Para Duarte Coimbra e David Pinheiro Vicente o ano de 2018 tem sido quente. Além de prémios e nomeações, nacionais e internacionais, os jovens realizadores portugueses, de apenas 21 anos, foram convidados pela organização do Porto/Post/Doc para programarem a sessão “School Trip: Quando Éramos Putos Era Sempre Verão“. O resultado passou este sábado no Pequeno Auditório do Rivoli e incluiu cinco filmes e um videoclipe. David Pinheiro Vicente enquadrou a amostra ao JPN: “é um pequeno panorama da nossa geração ou do que se anda a fazer próximo de nós”.
As escolhas
Além de “tChuca”, o videoclipe que Duarte Coimbra realizou para Luís Severo, o realizador lisboeta apresentou o seu “Amor, Avenidas Novas”, a curta que já conquistou prémios em Vila do Conde e no IndieLisboa e que garantiu a Duarte uma cadeira na Semana da Crítica do Festival de Cannes. O filme de 20 minutos segue um rapaz de coração partido que atravessa Lisboa com um colchão às costas, indo parar à produção de um filme que lhe mudará a vida. Uma mistura entre romance, comédia e musical que tem dado que falar.
Na sessão de sábado, passou também “Onde O Verão Vai (Episódios da Juventude)” de David Pinheiro Vicente, também ele premiado em Vila do Conde e em Tel-Aviv. A tour por festivais de cinema europeus encontrou o ponto alto na nomeação para o Festival Internacional de Cinema de Berlim (Berlinale). O filme divide-se em quatro capítulos e fala de um grupo de amigos que viajam até ao rio e das relações que estabelecem entre si.
“A Minha Juventude” de Rita Quelhas, “Rochas e Minerais” de Miguel Tavares e “A Barriga de Mariana” de Frederico Mesquita passaram também na tela do Rivoli. São todos primeiros filmes, filmes que, como nos diz o texto de apresentação da sessão, são “sobre não sabermos bem”. O que os une e os separa?
“Acho que há uma certa nostalgia nos filmes, mais forte nalguns do que outros”, considera David Pinheiro Vicente. “Isso também tem a ver com a relação que tentam estabelecer com o passado, mas ao mesmo tempo vejo um retrato muito contemporâneo”, remata o realizador. Duarte Coimbra acrescenta: “[há nos filmes] um tratamento em relação ao próprio tédio e em relação à pachorra própria dos dias de verão, dos dias que parecem, assim, intermináveis”.
“O cinema mais importante do mundo”
Para os programadores, as escolhas servem também para celebrar o cinema português, “o cinema mais importante que existe no mundo”, nas palavras de Duarte Coimbra. “É uma coisa difícil de explicar ou de teorizar”, acrescentou, apelidando o cinema português de “cadáver esquisito”.
Por sua vez, David Vicente sente-se dividido quanto ao estado da sétima arte em Portugal. “Por um lado, entusiasma-me ver pessoas novas a fazer coisas muito próprias”, afirma o realizador açoriano. “Por outro, vejo grandes dificuldades às vezes em conseguir fazê-las como querem, quando querem, e é um bocado difícil obter financiamento”. Duarte Coimbra acompanha a ideia: “fazer cinema em Portugal, apesar de tudo, é uma coisa mesmo muito, muito difícil”.
Mas pondo de lado as dificuldades, Duarte diz que “o cinema português passa por uma fase aparentemente próspera com vários realizadores a fazer filmes muito interessantes e bem recebidos mundialmente”. O cineasta refere os trabalhos de Manoel de Oliveira, João César Monteiro e Miguel Gomes como referências da sétima arte portuguesa. Os nomes de António Reis e Margarida Cordeiro também são mencionados, eles que se inserem numa homenagem retrospetiva realizada este ano pelo festival.
Antes de se encontrarem na ribalta desta vaga de cinema português, David Pinheiro Vicente e Duarte Coimbra já eram colegas. Ambos frequentaram a Escola Superior de Teatro e Cinema, na Amadora. “Houve uma altura em que eu era mais da opinião que se calhar não era preciso escola de cinema para começar a filmar”, admitiu Duarte. O realizador lisboeta afirma que a escola lhe deu “um espaço onde podia confraternizar e falar com pessoas que estavam à procura do mesmo cinema (…) e que tinham as mesmas ganas de sair e de filmar”.
O jovem realizador refere também a importância do debate e diálogo na área da sétima arte. “É muito importante para uma pessoa que quer fazer cinema esse lado de falar sobre o cinema e discutir”, acrescentou. Por sua vez, David Vicente diz ser impossível aprender tudo sobre cinema na escola, mas compensa por ser “um espaço estilo academia em que a pessoa pode experimentar sem grandes consequências reais o que é um projeto de cinema”.
Pondo os olhos no futuro, ambos os cineastas admitem já ter projetos em mente. David Pinheiro Vicente está à procura de financiamento para a sua próxima curta-metragem, que espera conseguir realizar em breve. Duarte Coimbra, além de estar a trabalhar como programador do IndieLisboa, está também a pensar no seu próximo filme. A popularidade e aclamação crítica que os filmes têm recebido geraram uma certa expectativa que ambos consideram normal e que aconteceria mesmo que o seu filme, aqui nas palavras de David Pinheiro Vicente, tivesse sido “bem recebido por apenas 10 pessoas”.
Artigo editado por Filipa Silva