“O Sentido da Vida” demorou cinco anos a filmar e necessita agora de financiamento para a fase de pós-produção. Miguel Gonçalves Mendes, realizador do filme e autor do célebre documentário “José e Pilar” (2010), teve de recorrer à plataforma de financiamento coletivo Indiegogo para tentar angariar 350 mil euros para poder terminar o filme, com estreia prevista para julho de 2020.

O apoio do Instituto do Cinema e Audiovisual (ICA) ao documentário em 80 mil euros revelou-se insuficiente tendo em conta o custo total da obra (1 milhão e meio de euros) e, por isso, a equipa viu-se obrigada a procurar outras soluções de financiamento: “Não queríamos que isto fosse uma espécie de chulanço público para acabarmos o filme”, começa por explicar Miguel Gonçalves Mendes, em declarações ao JPN.

O realizador, que tem ainda prevista a adaptação do romance “O evangelho segundo Jesus Cristo”, de José Saramago, criticou a lei do mecenato em Portugal, que considera só existir no desporto.“Em Portugal, o mecenato não funciona. Temos grandes empresas a patrocinar o futebol, mas, no que toca à cultura, o mecenato é nulo. Às tantas, tenho que vender a minha casa. No “José e Pilar” também hipotequei a casa e fiquei com 100 mil euros de dívidas”, adianta.

O filme “O Sentido da Vida” conta a história de Giovanni Brisotto, um jovem brasileiro portador de paramiloidose familiar (vulgarmente conhecida por doença dos pezinhos), disseminada pelos portugueses na época das descobertas. “O protagonista principal funciona como uma espécie de cidadão comum. É um miúdo perdido, tem o peso da morte. Está à procura de um sentido para a vida dele”, afirma.

Paralelamente, o documentário acompanha várias figuras públicas que funcionam “como uma espécie de novos heróis do mundo moderno que admiramos, mas que, na prática, são tão frágeis como nós”. Entre elas, estão o escritor português Valter Hugo Mãe, o astronauta dinamarquês Andreas Mogensen, o juiz espanhol Baltazar Garzón, a artista plástica japonesa Mariko Mori, o compositor islandês Hilmar Örn Hilmarsson, o ator pornográfico Colby Keller e as, à data, candidatas à presidência do Brasil Marina Silva e Dilma Russeff.

Para o realizador, a escolha por um protagonista brasileiro (que, entretanto, morreu em pleno processo de filmagens em 2015) fazia todo o sentido: “Se tivesse escolhido um jovem português percorrendo a mesma rota que a doença há 500 anos, isto iria parecer uma coisa saudosista salazarena, de saudades do império. Sendo o Giovanni, é alguém que é de um outro país e tem uma doença que vem de antepassados dele que vieram de Portugal”, explica o realizador portuense.

A viagem existencial de Giovanni levou a equipa de rodagem às cidades de Lisboa, Pequim e Xangai passando pelo Nepal, Japão e Macau, onde há 500 anos os portugueses espalharam a paramiloidose familiar: uma doença hereditária, sem cura e com um prognóstico de alta mortalidade.

O fim do prazo de angariação coletivo termina esta segunda-feira e o realizador vai tentar também obter financiamento através de plataformas como a Netflix, onde pretende, posteriormente, vender uma série com o restante material que sobrar da versão comercial do filme de duas horas.

Artigo editado por César Castro