Quando Barry Cawston chegou a Weston-Super-Mare, uma estância balnear do sudoeste britânico, para ver a mais recente criação satírica de Banksy, não levava certezas sobre o que ia realmente fazer com a sua máquina fotográfica.

A ajuda veio dos céus: um proeminente arco-íris enquadrou-lhe a fotografia e a ideia. Aquele retrato da Dismaland de Banksy pareceu-lhe a metáfora perfeita do que o artista tentava fazer naquele parque pretensamente temático: encapsular a cultura britânica, expondo o avesso de uma ilusão.

Barry Cawson mostra “Pleasure Dome” Foto: Joana Jacques

“Percebi que o que estou a fazer quando fotografo o trabalho do Banksy é revisualizar algumas das suas ideias a partir da fotografia”, explicou Cawston aos jornalistas na visita guiada à exposição “Banksy’s, Dismaland and Others” que abriu no sábado ao público, na Alfândega do Porto.

A mostra, patente na zona Poente das Furnas da Alfândega, reúne 44 fotografias a cores de grande dimensão (240 cm x 188 cm).

Na maioria, foram tiradas na Dismaland (onde Cawston acabou por ir umas 15 vezes) fixando alguns dos elementos mais emblemáticos do parque que esteve aberto ao público entre agosto e setembro de 2015: a Pequena Sereia em versão distorcida; a carruagem capotada da Cinderela prostrada perante os papparazi; Farhath, “a cara de Dismaland”, vestida de colete laranja e orelhas de rato – como, aliás, os funcionários que nos recebem à porta da exposição – e a cara mais mal disposta da história (código de conduta levado à risca pelo staff do parque que Banksy e um conjunto alargado de artistas criaram).

"Car Crash Princess"

“Car Crash Princess” Foto: Barry Cawson/D.R.

Cawston não se ficou pelos limites de Dismaland e foi à envolvente fotografar cenas do quotidiano de Weston, usando o parque como ponto de referência.

O exercício deu origem a um livro – “Are We There Yet?” – no qual o fotógrafo justapõe as realidades e irrealidades dos dois mundos. Alguns exemplares de Weston estão expostos também no Porto, como “WhAT A DIamOnD!” ou outra das suas favoritas “The Perfect Fish & Chips” onde o autor pressente a influência do pintor norte-americano Edward Hopper.

Banksy apreciou o trabalhou e publicou várias das fotografias no seu site. Cawston agradeceu, mas confessa que não se vê como “o fotógrafo oficial” do artista britânico, cuja identidade é ainda hoje um enigma: “Não me vejo muito assim. Nunca falei com ele. Nem seu quem ele é“, confessa aos jornalistas. “Foi bom ter as fotos no site dele, mas eu faço outras coisas”, remata, sem contudo poupar elogios a Banksy, de cujo trabalho trouxe outros testemunhos para o Porto.

É assim que, depois de Dismaland e de Weston, chegamos à área do “Walled Off Hotel”, o hotel que Banksy abriu em 2017 na Palestina com vista para o muro que a separa de Israel. Cawston trouxe de lá várias parcelas dessa arte que bem ao jeito cáustico e mordaz de Banksy nos faz questionar: “é mesmo isto que queremos fazer?”

São exemplos os dois peixes vermelhos que se olham de frente cada qual no seu aquário, o elevador que abre para um muro, os anjos caídos do céu de Belém, em busca desesperada pelas suas máscaras de oxigénio, ou a pomba da paz que Picasso desenhou vestida com um colete de balas.

Entrada do “Walled off Hotel” Foto: Joana Jacques

Ao fundo desse corredor, encontramos uma instalação interativa criada por três jovens artistas portugueses – Daniela Gonçalves, Ivo Amaro e Jorge Cardoso – que tem a obra “Girl with balloon“, de Banksy, como referência.

O quadro, versão de galeria do stencil que Banksy começou a espalhar pelos muros de Londres em 2002, fez-se literalmente em tiras assim que ficou fechada a sua venda, num leilão da Sotheby’s, por 1,2 milhões de euros, em outubro.

Na Alfândega, os jovens portugueses quiseram recriar a apropriação, pelo indivíduo, do espaço do artista.

Instalação de jovens artistas portugueses.

Instalação de jovens artistas portugueses. Foto: Joana Jacques

A presença portuguesa na exposição não se fica por aqui: depois de uma curta passagem por fotografias de Cawston num complexo industrial abandonado de Völklingen, na Alemanha, por onde esta exposição já passou, terminamos a visita numa área onde se expõem trabalhos de artistas urbanos portugueses.

RAM, Gonçalo MAR, o projeto ±MAISMENOS± de Miguel Januário, Nomen, Mosaik, Adres, Hazul e Tamara Alves foram os convidados.

“Banksy’s, Dismaland and Others” fica na Alfândega do Porto até 31 de março, seguindo depois para Lisboa e, mais tarde, Madrid. O preço da entrada é de 6 euros para maiores de 12 anos e 11 euros para adultos, havendo ainda um bilhete para famílias.