Em várias filas e em bancas com pouco mais de um metro de largura, mais de 500 startups enchem, a cada dia, os pavilhões da Feira Internacional de Lisboa, no âmbito da Web Summit.

Umas mais disruptivas, outras no encalço dos negócios em voga, mas todas com o seu pitch preparado, caso qualquer curiosa voz os questionar acerca da empresa.

Desde fundadores a colaboradores, a representação exigia comunicar com palavras, mas também com algo mais concreto: os produtos.

Arranjar o buraco na rua pela web?

O Fix That trata-se de uma aplicação móvel que permite ao cidadão comum reportar diretamente problemas do dia a dia às entidades competentes. “A ideia da app é, basicamente, que os cidadãos denunciem quaisquer problemas de infraestruturas que vejam em seu redor”, explicou Elena Pirpirova. A responsável pelo projeto, originário da Bulgária, afirma que a presença no Web Summit tem como objetivo a procura de fundos para desenvolver a aplicação.

Elena Pirpirova criou o “Fix That” de maneira a contornar a lenta burocracia búlgara. Foto: Rui Costa.

Com a aplicação, o utilizador pode fotografar o incidente, como “uma árvore que caiu na rua ou um grande buraco em frente à casa do vizinho” e submeter a imagem no programa, exemplificou Elena. Depois, o “Fix That regista as coordenadas GPS da pessoa que enviou”, para que a app contacte a entidade mais adequada, de acordo com a localização geográfica. “Dependendo da zona da foto em que é tirada, envia para municípios de diferentes regiões”, referiu Elena Pirpirova. O utilizador poderá ainda tecer um comentário acerca do incidente.

A partir deste aviso, as entidades competentes poderão começar a lidar com o problema, assim como o “utilizador que reportou a situação é notificado quanto à resolução do problema: se já começaram a trabalhar nisso, se já está arranjado, se pode ser resolvido, se precisa de ser adiado”, acrescentou Elena. Além disso, o número de telemóvel da pessoa é também registado, para que os municípios possam entrar em contacto e saber detalhes.

Para Elena Pirpirova, a aplicação permitirá “poupar tempo”. A responsável acredita que o projeto seja capaz de alterar a mentalidade das pessoas, que “não denunciam este tipo de coisas para não aturar burocracias”. “Os utilizadores terão a certeza de que o município receberá a reclamação”, confirmou. Além disso, todos os dados  acerca dos “problemas relatados e ao estado da sua resolução” estarão públicos.

Os municípios recebem os avisos a partir de um sistema online. Foto: Rui Costa.

Segundo a líder do projeto, os “municípios podem beneficiar bastante desta app“, uma vez que “receberão muitos sinais do que está errado ou do que precisa de solução”, sem despender em recursos humanos. Contudo, para entrar em funcionamento, o programa precisa primeiro de ser posto em prática pelo Estado ou município.

A aplicação neste momento está numa versão de demonstração funcional, mas pendente de acordos com municípios de diferentes países. O intuito é ser uma aplicação mundial: “Não estamos restritos a nenhum país em específico, consegue funcionar globalmente”. Elena admite que o programa pode inclusive ser adotado de maneira isolada e independente de outros municípios ou do Estado.

Disparar sem munição

Desde Évora, a EasyAim traz uma nova técnica de treino com armas. O produto pretende simular o tiro com munição verdadeira, mas sem recurso às balas. Trata-se de um dispositivo laser, a colocar na entrada do cano da arma. “Cada vez que premimos o gatilho, a vibração faz com que o laser seja ativado. Depois, esse laser é reconhecido pela tela da projeção e passa para o sistema”, explica Carlos Ferra.

O dispositivo pode ser adaptado ao cano de qualquer arma. Foto: Rui Costa.

Responsável pelo marketing e vendas da marca, esta “bala virtual” pode ser “usada em qualquer local, independentemente das condições de luz”. Além disso, Carlos realça a sua universalidade, uma vez que “pode ser utilizado em qualquer tipo de arma: desde armas de airsoft ou mesmo armas reais, de qualquer calibre”. O produto ainda precisa de “fazer algumas melhorias”, mas Carlos Ferra afirma que “está completamente funcional”. “Pretendemos entrar no mercado no início de 2019”, revelou o responsável.

O principal alvo são as forças de segurança, militares e polícias, nomeadamente para o “treino efetivo de capacidades de tiro e de resposta a situações de stress”, detalha Carlos. O sistema admite não só o cenário predefinido, como a criação de vídeos de simulação desses mesmos ambientes, elaborados pelos utilizadores.

O EasyAim implica “uma redução de custos enorme face ao treino com munição real”. Contudo, o responsável pelo marketing da empresa reforça que o objetivo não é “fazer a substituição do tipo de treino”. “Não pretendemos que os treinos passem a ser feitos só virtualmente”, explica. A marca pretende ser um “complemento ao treino com munição real” e potenciar as capacidades do utilizador, para “quando chegar ao campo de tiro, ter o melhor desempenho possível”, sublinha Carlos Ferra.

Na abertura do Web Summit, António Costa deu uma palavra de encorajamento às empresas nacionais, “embaixadoras de Portugal” na convenção. De acordo com Carlos, o apoio do Estado tem sido significativo: “temos três projetos aprovados no Alentejo 2020. A esse nível temos tido um bom apoio e tem sido um fator determinante para o nosso desenvolvimento, também”.

Entrar no Facebook sem ter palavra-passe

“As pessoas não conseguem memorizar tantas palavras-passe”. Jose Antonio Espinosa, empresário de informática espanhol, justifica assim a criação do NoMorePass. A aplicação pretende fazer das passwords do dia a dia uma coisa do passado. “São algo a eliminar”, realça Espinosa.

Para tal, a marca dispões de uma aplicação móvel e de um extensão do browser. A app guarda as palavras-passe no telemóvel “e só no telemóvel”: “Não há cópias na nuvem, não há cópias em nenhuma base de dados central”, garante o empresário espanhol.

A partir das passwords memorizadas no telemóvel, a aplicação gera um código QR diferente para cada website, para cada momento de início de sessão do utilizador. Através da extensão, o computador apresenta o código e o telemóvel, ao ler com a câmara, detetará o início de sessão.

Além disso, Jose Espinosa referiu que a empresa se encontra a desenvolver versões experimentais noutro tipo de dispositivos, como em cofres de segurança, também mediante códigos QR.

Relatório médico de empresas

“No dia a dia, nos locais de trabalho, seja num sítio perigoso ou num sítio normal, temos perigos escondidos e aquilo que a nossa solução faz é ajudar as empresas a gerir todos esses perigos”. Assim introduz Fernando Cavaleiro a InCloud for Safemed. A empresa sediada no Porto apresenta um produto capaz de diagnosticar as ameaças de saúde aos trabalhadores das empresas.

Através de uma série de sensores, como detetores de gases perigosos, sonómetros, sensores de humidade, sensores de proximidade, são recolhidos dados relativamente às condições de trabalho a que uma pessoa poderá estar exposta. De acordo com a informação recolhida, será feita uma comparação com os valores de referência e, em caso último de anomalia, trabalhadores e empresa serão notificados desses mesmos perigos.

Os dispositivos permitem recolher informação acerca das condições de trabalho e possíveis ameaças. Foto: Rui Costa.

O produto é aplicado não só na empresa, como de maneira individual. Fernando Cavaleiro exemplifica um caso de problemas de audição: “[o sistema] deteta que essa pessoa está exposta a um determinado valor, através do audiómetro que nós temos, e compara isso com um valor limite de exposição definido para aquela pessoa”. Como a pessoa terá uma “tendência a ser menos tolerante”, o sistema vai “lançar um alerta para aquela pessoa, dizendo que está em risco”.

Além disso, o produto poderá pressupor que o trabalhador esteja munido de um smartwatch, “que lhe vai permitir dizer em direto se efetivamente esse perigo é real ou não”. O utilizador poderá responder que “efetivamente está em perigo” e o sistema, consoante essa resposta, tem a “capacidade de determinar que trabalhadores estão nas suas proximidades para que o possam socorrer”.

Fernando Cavaleiro, um dos responsáveis pelo projeto, pretende criar um espaço de trabalho seguro. Foto: Rui Costa.

O objetivo dos dados recolhidos, segundo o product manager, é o bem-estar dos trabalhadores. “Tudo aquilo que nós fazemos aqui é na ótica da prevenção do desastre e do acidente”, enfatizou o engenheiro informático. O produto dará aos trabalhadores “uma noção de que estão a trabalhar num sítio mais seguro”, assim como toda a informação recolhida das atividades monitorizadas é privada e anónima.

Fernando Cavaleiro afirma que o próximo passo é “dar o salto”. A presença no mercado nacional “já é forte, o produto está bastante maduro” e a meta principal passa pelo “procurar parceiros, procurar investidores” que permitam “captar mercados”.

Artigo editado por Filipa Silva