SÃO PAULO – Em apenas quatro anos, o Brasil presenciou uma crise económica que elevou o desemprego, uma crise política que culminou no afastamento da presidente Dilma Rousseff (PT) e por pouco também não derrubou o atual mandatário, Michel Temer (MDB), e uma crise de confiança nas instituições políticas com o desenrolar da Operação Lava Jato, que levou lideranças partidárias à prisão. Ainda em crise, o país volta às urnas neste domingo, 7, em uma eleição mais dividida que nunca.
Os dois nomes à frente da disputa repetem a polarização entre esquerda e direita vista nas presidenciais de 2014. Jair Bolsonaro (PSL), capitão reformado do Exército, cavalga no fervor antipetismo [anti-PT] da população ressentida com os casos de corrupção nos governos de Lula e Dilma (2002-2016).
O candidato da extrema-direita lidera as sondagens de intenção de voto (41% dos votos válidos*) e busca, nos últimos dias de campanha, a possibilidade de ganhar a Presidência logo na primeira volta eleitoral. Para isso, precisa atingir a marca de 50% dos votos válidos mais um.
Fernando Haddad (PT), ex-prefeito de São Paulo e ungido por Lula como o nome petista para a disputa após a Justiça Eleitoral barrar o ex-presidente da competição, subiu rapidamente nas sondagens ao ser anunciado candidato, mas permaneceu estagnado em segundo lugar nesta última semana, com 25%* dos votos.
Em uma possível segunda volta, a última pesquisa Ibope/Estado/TV Globo, divulgada no sábado, 6, aponta um empate técnico entre Bolsonaro e o petista no limite da margem de erro (52% a 48%*). O cenário dá margem de vitória ao capitão reformado.
A disputa acirrada encontrou ápice no último fim de semana, quando atos pró e contra Bolsonaro reuniram manifestantes pelas ruas do País. Lideradas por mulheres, o #EleNão reuniu milhares de pessoas em todas as capitais no sábado, 29 de setembro, em denúncia ao caráter machista e misógino das falas e propostas do candidato da extrema-direita, além de suas posições conservadoras em questões de gênero e sexualidade. A ação ganhou força nas redes sociais e apoio internacional, incluindo de um grupo de deputadas portuguesas de esquerda.
No domingo, 30, simpatizantes de Bolsonaro retaliaram com a sua própria manifestação e foram às ruas de nove capitais e dezesseis cidades com trajes verdes e amarelos, semelhante às manifestações a favor do impeachment de Dilma Rousseff, em 2016.
Ainda se recuperando de um atentado sofrido em campanha, quando foi esfaqueado em Minas Gerais e precisou ser internado de urgência, Bolsonaro não esteve presente no ato principal, em São Paulo, mas enviou seu filho, Eduardo Bolsonaro, deputado federal e candidato à reeleição, que reafirmou as posições do pai de uma vitória na primeira volta.
As “terceiras vias”
Diferente das previsões de uma possível renovação na disputa eleitoral, a busca por uma terceira via, ou seja, um candidato que não representasse uma polarização entre esquerda e direita, não foi para a frente.
Em terceiro lugar, o ex-ministro da Fazenda e ex-governador do Ceará Ciro Gomes (PDT) segue com 13% das intenções de voto. Visto como uma opção de centro-esquerda e, até a última pesquisa Ibope, apontado como o único candidato a vencer Bolsonaro no limite da margem de erro (52% a 48%), Ciro perdeu forças após a entrada de Haddad na disputa, mas ainda acredita em uma possível virada na primeira volta.
Na direita, o ex-governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), não teve sucesso com a sua candidatura apesar de contar com o expressivo apoio do “Centrão”, grupo de cinco partidos de centro e centro-direita. Em quarto lugar, Alckmin registra apenas 8% dos votos válidos e vê, pela segunda vez, uma derrota nas presidenciais. A primeira foi em 2006, contra Lula.
Marina Silva (Rede), que busca a presidência pela terceira vez consecutiva, passa pelo seu pior desempenho eleitoral desde 2010. Apesar de ter ganhado impulso no início da campanha, com acenos ao eleitorado feminino contrário a Jair Bolsonaro, a ex-ministra do Meio Ambiente se vê na reta final com apenas 3% dos votos válidos. Em 2014, Marina chegou a segundo lugar durante a campanha, com possibilidades de vencer Dilma Rousseff, mas também murchou após os ataques dos adversários e terminou fora da segunda volta.
Há também outros oito candidatos, espalhados pelo espectro político brasileiro, incluindo Alvaro Dias (Podemos), Guilherme Boulos (PSOL), Henrique Meirelles (MDB) e Cabo Daciolo (Patriota). Ao todo, 13 candidatos disputam a presidência neste ano.
Apesar de tantas opções, mais de 147 milhões de brasileiros devem ir às urnas neste domingo ainda incertos com o futuro político e econômico do País. Em crise, a única certeza para o Brasil é que, independente do resultado, a divisão segue tão forte quanto em 2014.
(* A pesquisa Ibope/Estado/TV Globo ouviu 3.010 eleitores entre os dias 5 e 6 de outubro. A margem de erro é de dois pontos porcentuais para mais ou para menos, e o intervalo de confiança é de 95%. Ou seja, há uma probabilidade de 95% de os resultados retratarem o atual momento eleitoral, considerando a margem de erro. O registro na Justiça Eleitoral foi feito sob o protocolo BR-01537/2018. Os contratantes foram o jornal O Estado de S. Paulo e a TV Globo).
Paulo Roberto Netto é jornalista e ex-aluno de mobilidade internacional da Universidade do Porto, onde cursou Ciências da Comunicação e Línguas e Relações Internacionais. Atualmente, é repórter do jornal “O Estado de S. Paulo”. Mora em São Paulo.