Um “cruzamento entre intimidade e olhar etnográfico”. É assim que a codiretora do Family Film Project, Né Barros, descreve a identidade do festival que o Porto vai acolher entre 15 e 20 de outubro, em três espaços culturais da cidade: Passos Manuel, Maus Hábitos e Coliseu do Porto.

Tal como em edições anteriores, este ano o certame organiza-se em três áreas temáticas: “Vidas e Lugares”, “Ligações” e “Memória e Arquivo”. O programa da iniciativa inclui sessões de cinema, masterclasses, performances e video-instalações.

Uma das particularidades do festival é a sua secção competitiva, que aceita filmes amadores e produções profissionais. Tanto curtas como longas-metragens podem competir, oriundas de vários países e de diferentes géneros.

A edição deste ano vai arrancar com a exibição do filme vencedor de 2017. “A Grande Nuvem Cinza”, de Marcelo Munhoz, retrata a vida de quatro famílias ligadas ao cultivo do tabaco numa pequena cidade no sul do Brasil e vai estar no Passos Manuel, no dia 15 de outubro, às 21h30.

“Marias da Sé” em estreia no Porto

O realizador convidado deste ano é Daniel Blaufuks, que vai suceder a nomes como João Canijo ou Regina Guimarães. A obra do artista debruça-se sobre a “relação entre o público e o privado, entre a memória coletiva e a memória individual”. O Passos Manuel vai acolher os seus filmes “Sob Céus Estranhos” (2002), “Carpe Diem” (2010), “The Absence” (2009) e “Como Se” (2014), nas noites de 19 e 20 de outubro.

Um dos principais destaques da edição de 2018 é a exibição da longa-metragem híbrida Marias da Sé, de Filipe Martins, também codiretor do festival. O filme retrata a vida da comunidade da Sé do Porto, numa mistura entre a ficção e o documentário. A estreia no Porto está marcada para dia 17, no Passos Manuel, às 21h30.

O ciclo de performances Private Collection vai contar com os artistas Joana Craveiro, Jorge Gonçalves e Miguel Bonneville, que vão ser desafiados a explorar os problemas da memória. O bar Maus Hábitos será o anfitrião deste ciclo, com entrada gratuita, a 16 de outubro.

Masterclasses gratuitas

O Family Film Project também vai contar com duas masterclasses. A primeira será com Bill Nichols e vai focar-se na importância das cenas de abertura dos filmes. Já a segunda masterclass conta com a socióloga Paula Rabinowitz e tem como mote a exploração do pós-Segunda Guerra Mundial, através dos exemplos de dois casos biográficos na sua família. Ambas as masterclasses são gratuitas, sendo precisa apenas uma inscrição online.

As video-instalações vão estar nos Maus Hábitos, com a exibição dos filmes “Scheherazade or (Per)forming The Archive” de Muriel Hasbun, “The Melody of Decomposition” de Alex Faoro e “On Exile, Fragments In Search of Meaning” de José Carlos Teixeira.

“Não havendo possibilidade de usar um espaço tradicional, fizemos disso uma vantagem”, revela a coordenadora Gabriela Vaz Pinheiro sobre a escolha da localização do evento. “A ideia foi procurar espaços menos convencionais, num espaço que já não é convencional de todo [Maus Hábitos], e procurar posicionar estes três filmes em localizações menos vulgares ou mais inesperadas”, acrescenta.

Mónica Guerreiro, diretora municipal da cultura (esquerda) e Né Barros, codiretora do festival (direita).

Mónica Guerreiro, diretora municipal da cultura (esquerda) e Né Barros, codiretora do festival (direita). Foto: Adriana Peixoto

A Câmara Municipal do Porto apoia o Family Film Project, sendo mesmo uma coprodutora do evento. A diretora municipal da Cultura, Mónica Guerreiro, afirma que “o festival traz uma camada temática de nicho, mas cada vez mais aberta para disciplinas da antropologia, da etnografia, da sociologia, dos estudos da intimidade e da domesticidade, que são áreas que cada vez mais interessam do ponto de vista das investigações histórica e artística.”

“Enquanto sessão competitiva é interessante poder trazer cinematografias de muitos lados do mundo e permitir ao público do Porto aceder a esse tipo de expressão artística”, acrescentou ainda à margem da apresentação do festival que decorreu esta segunda-feira. “É uma parceria que muito nos apraz porque é um festival da cidade que trabalha nestas temáticas de forma muito pertinente e criteriosa”, remata.

Sobre a gratuitidade de todas as sessões para estudantes, Né Barros afirma que tem como objetivo “atrair jovens e organizá-los em grupos”, apesar de reconhecer a dificuldade de suscitar a curiosidade dos mais jovens neste tipo de projeto. “Queremos facilitar o acesso ao festival, até porque normalmente os estudantes estão mais limitados em termos de recursos financeiros e assim não existe essa desculpa”, sublinha.

O programa completo e todas as informações necessárias estão disponíveis online, no portal do Family Film Project.

Artigo editado por Filipa Silva