Do seu portefólio fazem parte retratos como o de Cavaco Silva, de D. Manuel Clemente ou, mais recentemente, o de Sebastião Feyo de Azevedo, ex-reitor da Universidade do Porto, cujo quadro está, desde junho do ano passado, na galeria da Sala do Conselho da Reitoria.
António Macedo, 63 anos, está habituado a retratar para várias personalidades e entidades como o Tribunal Constitucional, a Academia Militar ou a Associação Empresarial de Portugal e foi no seu ateliê, em Vila Nova de Gaia, que o pintor retratista recebeu o JPN.
A construção do estúdio, onde a inspiração e o trabalho confluem, era impreterível para um pintor de ateliê, como gosta orgulhosamente de se assumir. “Já morei em lugares em que não tinha um”, confessa. Construído para ter luz a norte, o espaço tem, assim, uma luz “parada, clínica, fria”, fundamental “para apanhar as sombras no lugar certo”, explica.
Foram os desenhos de uma professora de inglês, que tinha morado nos Estados Unidos da América, que despertaram o fascínio de Macedo, ainda “novito”, pela arte figurativa. Desse interesse já em tenra idade a fazer disso vocação não demorou muito.
Aos 18 anos, começou os estudos na Escola Superior de Belas Artes do Porto, para onde teve que ir para perseguir o encanto “só pela arte figurativa”, mas logo deparou-se com professores que tinham uma cultura visual diferente, “mais dedicada à pintura de abstração, e não da figuração”. A experiência não foi boa e, na altura, a “sua luta” era essa: lidar com professores que, embora fossem “de nome”, não lhe davam as bases técnicas que lhe permitissem singrar naquilo que verdadeiramente queria fazer.
Por isso, um ano e meio depois de começar os estudos e não tendo acabado o curso, acabaria por rumar a Londres, onde iria permanecer durante 17 anos a aprender aquilo que, diz, “não poderia ter aprendido cá”: “A minha evolução foi baseada em coisas que gostava e que via. A minha pintura evoluiu muito dentro desse contexto”, afirma.
António Macedo reconhece que tem de haver uma predisposição que nasce com o artista, mas afirma que é indispensável que este sofra um longo período de maturação. “Temos que ter uma semente, mas depende de quanto é que investimos em tempo, doação e amor ao longo dos anos. Não se fazem crescer flores bonitas a martelo”, defende.
Apesar de considerar, ainda hoje, que Portugal “é um país muito pequenino, de tamanho e de ideias”, o pintor nunca deixou de cá voltar. No Reino Unido, como cá, o artista não se identificava no meio onde vivia: “A partir de certa altura, senti-me muito sozinho. A cidade onde morava era muito conservadora e sentia-me isolado.” Por isso, decidiu regressar e ficar a viver definitivamente em Portugal.
Com a democratização da fotografia, o mercado dos retratos praticamente desapareceu, mas, segundo Macedo, “nunca deixou de existir uma classe de pessoas que querem ter a sua imagem perpetuada através de uma obra de arte que tenha outras exigências.” Como em Portugal há poucas pessoas a fazê-lo, é natural que o seu nome venha à baila quando há retratos para executar.
É nesse contexto que já recebeu solicitações de várias instituições públicas e privadas que têm como tradição ter as suas figuras mais iminentes retratadas a óleo. É o caso da Universidade do Porto de onde saiu o convite do ex-reitor Sebastião Feyo de Azevedo, cujo retrato foi feito por António Macedo e está, desde junho, na galeria dos retratos em permanência da Sala do Conselho da Reitoria.
Pormenores, como a silhueta do nariz, os fios de cabelo ou a simples condição das mãos, foram trabalhados em detalhe. E, apesar da criação ser sua, o retratado e as pessoas que o conhecem têm sempre algo a dizer. Por isso, antes de qualquer obra, tem uma série de conversas com o “retratado”, à qual se segue uma recolha vastíssima de “centenas e centenas” de imagens fotográficas e de esboços e desenhos. “Como retratista, a minha intenção é fazer um retrato que a pessoa goste”, reflete.
O primeiro retrato que fez com mais visibilidade foi o do antigo presidente da Assembleia da República e histórico socialista António de Almeida Santos, há dez anos. “Ele já tinha visto coisas minhas e estava à procura de uma pessoa para fazer um retrato para a galeria da Assembleia da República”, conta ao JPN.
Seguiram-se outras figuras de relevo que hoje constam do portefólio de António Macedo, como o anterior Presidente da República, Aníbal Cavaco Silva, ou o ex-Bispo do Porto e atual cardeal-patriarca de Lisboa D. Manuel Clemente.
Quanto à gama de valores que uma obra destas pode compreender, António Macedo não avança números: “Varia imenso se é um desenho, uma cabeça, um retrato de Estado ou uma figura em pé. Há muitas condicionantes”, esclarece.
De cada vez que António Macedo pinta uma pessoa que esteja numa posição socialmente destacada, robustece a sua já considerável reputação. “Tenho levado toda uma vida para construir esse nome”, enfatiza o pintor.
Ainda assim, reconhece que é difícil fazer vida através da arte, não sendo professor, e que, por isso, está sujeito às intempéries do mercado. “O artista, como eu, está muito consciente de como é frágil a sua subsistência”, realça.
Acérrimo crítico do trabalho que faz, Macedo explica que não se detém muito com as críticas, que por aí vê, à volta da arte. “Se me dá prazer fazer, poderá dar a outra pessoa ver”, revela. Certo é que, por enquanto, o pintor retratista continua a trabalhar e, assim, espera continuar a fazê-lo “até cair para o lado.”