo, os treinadores tiveram alguns pontos convergentes no seu discurso.

“Exibição de luxo, resultado de lixo”

Jorge Simão apareceu na conferência de imprensa visivelmente frustrado com o resultado. “Foi uma exibição de luxo e um resultado de lixo”, declarou.

O técnico dos boavisteiros prosseguiu a sua análise revelando qual será o seu foco nos próximos dias: “Quero reforçar ainda mais a confiança nos meus jogadores. Para mim, apesar de não termos conseguido pontos hoje, jogar desta forma é a melhor forma para alcançar pontos. Não vou desistir das minhas convicções. Não me recordo de nenhum jogo, enquanto treinador do Boavista, em que a minha equipa tenha exercido, sobre o adversário, um domínio tão evidente durante os 90 minutos”.

“O calendário vai por-nos à prova”

Daniel Ramos admitiu que o Desportivo de Chaves, apesar da vitória, não conseguiu pôr o seu jogo em prática.

“Não fizemos o jogo que queríamos, mas muito por mérito do Boavista. Temos tido um início de época muito complicado mas é um teste para nós, para percebermos com quem podemos ombrear”, afirmou. O treinador dos flavienses reforçou, ainda, o peso das vitórias no grupo de trabalho. “Se não jogámos tão bem neste jogo, acredito que possamos jogar nos próximos. As vitórias trazem confiança”.

O Desportivo de Chaves, na próxima jornada, recebe o Benfica. O Boavista vai tentar inverter a sua série negra de resultados em casa do Rio Ave.

Artigo editado por Filipa Silva