Tempos de espera mais longos, obrigatoriedade de transbordo, eventual aumento dos custos e falta de informação. São estas algumas das preocupações enunciadas pelos utentes que esta segunda-feira, aguardavam por um transporte no Estádio do Dragão, onde, desde o dia 5 de fevereiro, algumas operadoras privadas de transporte público efetuam o término das suas viagens. No Campo 24 de Agosto, onde transitoriamente acabam algumas destas linhas, o JPN ouviu queixas similares.

Em causa está a decisão da Câmara Municipal do Porto de transferir o término de várias linhas das empresas Valpi, Gondomarense (ETG), A.E. Martins e Pacense do centro da cidade para o Dragão e para o Campo 24 de Agosto, neste caso, a título provisório.

Mapa do terminal rodoviário.

Esta segunda-feira, o terminal rodoviário do Dragão estava parcialmente vazio. Mesmo assim,  ainda se encontravam alguns passageiros, ora a entrar nos autocarros ou a sair para realizar a troca para outro transporte. Ângela Silva tem 54 anos, está desempregada e viaja diariamente na linha da Pacense com origem em Penafiel: “Não estou nada satisfeita. É hoje a primeira vez que estou a experimentar sair aqui. Estava habituada a prolongar a viagem e agora vou ter de sair e trocar de transporte. Sinceramente acho que não vai dar jeito nenhum”, confessou.

Depois de sair dos respetivos autocarros, as pessoas dirigem-se para a estação de metro ou para uma das paragens da STCP. Rui Ferreira é um estudante de 22 anos, que vive em Paços de Ferreira e se desloca também habitualmente na Pacense: “antes demorava 45 minutos a chegar ao Bolhão. Agora demoro mais 15 ou 20, porque tenho de esperar por um dos autocarros da STCP, que nunca cumprem os horários”, comentou insatisfeito.

Isabel Barbosa, empregada doméstica de 55 anos, foi apanhada de surpresa: “Para começar, acho muito mal, porque hoje já vou entrar mais tarde. Sabia da mudança, mas não sabia que ia ser já. Isto é complicado, porque as pessoas não estão preparadas, as pessoas têm o passe da A.E. Martins que não funciona nos transportes públicos do Porto, por isso, têm de pagar outra senha”, afirmou.

A Gondomarense e a Valpi integram a rede Andante. Já a transportadora A.E. Martins não tem qualquer parceria nesse sentido. A Pacense tem passe próprio. Também é possível usar Andante, mas somente numa área limitada do percurso. Os passageiros que apenas possuem o passe da Pacense terão que adquirir um bilhete para prosseguirem até ao centro da cidade. Isto apesar da autarquia do Porto ter garantido que as alterações agora implementadas representariam custos adicionais apenas para “clientes eventuais“. 

Também os motoristas se sentem receosos com estas alterações. Em causa estão, fundamentalmente, a falta de condições no trabalho, a potencial perda de clientes – que dizem já se notar – e a perda de postos de trabalho, em reflexo da esperada diminuição nas receitas das empresas privadas de autocarros. 

Francisca Meireles, motorista da Gondomarense.

Francisco Meireles, de 64 anos, trabalha na Gondomarense. A sua opinião é de total discordância com as alterações efetuadas: “A carreira 33 estava no Campo 24 de Agosto e fomos mandados para aqui, sem mais nem menos. Esta carreira sempre foi até à Rua Sá da Bandeira, depois andamos de um lado para o outro até ficarmos no Campo 24 de Agosto”, disse ao JPN. “Aqui não há um único café ou casa de banho para ir. Temos o centro comercial em cima, mas não podemos abandonar a viatura para ir à procura de uma casa de banho”, completou descontente com a situação. Francisco Meireles, acrescentou ainda: “eu quero saber como vai ser quando houver jogo de futebol no dragão, como é que vai ser se os autocarros vierem todos para cá!”

Bruno Guimarães, motorista da Gondomarense.

Bruno Guimarães, de 37 anos, também da Gondomarense, mostra-se preocupado com o futuro da empresa: “É mau. Estamos a perder passageiros, temos noção disso. Pode colocar alguns postos de trabalho em risco. Estamos à espera para ver o que vai ficar decidido entre as empresas e a Área Metropolitana do Porto”. O motorista foca ainda uma outra perspetiva da questão: “e os passageiros de cadeira de rodas? Se já lhes custa deslocarem-se até as suas casas, então, imaginem terem de ir até uma estação de metro ou autocarro. Torna-se muito complicado”, afirma.

O que mudou

A Câmara Municipal do Porto anunciou, a 16 de janeiro, que as transportadoras privadas de transporte público que entravam na cidade pelo eixo de São Roque, teriam de ser transferidas para o novo terminal do Dragão por causa de várias obras que estão a decorrer na baixa da cidade.

A autarquia acabou por recuar em relação a três linhas da ETG: 55 (Baguim do Monte-Porto), 69 (Seixo-Porto)  e 70 (Ermesinde-Bolhão), transferidas temporariamente para o Campo 24 de Agosto, depois da Rua de Alexandre Braga, onde estas linhas terminavam, ter sido cortada ao trânsito por causa de obras relacionadas com a requalificação do Mercado do Bolhão. A estas junta-se a linha 27/29 (Boca da Foz do Sousa e Lixa), também da ETG, que está a usar parcialmente o Campo 24 de Agosto.

No Estádio do Dragão estão agora os autocarros 33 (Valongo) e 34 (Terronhas) da ETG, a linha 1 da  Valpi (Penafiel-Porto), as linhas 106 e 514 (Porto-Paços de Ferreira) da Pacense e, da A.E. Martins, a linha 5 (Porto-Modelos).

A autarquia portuense fez um “investimento de 200 mil euros” no novo terminal, onde colocou abrigos e nova sinalética. Por altura da apresentação do plano  sublinhou também a existência de um estacionamento Park & Ride com “capacidade para 840 automóveis” junto ao estádio do FC Porto que pode ser usado por quem se desloque até lá de carro.

Artigo editado por Filipa Silva