O FC Porto venceu, este domingo, o Boavista, por 1-0, no Estádio do Bessa, com um golo marcado por Hernâni mesmo em cima do apito final do árbitro.

Do lado do FC Porto, Sérgio Conceição, que acabou o jogo expulso por Hugo Miguel, jogou uma cartada decisiva com a entrada de Hernâni para o lugar de Brahimi aos 88′, mas, mais do que isso, provou que a conversa dos dois sistemas táticos tem mesmo razão de ser. Quanto ao Boavista, mostrou futebol para estar longe do lugar que ocupa na tabela nesta altura, abaixo da linha de água.

O FC Porto somou a décima vitória consecutiva, continua isolado na liderança e respondeu, assim, da melhor forma, às vitórias de SC Braga e Benfica na véspera, pressionando o Sporting para o jogo desta segunda-feira em Vila do Conde.

Xadrez no meio campo e surpresas de Conceição

Na altura em que foram conhecidos os onzes, uma nota para o lado do Boavista: privado de Fábio Espinho (treinara limitado, mas foi para o banco), Jorge Simão lançou Rafael Costa. Assim, a equipa do Boavista teria outra capacidade de sair a jogar, com dois médios que tratam bem a bola: David Simão e Rafael Costa, protegidos pelo trinco Obiora, que tem vindo a ganhar o seu lugar na equipa nos últimos jogos.

Do lado do FC Porto, começou por saltar à vista algo anunciado: Corona fixou-se como defesa-direito e roubou o lugar de Maxi Pereira, relegado para o banco. Otávio, também ele num bom momento, avançou para extremo direito e, no ataque a grande surpresa: Soares no banco. O FC Porto repetiu o 4-3-3 habitual na Liga dos Campeões, mantendo Marega sozinho na frente e repetindo o trio de médios Herrera, Óliver e Danilo.

Bom início portista e pragmatismo do Boavista

O FC Porto entrou decidido no jogo. Nos primeiros minutos, era evidente a dificuldade do Boavista em ligar mais do que três passes. Ainda que sem criar oportunidades de golo, os dragões estavam asfixiantes quando não tinham a bola.

Aos seis minutos, porém, o Boavista criou a primeira grande oportunidade de golo do jogo: na sequência de um lançamento de Carraça, Rafael Lopes, já muito perto da pequena área, atirou por cima. O Boavista mostrou que estava em jogo e o dérbi da Invicta prometia.

Intensidade máxima e muitas paragens

Em momentos de carga emocional grande, há sempre o risco de o jogo se tornar quezilento, e cedo isso começou a acontecer. Ainda dentro do primeiro quarto de hora, Helton, Danilo, Obiora e Corona foram assistidos, e houve petardos a cair no relvado. Quando a bola rolava, os jogadores estavam comprometidos e decididos a disputar cada lance; o problema é que a bola rolava muito pouco tempo. Num dos casos, contudo, não havia margem para dúvidas: aos 16 minutos, primeiro revés para Jorge Simão: Obiora, jogador em crescendo na temporada, saiu lesionado e, para o seu lugar, entrou o carismático Idris. Com esta substituição forçada, o Boavista ganhava em agressividade, mas perdia em qualidade de jogo.

Batalha equilibrada e sem tréguas

Um lance disputado entre Corona e Rafael Lopes aos 21 minutos valeu a expulsão de Luís Gonçalves, delegado do FC Porto e deu o mote para o que se seguiria: um jogo equilibrado, intenso, nem sempre bem jogado e muito, muito agressivo. As oportunidades escasseavam, apesar de ser o FC Porto a ter mais iniciativa de jogo.

No melhor momento do Boavista, o FC Porto esteve muito perto de marcar por duas vezes. Primeiro, ainda antes da meia hora, Otávio aproveitou uma assistência de cabeça de Marega para assustar Helton e, aos 33 minutos, Brahimi esteve muito perto de marcar na sequência de uma jogada que começa numa boa recuperação dos dragões ainda no meio campo axadrezado e passa por um grande passe de Herrera.

As oportunidades começavam a aparecer. As duas equipas queriam assumir o jogo e apareciam com perigo quer em ataque continuado, quer em contra-ataque (Otávio falhou, por pouco, o último passe aos 36 minutos na sequência de um ataque muito rápido conduzido por Marega). Não havia domínio claro de nenhuma equipa e o golo podia aparecer a qualquer momento, em qualquer baliza.

O golo ali tão perto e o intervalo

Aos 42 minutos, chegou a melhor oportunidade de golo do jogo até então. Primeiro, Óliver lança Brahimi que demora a decidir e, na sequência da jogada, Danilo recupera a bola, ganha a linha de fundo e cruza para Herrera que, cheio de floreados, não consegue marcar e entrega o golo a Brahimi, mas o argelino, muito perto da pequena área, não ultrapassou Helton.

Seguiu-se um período de pressão intensa dos dragões, o melhor período dos comandados de Sérgio Conceição na primeira parte. Não foi suficiente, o nulo manteve-se apesar dos (justos) quatro minutos de compensação. As duas equipas tinham feito um jogo razoável na primeira parte mas, para chegar aos três pontos, exigia-se mais qualquer coisa.

Entrada de campeão

O relógio só marcava 47 minutos quando o FC Porto deu o primeiro grande sinal de perigo da segunda parte.

Contra-ataque conduzido por Otávio, passa pelos pés de Brahimi e culmina num cruzamento de Alex Telles para Marega que só não consegue marcar. O FC Porto entrou mais rápido na circulação do que na primeira parte e obrigou o Boavista a fazer muitas faltas.

Era evidente que o Boavista queria continuar a discutir o jogo, mas perante um FC Porto tão empreendedor tornava-se difícil. Aos 52 minutos foi Herrera que, por pouco, não finalizou da melhor forma um cruzamento de Corona. Aos 59 minutos, nova boa oportunidade para os campeões nacionais: canto de Alex Telles, Felipe a aparecer em boa posição, mas a não conseguir direcionar o cabeceamento. Este começava a ganhar contornos daquele tipo de jogos que pede a frase feita: “Só faltou a finalização”.

Mexer com o jogo

O tempo ia passando e começava a pensar-se nas substituições. Brahimi estava muito em jogo, mas poucas vezes decidia bem e no banco estava, por exemplo, Adrián López que, nos últimos tempos, tem aproveitado bem as suas oportunidades a jogar a extremo esquerdo. Mais do que Adrián, Tiquinho Soares parecia a opção óbvia para mexer com o jogo, passando o FC Porto a jogar em 4-4-2.

Os dois estavam a aquecer à passagem do minuto 60. Sérgio Conceição tem habituado os portistas a suplentes que regatem pontos e a altura de mexer ia-se aproximando. Do lado boavisteiro, parecia claro que o melhor momento da equipa já tinha passado. Era preciso reter a bola e Fábio Espinho podia ser uma solução, caso estivesse em condições físicas, no mínimo, razoáveis.

O primeiro a mexer foi Sérgio Conceição aos 67 minutos e, como se esperava, Soares entrou para o lugar de um médio: Óliver Torres.

Pouco depois de um golo anulado a Herrera na sequência de um canto e de uma grande defesa de Helton, Jorge Simão respondeu tendo Fábio Espinho entrado para o lugar do apagado Mateus: era importante, para o Boavista, guardar a bola e reforçar o meio campo.

Fim de loucos na Hora H

Aos 77 minutos, Danilo perdeu a bola em zona proibida e houve pedidos de penálti sobre Fábio Espinho. Este lance, a juntar à substituição bem feita por Jorge Simão, galvanizou o Boavista e acalmou um pouco o domínio do FC Porto na partida. O Boavista via cada vez mais perto o seu objetivo de somar pontos frente ao campeão nacional. À procura de um milagre, Sérgio Conceição lançou primeiro Adrián para o lugar de Otávio e, depois, Hernâni para o lugar de Brahimi.

O milagre apareceu. Com pouca confiança, Soares não arriscou um remate dentro da área e passou para Adrián. O remate do espanhol é desviado e, na raça para garantir os três pontos, aparece o herói improvável: Hernâni. No segundo seguinte aos festejos efusivos da equipa azul e branca, que valeriam a Sérgio Conceição a expulsão, o jogo terminou.

O campeonato não para. Para a semana, o líder isolado FC Porto – mais três pontos que o Sp. Braga – recebe o Portimonense. O Boavista enfrenta o Nacional na Madeira.

“Esperaria não ter sofrido”

Em declarações à SportTV, Jorge Simão mostrou-se resignado, mas exaltou a atitude de uma equipa que foi “um osso duro de roer”.

“Acho que fomos um osso muito duro de roer. O FC Porto está confiante, vem de muitas vitórias e o golo naquele minuto acaba por ser resultado dessa confiança. Fomos um osso muito, muito duro de roer, mas o FC Porto não desistiu e se calhar tem a ver com as vitórias que tem tido. Acho que merecíamos mais, ser premiados pelo nosso desempenho. Foi um jogo intenso, de luta, mas tivemos muita qualidade em alguns momentos. Não conseguimos marcar um golo, esperaria não ter sofrido”

Do lado azul e branco, e depois de ter sido expulso, Sérgio Conceição não foi à conferência de imprensa. Foi o adjunto, Vítor Bruno, a analisar a partida: “Foi uma vitória muito difícil, sofrida, contra um adversário que teve mérito”, declarou, para concluir: “a nossa vitória acabou por ser justa, pela quantidade de lances de golo que criámos”.