Pelo terceiro ano consecutivo, a União de Mulheres Alternativa e Resposta (UMAR) realizou um estudo nacional sobre violência no namoro, que envolveu 4.938 jovens de todos os distritos do país com idades compreendidas entre os 11 e os 20 anos.

O estudo consistiu na aplicação de um questionário, de questões fechadas e divididas pelas dimensões da legitimação da violência no namoro e da prevalência da vitimação nas relações de namoro. Os tipos de comportamento inquiridos dizem respeito ao controlo, à perseguição, à violência sexual, à violência física, violência nas redes sociais, violência psicológica e violência física.

Concluiu, inicialmente, que 70% dos jovens inquiridos afirmou já ter estado num relacionamento amoroso, de namoro ou ocasional. Ao nível da legitimação, que diz respeito à aceitação/normalização da violência, 67% do total dos jovens legitimam pelo menos um comportamento de violência entre os comportamentos questionados.

O tipo de violência mais legitimado é o controlo. Segundo Margarida Teixeira, investigadora e uma das autoras do estudo, “quando estamos a falar de controlo, falamos em controlar a peça de roupa, controlar com quem saem, como saem, onde estão”.

27% dos jovens inquiridos não reconhecem este comportamento como violência, sendo a violência física o tipo de comportamento menos legitimado (9% dos jovens legitimam este tipo de violência). Para a investigadora, “é a menos legitimada, mas também preocupante, porque é a violência mais falada, é a violência mais visível e mesmo assim 9% dos e das jovens ainda acham normal este tipo de comportamento”.

Violência no Namoro

Em relação aos dados recolhidos em 2018, a maioria dos valores de legitimação desceu. Destaca-se, no entanto, a violência física, que é este ano legitimada por mais um ponto percentual dos jovens.

No que à prevalência da vitimação nas relações de namoro diz respeito, os valores são também claros: 58% dos jovens inquiridos já foi vítima de pelo menos uma das formas de violência enunciadas no questionário.

Dentro dos diferentes tipos de violência, a que apresenta maior prevalência é a violência psicológica. 34% já foi vítima deste tipo de comportamentos, um crescimento considerável face ao ano anterior (em 2018, 18% dos inquiridos revelaram já ter experienciado este tipo de violência).

A totalidade dos valores relativos à vitimação subiu em 2019, o que, segundo a investigadora e também autora do estudo Cátia Pontedeira “poderá significar uma maior consciencialização sobre o que é a violência no namoro, e, portanto, os jovens reconhecem mais a violência no namoro e consequentemente sinalizam mais situações”. A investigadora acrescenta que estes valores poderão também indicar um efetivo aumento na violência dentro dos relacionamentos e que, portanto, a questão continua a merecer reflexão, preocupação e a continuidade do trabalho de prevenção.

A secretária de Estado para a Cidadania e Igualdade, Rosa Monteiro, esteve presente na apresentação do estudo e afirmou que a violência no namoro é “um problema que temos de combater e erradicar o mais cedo possível”.

A governante evidenciou também que as raízes deste problema estão relacionadas com comportamentos de legitimação e naturalização, bem como alguma erotização das atitudes de controlo e formas de violência.

“São formas de violência com graus de intensidade diversos, mas tende a uma escalada, portanto, se nós naturalizarmos e continuarmos a aceitar que também as nossas crianças, adolescentes, jovens os considerem como naturais de facto, nunca conseguiremos travar esta tendência”, acrescenta ainda.

Rosa Monteiro não deixou de referir os projetos de prevenção e sensibilização para estas temáticas que estão em desenvolvimento. “O nosso caminho e o caminho de toda a sociedade tem de ser no sentido de uma erradicação destas diversas formas de violência e uma mensagem muito clara que permita que as nossas crianças e adolescentes saibam distinguir o que é que são relações de namoro à séria”, conclui.

O estudo foi apresentado esta quarta feira na Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade do Porto e contou ainda com a presença da diretora da UMAR, Maria José Magalhães.