A evolução tecnológica tem proporcionado formas mais fáceis e rápidas de aceder a informação, de comunicar. Contudo, estas ferramentas não têm sido suficientes para promover uma participação cívica de larga escala entre os mais jovens. O voluntariado pode ser uma das formas de combater o problema e a Juventude da Cruz Vermelha de Felgueiras, criada recentemente, é um exemplo disso.

Cristiano Silva, 19 anos, um dos coordenadores da organização, define o que entende por voluntariado: “a noção de querer ajudar pessoas que não têm a mesma sorte que nós temos e saber que não se vai retirar nada material disso, mas que se vai retirar muitas coisas imateriais da experiência”. “Nós somos uma faixa etária que, às vezes, não aproveita muito o seu tempo e eu sou da opinião que os jovens devem querer ser interventivos na sociedade. Se a iniciativa partir de nós, vamos conseguir chegar a todas as pessoas”, acrescenta.

Não há voluntariado sem voluntários e, para José Nuno Teixeira, 20, também ele coordenador da estrutura, o voluntário deve ser “uma pessoa interessada em enriquecer a sua educação integral, porque o voluntariado traz algumas coisas que não é possível aprender numa sala de aula”.

Desta forma, o perfil do voluntário deve ir “ao encontro de uma pessoa que tenha um espírito de missão e de solidariedade, que goste de integrar causas e que tenha os pés bem assentes na terra”, porque “o voluntariado é só para os mais destemidos”, frisa. “É precisa alguma força para se enquadrar nesse perfil”, remata.

Voluntários da Juventude da Cruz Vermelha de Felgueiras em ação.

“Descer à terra” com o voluntariado

Assim, a questão impõe-se: de que forma pode o voluntariado ajudar a desenvolver uma sociedade? “Vivemos num mundo que tende à individualização das pessoas. Tentar sensibilizar os jovens para não se deixarem ir nessa corrente e para se preocuparem mais com os outros é muito importante”, responde Cristiano Silva.

“Às vezes, as maiores desigualdades estão muito escondidas. Por exemplo, aqui na cidade a maior parte dos jovens não tem a noção de que há pessoas que passam fome, que não têm dinheiro para comprar uma peça de roupa ou que vivem sozinhas. O voluntariado é importante para sensibilizar os jovens que queiram fazer com que essas pessoas tenham uma vida melhor”, completa.

José Nuno Teixeira acrescenta que “o voluntariado não serve apenas para colmatar as carências económicas, porque nós percebemos que há muitas carências afetivas, sociais ou culturais”. “De facto, capacitar os jovens para os fazer ver que, numa realidade tão próxima, há muito mais do que aquilo que eles pensam que há, já acrescenta valor. A partir do momento em que acrescentamos valor às pessoas, acrescentamos valor a uma sociedade”, afirma.

No caso específico da participação cívica dos jovens, “o voluntariado jovem pretende consciencializar os jovens e fazê-los descer à terra”. “Quando digo isto, não quero dizer que estejamos todos desvinculados dos problemas, mas o voluntariado ajuda a tomar consciência desse tipo de problemas e, sim, a criar cidadãos ativos e perceber a importância desta temática e o acréscimo que isso traz”, responde José Nuno.

Dar é ganhar

A importância do voluntariado jovem é difícil de negar, e mais difícil ainda parece cativar os jovens para se envolverem neste tipo de iniciativas. Quando questionado sobre este problema, Cristiano Silva responde: “é difícil, mas ao mesmo tempo há muitas ferramentas que podemos usar. Por exemplo, nós temos apostado muito nas redes sociais, porque para cativar os jovens, as redes sociais são o maior foco que podemos ter. É preciso tentar despertar alguma coisa na pessoa, (…) porque às vezes pode parecer que ser voluntário só vai trazer benefícios a quem estamos a ajudar, mas não, é muito pelo contrário. Ao ajudarmos uma pessoa, vamos ganhar muito com a nossa experiência. É importante passar isso aos jovens; o voluntariado não é só ajudar os outros, é ganhar algo também”.

Já José Nuno Teixeira acredita que é preciso “fazer com que o jovem se sinta responsável da sua importância na sociedade”. “Os jovens têm uma ideia de voluntariado em que acham que não vão acrescentar valor nenhum e que são só mais um, mas não é bem assim. É na junção de todos que se cria impacto. Temos de fazer o jovem sentir-se útil e sentir que ele tem o poder da mudança”, termina.

A Juventude da Cruz Vermelha de Felgueiras – uma das cerca de 170 existentes no país – foi criada no verão deste ano e integra para já três dezenas de voluntários entre os 8 e os 35 anos e está, até sexta-feira, a aceitar novas candidaturas.

Artigo editado por Filipa Silva