A dois anos das Olimpíadas de Tóquio, é certo que os eSports não constarão na lista de modalidades desportivas. Contudo, a sua presença na competição em 2024, em Paris, está a ser estudada. Ralf Reichert, diretor executivo da Electronic Sports League (ESL), afirma que, independentemente do resultado, a organização apoia a hipótese de “serem uma secção à parte dos Jogos Olímpicos, como os Paralímpicos, com a sua própria regulação e sob a tutela do Comité Olímpico Internacional”.

Com mais de 400 milhões de espectadores previstos para 2019, os desportos digitais têm ganho relevância no seio da comunidade olímpica. Tony Estanguet, co-presidente da organização dos Jogos Olímpicos de Paris, já reuniu com o Comité Internacional e dirigentes de eSports acerca da sua inclusão no programa de modalidades em 2024, segundo o The Guardian. Além disso, é já uma modalidade medalhada confirmada para os Jogos Asiáticos de 2022.

“Há algum tempo, a condição física dos atletas era preocupante”, mas atualmente “deixa de ser uma limitação”, frisou Reichart numa conferência dedicada ao tema, esta terça-feira, nanWeb Summit.

Por sua parte, Meeta Singh realça que a “regulação dos eSports é importante para o bem da saúde”. A chefe da Unidade de Sono do Henry Ford Health System estabelece um paralelismo entre o uso desregulado de drogas nos desportos mais tradicionais: “antes, as drogas, como esteróides e outros estimulantes, eram usadas no desporto. Tal como nos eSports, não há grande regulação e esses mesmos estimulantes poderão ser também usados”.

O diretor executivo da ESL discorda: “antes das partidas e torneios, há sempre um despiste de doping, para evitar esse tipo de situações”. Ralf Reichart confirma que, “tal como os desportos tradicionais”, a Electronic Sports League colabora com as entidades competentes. De acordo com o organismo de eSports, desde 2015 que se começaram a realizar testes anti-doping antes do arranque das competições oficiais.

Ainda assim, Meeta Singh receia outros problemas de saúde inerentes à “linha ténue entre o gaming e o vício”. “É por isso que defendo maior regulação, nomeadamente para as pessoas jovens de 16, 17 anos, que ainda não são maduros o suficiente para terem o devido cuidado”, realçou a especialista em sono. Para Singh, os jovens “sofrem com demasiada pressão e competitividade”, o que pode levar a comportamentos de risco.

A encerrar a conferência, Reichart não deixou de sublinhar que os eSports “são algo puramente digital, mas que também é cada vez mais social”. O diretor considera, contudo, que “nem toda a gente consegue atingir o topo”, mas que isso não deve ser um obstáculo à participação neste tipo de competições. “Objetivos como ser o melhor do distrito, da cidade, da vila, são algo que deve insiprar os atletas”, rematou Reichart.

As tecnologias no combate à estagnação económica

Depois da guerra nos Balcãs, na década de 1990, a Sérvia enfrentou dificuldades. A estagnação económica atingiu o pico “há cinco anos”, quando o país “precisou de ajuda do FMI (Fundo Monetário Internacional) para aplicar reformas”, afirmou Ana Brnabic. A primeira-ministra, de 42 anos, está na liderança do governo sérvio há 15 meses, mas a aposta já é forte nas indústrias criativas. “Hoje temos uma realidade diferente”, referiu.

Durante o governo de Brnabic, o plano é investir “cem milhões de euros só para infraestruturas para startups, laboratórios, centros de investigação”, referiu a líder do executivo sérvio. Segundo a agência Reuters, a aposta nas tecnologias valeu ao país dos Balcãs cerca de mil milhões de euros até julho de 2018.

Ana Brnabic é uma das responsáveis pelo investimento tecnológico na Sérvia. Foto: Rui Costa.

As prioridades passam pela digitalização e educação. Para a primeira-ministra, um “eGovernment é importante”. “É a melhor solução para um governo mais previsível, mais transparente, para também evitar casos de corrupção”, aferiu Brnabic. O investimento neste setor da vida económica passa por “departamentos de informática especializados, aposta no eLearning“. “Já há crianças que aprendem Python nas escolas”, exemplificou  da lídero governo sérvio, a propósito da aprendizagem de linguagem de código informático.

Além disso, a política de salário mínimo, assim como subsídios até dez mil euros por empregado procuram fazer da Sérvia um país atrativo. “É um país seguro, um sítio relaxante com qualidade de vida e estamos a tentar promover isso”, disse Ana Brnabic. De acordo com o Numbeo, base de estatísticas relativamente à qualidade e condições de vida por todo o mundo, a Sérvia é um país cuja segurança é considerada, no mínimo, elevada.

“As indústrias criativas empregam mais de cem mil num país de sete milhões de pessoas”, destaca a primeira-ministra, apelidando o país de “Silicon Serbia” (em alusão ao pólo técnológico californiano, “Silicon Valley“). Para aproveitar melhor estes recursos tecnológicos, a Sérvia mostra-se “ambiciosa” quanto à possível integração do país na União Europeia, em 2025. Para Brnabic, é importante existir cooperação entre os vários Estados: “A Europa tem que trabalhar em conjunto para promover o desenvolvimento e inovação, de modo a competir com a China e os Estados Unidos”.

Mais alimentos, melhor distribuição ou mudança de dieta?

Segundo relatórios das Nações Unidas, em 2050, a Terra será povoada por nove a dez mil milhões de habitantes. Sob este mote, Fiona Harvey, editora de ambiente do jornal britânico “The Guardian”, questiona os convidados acerca de desafios globais, como as alterações climáticas ou a ameaça de escassez de produtos alimentares.

Face ao crescimento “explosivo” da população, as alterações climáticas e o aumento do número de habitantes em centros urbanos, Christiana Figueres defende a produção alimentar a partir de “métodos ecológicos”. A organizadora do Mission 2020, movimento de sensibilização para as alterações do clima, diz que o recurso a gado vivo é “ineficiente” e que, por essa mesma razão, “devemos mudar para dietas mais à base de plantas”.

Figueres reitera que a transição para esse tipo de regimes alimentares seria uma questão de hábito: “Fumar é proibido nos cafés e restaurantes. Mesmo que chova, que faça neve, tem que fumar lá fora. Comer carne? Daqui a 10 ou 15 anos, se quiser comer carne, come lá fora. Aqui não servimos carne”. Embora admita que possa ser “provocativo”, a diplomata costa-riquenha afirma que o “podemos adotar, tal como fizemos com o tabaco”.

Robert Opp, Richard Shireff e Christina Figueres discutiram os desafios ligados à escassez de alimentos. Foto: Rui Costa.

Segundo a antiga secretária das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima, o perigo das “mudanças no ciclo hidrológico” poderá levar a situações como a de Joanesburgo. Em abril, “após três anos de escassez, a cidade esteve quase sem água”, enfatizou Figueres. A diplomata sente que a preparação para a falta de água é “crítica neste momento”, apontando falhas à água gasta na indústria agro-pecuária. Segundo a Water Footprint Network, um quilograma de carne bovina exige 47 vezes mais água do que um quilograma de vegetais em geral, por exemplo.

Para contrariar esta realidade, Christina Figueres é perentória: “se me perguntam o que é preciso para viver num mundo saudável? É ser vegetariano! Ou vegan, se conseguirem”, exclamou.

Para Richard Shireff, os desafios da alimentação prendem-se com os “conflitos de estabilidade, paz e prosperidade”. Co-fundador do Strategia Worldwide, empresa de capital de risco, realça a importância das organizações internacionais na união de “esforços para que países que não consigam alimentar a sua população se tornem estáveis”.

O veterano das Forças Armadas do Reino Unido encontra as solução para os desafios na edificação de nações estáveis: “investir na educação, forças armadas qualificadas e polícia não corrupta”, sublinhou. Além disso, Shireff apontou falhas no transporte e distribuição de recursos alimentares.

É em relação a este último ponto que Robert Opp aborda os problemas de fome no mundo. “Nós produzimos comida o suficiente para todos agora mesmo. O problema é a distribuição”, explicou o diretor de Inovação e Gestão da Mudança do Programa Alimentar Mundial, da ONU.

O diplomata reforçou a regulamentação dos países desenvolvidos que “favorece o desperdício”, tal como regras e condições de armazenamento e prazos estabelecidos. Para enfrentar esta questão, Opp fala em “mudar a mentalidade”. O investimento recai nos pequenos agricultores, com recurso a novas tecnologias, como o GPS e a inteligência artificial. “Fala-se até em drones para transportar os produtos cultivados diretamente para o consumidor, evitando ineficiências”, exemplificou.

Importante para este processo, são os dados. Segundo Robert Opp, com a “informação acerca das alterações climáticas, podemos contribuir com seguros ou mini-seguros”, de maneira a precaver incidentes com as modificações do ciclo hidrológico. “Essas ações, com base em dados públicos, vão poupar bastante dinheiro e comida no futuro”, concluiu o representante do Programa Alimentar Mundial.