“Uma eventual paragem dos campeonatos” está a ser equacionada pelos clubes da Associação de Futebol do Porto (AF Porto), confirma ao JPN Manuel Gomes, presidente da Associação Desportiva de Grijó, na sequência da informação avançada esta sexta-feira pelo “Jornal de Notícias”. A medida está a ser equacionada devido à intenção manifestada pela PSP de não destacar agentes para jogos que não sejam considerados de alto risco.
Os clubes que pertencem à Associação de Futebol do Porto (AF Porto) reuniram em assembleia geral, esta quarta-feira, e mandataram a direção da associação para que se reúna com o comandante distrital da PSP do Porto, a Federação Portuguesa de Futebol e o ministro da Administração Interna para reverter a posição comunicada aos clubes pela autoridade policial.
Para o presidente da Associação Desportiva de Grijó, Manuel Gomes, a medida não “faz sentido absolutamente nenhum”. O presidente da equipa que milita na Divisão de Elite-Pro Nacional da Série 1 da AF Porto revelou ao JPN que os clubes estão a tomar as precauções necessárias para se protegerem e impedirem que existam jogos sem policiamento.
Manuel Gomes assumiu ainda que se revê “completamente do que foi deliberado em assembleia e no que já está a ser colocado em marcha pela direção da Associação de Futebol do Porto”.
O policiamento em todos os jogos organizados pela AF Porto é fundamental “pela defesa das crianças e dos jovens, pela defesa do desporto e pela defesa da ordem pública”, explica o presidente do Grijó. Manuel Gomes teme também que a medida contribua para alguns “desacatos da ordem pública”.
Renato Maia, é jogador do Maia Lidador e fala num clima tenso em alguns jogos já disputados, nomeadamente, com o Canelas, onde “existiram problemas entre adeptos”. Para o jovem defesa, a medida da PSP pode tornar os jogos “perigosos”. A segurança dos intervenientes de jogo é uma das preocupações de Renato. “Na bancada do nosso campo, não existe divisória entre os adeptos da equipa da casa e da equipa visitante, o que potencia sempre alguns conflitos”, diz.
No dia 27 de janeiro, no jogo entre o São Pedro da Cova e o Ermesinde, a PSP teve de intervir para evitar desacatos. Os adeptos do Ermesinde tentaram invadir o autocarro da equipa visitante. Renato Maia relembra o episódio para referir “a importância da polícia para evitar conflitos”.
A falta de efetivos por parte das forças de segurança é uma possibilidade levantada pelo presidente, que diz ser a única razão possível para a decisão da PSP. “Ou [a PSP] tem falta de efetivos e não quer meter efetivos ou então não encontro outra explicação. Financeira não pode ser”, explica.
Manuel Gomes afirma que o dinheiro que a PSP recebe pelo policiamento dos jogos vem, maioritariamente, “dos jogos da santa casa da misericórdia de Lisboa”. O líder da estrutura do Grijó refere ainda que “o estado não gasta nada com o policiamento de jogos amadores. O dinheiro não vem do Orçamento do Estado.”
As reuniões entre os diversos organismos responsáveis pela organização dos jogos não têm data marcada, mas os clubes estão unidos na luta pela defesa dos seus interesses. O presidente do Grijó não vê “nenhum sentido nessa medida[da PSP]” e afirma que se as várias entidades não “chegarem a um consenso, aí os clubes vão intervir com a paragem dos campeonatos e depois o Estado que resolva.”
A PSP notificou em janeiro os clubes da AF Porto, que apenas em determinados jogos, considerados de alto risco, existirá policiamento. A medida desta força de segurança abrange os escalões de formação, assim como o escalão sénior de várias equipas de futebol e entra em vigor no mês de março. A lei prevê que exista policiamento obrigatório em jogos de ligas profissionais. Nas ligas amadoras, apenas em jogos de risco elevado é necessário que as forças de segurança destaquem agentes.
Entre as épocas de 2016/2017 e 2017/2018, registou-se um aumento de 34% do número de detenções por crimes associados à violência no desporto, de acordo com os números recolhidos pelo “Jornal de Notícias”. Nas duas últimas temporadas a GNR e a PSP contabilizaram 5.878 incidentes em todas as competições de futebol.
O JPN tentou contactar o presidente da Associação Portuguesa de Árbitros de Futebol, o comandante distrital da PSP do Porto e o Ministério da Administração Interna, mas não obteve resposta até ao fecho do artigo.
Artigo editado por Filipa Silva