Só em 1994 é que um filme de animação foi dobrado em português europeu. Foi O Rei Leão, uma das mais bem-sucedidos da Disney. Não obstante, a história da dobragem, em Portugal, já continha capítulos no mundo da televisão. Heidi e Tom Sawyer foram marcos do começo de uma indústria que sempre cativou os mais novos.

À margem do IberAnime 2018, realizado no Porto em outubro, o JPN teve a oportunidade de conversar com Quimbé sobre a profissão de ator de voz. O dobrador falou de como começou, de algumas histórias caricatas e, ainda, deu alguns conselhos para quem ambiciona entrar no ramo.

Uma carreira diversificada e duradoura

A entrada de Quimbé no mundo das dobragens surgiu pelo mero acaso de um “encontrão numa pessoa” há 30 anos, na Feira da Ladra. A sua longevidade é notória: “dos 90 atores que começaram a fazer dobragens, eu sou o único resistente”.

Do alargado espectro de personagens, Quimbé tem “um carinho muito especial” pelo Mestre Yoda, da icónica saga Star Wars. No âmbito do grande ecrã, o ator enumera um trio: “Adorei fazer o Guanji, o Capitão Cuecas e o Corto Maltese”.

No panorama televisivo, o dobrador realça as várias séries de animação em que esteve envolvido, tais Dragon Ball, que destaca como sendo “uma parte da história da dobragem em Portugal”, Yu-Gi-Oh!, Power Rangers e Os Padrinhos Mágicos.

Quimbé

Fotografia: Joana Nogueira

Uma das personagens que acompanha a vida de Quimbé surge neste mesmo universo. Gigante, um dos elementos mais memoráveis de Doraemon, é protagonizado por Quimbé “há 15 anos”. “São Já mil e não sei quantos episódios”, reflete o artista.

A ligação do ator de voz ao Canal Panda não termina com Doraemon. A sua voz marcou uma geração de crianças, pois era ela que anunciava a transmissão dos diversos programas do canal infantil.

Sobre o método de trabalho dos dobradores, o ator realça que a “liberdade de improviso depende do processo”. Porém, independentemente do estilo adotado, tem sempre de “haver respeito nas séries” que se faz.

“Cada personagem é um desafio”

Ao relembrar Cosmo, de Os Padrinhos Mágicos, o dobrador recorda a exigência da “voz hiperaguda” da personagem. “Eu bebia 3 a 5 litros de água para estar com as cordas vocais prontas”, revela Quimbé.

Os desafios proporcionados por cada papel obrigam a “um treino contínuo”. Esse processo, por vezes, leva a que os atores descubram “vozes sem querer”. “É assim que se formam os grandes dobradores”, explica.

O artista destaca a origem da voz de Corto Maltese, ao refletir sobre os maiores obstáculos provocados pelo seu trabalho. A faltar quinze minutos de gravação, a dobragem teve que ser totalmente reformulada, devido a um pequeno pormenor. O protagonista está sempre com um cigarro na boca e “a dicção é completamente diferente”. Desta forma, o dobrador reforça a importância de respeitar as personagens. “Tens de encarnar a personagem. Tens de te divertir”, reforça na entrevista ao JPN.

Quimbé

Fotografia: Joana Nogueira

No que toca a conselhos para aqueles que desejem ingressar no ramo, o artista afirma que não é necessário “ser ator para ser dobrador”. Os exemplos de Bárbara Lourenço e Ana Viana são destacados por Quimbé, que as considera “duas das melhores dobradoras que temos, em Portugal, e não são atrizes”. “Facilita ser ator, mas não é obrigatório”, frisa.

Para além disso, o dobrador reforça a complexidade do seu trabalho, que consiste na execução da voz dobrada, sincronizada com a animação, enquanto se ouve o áudio original. “É uma data de coisas ao mesmo tempo”, reitera.

Em jeito de conclusão, Quimbé reafirma que “com a prática é muito mais simples”. Neste sentido, o ator de voz planeia realizar no futuro workshops de dobragem, na região do Norte. “Estejam atentos”, aconselha o artista.

Artigo editado por Filipa Silva