O espetáculo expõe duas narrativas teatrais distintas. Se, por um lado, está assegurada a descontração e o humor, por outro, são-nos apresentados momentos grotescos, que contam a história de um pai que sequestra os três filhos e mata mulher e amante.

Falamos de “Veneno”, um monólogo sobre a degeneração de uma família, que tem em Albano Jerónimo o protagonista e encenador e que passou pela Casa das Artes de Famalicão na sexta-feira e no sábado.

Com problemas económicos e à beira da ruína, um homem de 49 anos aborda temáticas sociais e problemas do seu seio familiar, num ambiente acolhedor, mas frio. Interpreta a realidade de forma direta e sem pudor. Não tem medo de deixar o público asfixiado com as duras críticas que aponta à sociedade.

“Esta peça é um exercício sobre a violência, sobre o grotesco, daí também a utilização de uma linguagem vernacular, escrita muito bem pela Cláudia Lucas Chéu”, afirmou Albano Jerónimo no final do ensaio de imprensa que decorreu na véspera da estreia.

O ator e encenador – a peça marca o regresso à encenação após Um Libreto para Ficarem em Casa seus Anormais” de 2017 – encontrou na proposta de Cláudia Lucas Chéu “um texto altamente sexista, homofóbico e racista”, encaixado na realidade daquela família.

A história desenrola-se através de uma linguagem grotesca, projetada por um mundo de horror dentro de quatro paredes, que acabam por levar o pai, interpretado por Albano Jerónimo, a “uma espécie de delírio”, como descreve o ator.

A peça contrabalança a crueldade e bruteza do homem, com uma abordagem mais erudita e nobre, presente na única forma pela qual os filhos se expressam: o canto lírico.

Embora o texto seja de 2015, a autora, Cláudia Lucas Chéu, realça a atualidade da peça por evidenciar o que chama de “psicopatia social”, que estará a corromper o modelo tradicional de família.

A representação da realidade suburbana e a descentralização da cultura foram o ponto de partida para estrear a peça fora das grandes cidades.

“Veneno” é uma produção do teatronacional21, com coprodução da Casa das Artes de Vila Nova de Famalicão, Teatro Viriato e Centro de Arte de Ovar.

Vai estar em cena dia 8 e 9 de novembro, no Teatro Viriato, em Viseu, e dia 23 desse mês, em Ovar. O objetivo para o final da digressão, segundo Albano Jerónimo, é a promoção de um debate para “expor estas questões do contexto suburbano de forma mais cimentada”, referiu.

Artigo editado por Filipa Silva