A prestigiada revista internacional de Andrologia,  a “Asian Journal of Andrology”, distinguiu o trabalho de Rute Pereira, estudante de doutoramento de biologia celular do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS) sobre infertilidade masculina.

O estudo de 2017 teve como base uma revisão da própria estudante que reuniu todo o conhecimento científico que até agora é conhecido sobre a infertilidade masculina. De acordo com a investigação, constatou-se que existe uma série de fatores associados ao desenvolvimento da doença que podem provocar alterações genéticas nas células do corpo.

Para além de causas ambientais como a poluição, alguns comportamentos de risco a nível social e cultural estão associados a uma maior probabilidade de os jovens desenvolverem infertilidade futura. O consumo de drogas recreativas (como cocaína, LSD, Marijuana), tabaco ou álcool assim como os acidentes rodoviários e a frequência de desportos radicais podem levar ao desenvolvimento da patologia.

Em declarações ao JPN, Mário Sousa, responsável por orientar a revisão científica premiada, garante ainda que “há outro problema com os desportos”, nomeadamente com “a ingestão de substâncias para aumentar a massa muscular ou o rendimento físico no desporto”, refere.

A investigadora Rute Pereira acrescenta que “o facto de, muitas vezes, os rapazes terem os computadores pousados no colo aumenta a temperatura” na zona genital, o que, por sua vez, pode constituir uma ameaça à fertilidade.

A promiscuidade sexual é, igualmente, um comportamento a ter em conta quando se fala em infertilidade masculina. De acordo com o investigador, os médicos recomendam o uso do preservativo e a abstinência sexual (até encontrar uma parceira para a vida), porque as infeções, hoje em dia, são “silenciosas” e provocam esterilidade, como por exemplo a obstrução das trompas de Falópio (no caso das raparigas) e a obstrução dos canais excretores (no caso dos rapazes).

Ainda assim, algumas causas podem ser genéticas como, por exemplo, anomalias congénitas morfológicas da parte genital ou oncológicas. Segundo o cientista, não há dados estatísticos sobre o aumento da infertilidade masculina em Portugal, mas, a nível europeu, são vários os países que possuem estudos comparativos sobre o incremento da patologia.

No futuro, a correção genética in vitro de problemas associados à motilidade dos espermatozóides (isto é, à sua capacidade de movimento), ou em outros problemas associados, pode ser o caminho a seguir. “Essa parte da correção poderá ser usada em indivíduos que se saiba que vão sofrer algum tipo de tratamento de cancro. Podem guardar-se as células, injetá-las e usá-las no próprio indivíduo”, acrescentou a investigadora Rute Pereira.

Para o médico e professor Mário Sousa, a prevenção deve começar cedo nos rapazes. “O que podemos prevenir antes da puberdade é a boa educação de desporto e [a] boa educação da alimentação. Estamos com muitos problemas de fertilidade, já em jovens na adolescência, porque são obesos”, salienta o investigador.

Artigo editado por César Castro